O Baghavad Gita diz que a caridade é própria dos pais de família. Que os pais de família devem subsistir por meio de métodos honestos e aplicar 50% de sua renda em propagar a consciência de Krsna por todo o mundo. Assim o pai de família deve fazer caridade a sociedades institucionais que desenvolvem esse tipo de atividade. A caridade deve ser dada a pessoa certa. Há diferentes tipos de caridade, no modo da bondade, paixão e ignorância. A caridade no modo da bondade é recomendada pelas escrituras, mas não se recomenda a caridade nos modos da paixão e da ignorância, que é um simples desperdício de dinheiro. Deve-se fazer a caridade apenas para propagar a consciência de Deus por todo o mundo. Esta caridade está no modo da bondade.
Essa lição do Baghavad Gita me traz um alívio à consciência, pois eu quero ser caridoso, mas resisto fortemente a dar uma moeda aquelas pessoas que ficam nos cruzamentos, geralmente oferecendo serviços de limpar para-brisas. Penso que a moeda por menor que seja, pode ser desviada para uso de drogas ou para alguém inescrupuloso que operaciona à distância os mais fracos numa forma de escravidão. Então, por mais que eu decida racionalmente que devo ser caridoso, não importando qual seja o destino que seja dado àquela moeda, algo mais forte me trava e não consigo fazer esse tipo de caridade. O Bhagavad Gita dá essa orientação que alivia a minha consciência, fico coerente com a ajuda que já presto às instituições. Devo ter preocupação sim, com essas pessoas dos semáforos, encontrar uma forma de ajudá-los sem estar ajudando aos seus vícios ou a pretensos exploradores. Uma instituição deve assumir essa responsabilidade e ver onde cabe a caridade no modo da bondade com essas pessoas.
Mas tudo ainda não é tão simples, a caridade mesmo no modo da bondade é um ato difícil, pois implica em tirar algo que é nosso para dar ao outro sem nenhum tipo de recompensa material, quando é feito no modo da bondade. É semelhante a aplicação do Amor Incondicional. No exato momento que estava digitando este texto, recebo uma ligação da ex-mulher do meu primo, que sempre procura minha ajuda quando se acha necessitada. Ela mesma realça a minha bondade em tanto lhe ajudar sem eu ter com ela nenhum parentesco, não esperar dela nenhuma recompensa material pela ajuda. De início sobe à consciência certa resistência e tendência em cortar esse tipo de ajuda que algumas pessoas consideram como exploração. Mas está registrada em minha consciência uma ajuda valiosa que o seu ex-marido, meu primo, fez para mim, conseguindo me matricular numa escola pública para que eu terminasse o segundo grau e me habilitasse para a Universidade. Nem o meu próprio irmão fez qualquer gesto mais eficaz para me ajudar. Foi somente ele que fez de tudo para me ajudar, como era o seu jeito com todas as pessoas. Mas comigo ficou gravado no mármore da minha memória esse benefício e que até hoje não se apaga. Ele morreu precocemente devido o alcoolismo, mas o efeito de sua boa ação continua reverberando em meu coração. Qualquer parente seu ou pessoa amiga que o ajudou enquanto vivo, eu tenho uma consideração especial e a caridade não se deixa intimidar pelo possível mau uso que possa ser feita com minha ajuda. Considero ainda que esteja atuando no modo da bondade.