O objetivo do perdão é a reconciliação. Embora nem todos os relacionamentos rompidos possam ser consertados, pois parentes, amigos ou terceiros agredidos devem ser protegido de seus abusadores, o perdão deve visar a reconciliação entre transgressor e vítima.
A reconciliação exige o arrependimento do transgressor, que peça o perdão e, se possível restitua as perdas. A vítima deve liberar o transgressor da necessidade de pagar por seu pecado. Ela escolhe arcar com o prejuízo e, ao invés de planejar vingança, se compromete a amar e procurar o melhor para essa pessoa.
Esse é o padrão conceitual do perdão e a forma de sua realização. Esse padrão implica numa transgressão de normas de relacionamentos e as perdas subsequentes, gerando a situação de transgressor e vítima, de perdas e danos.
Quando eu analiso a minha forma de relacionamento afetivo, que tem padrões muito diferentes dos padrões culturais, vejo que posso causar muito sofrimento a quem se aproxima de mim. Posso causar danos emocionais e perdas de tempo daquela que ficou comigo esperando realizar os seus sonhos. Até mesmo ausência de cuidados presenciais em filhos gerados. Sinto a culpa jogada sobre mim das diversas companheiras com as quais me relacionei e continuo a me relacionar. Agora acontece um dado interessante: para todas que me relacionei (com exceção da minha primeira esposa com a qual não pensava assim no início de nosso relacionamento) sempre falei da minha forma de pensar, sentir e me relacionar. Jamais prometi para nenhuma delas um padrão de amor exclusivo, baseado no romantismo, que é o que elas mais desejam. Quem decide aprofundar o relacionamento até o nível da intimidade sexual, sabe que esse aprofundamento não é uma promessa de mudança na minha forma de pensar, pois se assim fosse colocado de forma explícita, o sexo não se realizaria da minha parte. Se a minha companheira tem um desejo constante e uma esperança secreta de que eu venha mudar o comportamento é uma questão somente dela e que não chegou a compartilhar comigo.
A minha base comportamental e que faço questão de deixar bem explícita, é que pratico o Amor Incondicional alicerçado no amor inclusivo. Não deixo ninguém ficar excluída dos meus afetos, por qualquer tipo de preconceito ou moral pré-estabelecida. Entendo que foi Deus que me deu essa missão na consciência e nenhum outro fator material ou espiritual poderá me desviar dela. Então, quando acontece da pessoa se sentir decepcionada por eu estar cumprindo o que sempre disse que faria, eu fico enquadrado numa transgressão? Não seria o contrário? A pessoa sabe como funciono e mesmo assim se aprofunda numa relação comigo, não é ela a transgressora quando reage negativamente por eu fazer justamente aquilo que ela sabia que eu poderia fazer? Nesse caso sou eu quem estaria sofrendo danos emocionais com o sofrimento gerado e perda de tempo, pois poderia estar com outra pessoa mais coerente com os combinados. Nesse caso eu é quem seria a vítima e quem estaria na condição de perdoar.
Mas as coisas se invertem. Sou considerado o vilão da história pela companheira e por todos que não conhecem os fundamentos da nossa relação. Sou eu que numa atitude de humildade chego a pedir perdão para viabilizar uma reconciliação e uma volta a harmonia do relacionamento, mesmo que não haja mais a possibilidade de uma convivência. Mas acredito que o perdão exija essas discrepâncias na tolerância e a humildade nos permita tomar a cruz que deveria ser de outros.