Ontem ao chegar para a reunião espiritual na Casa de Caridade, recebi um panfleto com uma mensagem de Bezerra de Menezes que foi uma verdadeira convocação para mim.
Ele dizia que estamos convocados pelos Espíritos nobres para ser os lábios pelos quais a palavra de Jesus chegue aos corações empedernidos.
Lembro que eu procuro sempre fazer uma leitura evangélica quando estou em reunião com parentes e amigos, prefiro justamente contar as histórias que Jesus dizia quando estava entre nós. Porém cometo faltas graves, às vezes levo o livro para esses encontros com parentes e amigos, ai me envolvo com as brincadeiras e termino por esquecer de ser os lábios pelos quais as palavras de Jesus possam novamente ser ouvidas como dantes.
Estamos sendo convocados para sermos os braços do Mestre, que afaguem, que se alonguem na direção dos mais aflitos, dos combalidos, dos enfraquecidos na luta.
Neste aspecto eu estou ainda muito fraco, a minha preocupação maior ainda reside na academia e nas diversas formas de trabalho que me envolvo. Percebo a grande necessidade de meus irmãos, mergulhados na miséria, nas drogas, na prostituição e eu não consigo alongar meus braços em suas direções, acudir os aflitos, os combalidos, os enfraquecidos na luta... Pelo menos dei algum sinal de minhas intenções, já parei perto das minhas irmãs que vendem seus corpos nas avenidas da praia e procurei ser solidário com o mínimo que podia fazer.
Bezerra diz que estamos colocados na postura do bom samaritano, a fim de podermos ser aquele que socorra o caído na estrada de Jericó da atualidade.
Pois bem, a minha estrada de Jericó é a avenida próxima da minha casa onde tantas garotas decaídas na prostituição vendem seus corpos, cheias de ignorância dos valores da vida, cheias de fome, tanto do alimento para a nutrição do corpo quanto do alimento para a nutrição da alma. Eu passo por essa estrada “cheio” de moedas no bolso e conhecimentos na mente, e ainda passo a distância como um completo estranho. Eu sei que não sou mais estranho para elas, mesmo que elas ainda pensem assim; eu sei que elas são minhas irmãs que estão sentadas à beira do caminho como aquele viajante que estava desfalecido na estrada de Jericó.
Bezerra é contundente em sua convocação: em qualquer circunstância se interrogue – em meu lugar que faria Jesus? E faça conforme o amoroso companheiro dos que não tem companheiros faria!
Então eu faço isso. Fico a imaginar, se fosse Jesus que viesse dirigindo para o seu apartamento e visse aquelas garotas com os seus corpos expostos no frio da noite, em busca de uma migalha do bolso de alguém em troca do prazer que o seu corpo pode proporcionar... que faria Jesus? Passaria indiferente como eu passo? Teria medo de se contaminar de alguma forma só de falar com essas garotas? Não, Jesus não faria assim. Jesus faria exatamente como fez o bom samaritano na parábola que ele contou. Chegava perto e tentava cuidar de suas feridas, do corpo e principalmente da alma. Mesmo que não pudesse fazer isso com todas, mas para aquela que ele fizesse, a essa serviria como uma lâmpada acesa de solidariedade, como um farol de sinalização de que o Reino de Deus está vivo dentro dos nossos corações... Basta saber externá-lo!