Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
20/09/2013 00h01
IRMÃS CONSCIENCIAIS

            Tenho irmãs biológicas e disso ninguém tem dúvidas. Tenho irmãs espirituais e disso não tenho dúvidas. As irmãs espirituais são filhas do mesmo Pai, o Criador do Universo e de nós também. São irmãs que colocadas de forma genérica estão espalhadas por todo o planeta. Não preciso focar minha atenção nelas, o Pai as aproxima de mim para que eu desenvolva o Amor Incondicional, mesmo que exista a formação do amor romântico entre nós, que pode implicar no prazer dos sentidos corporais para nós, ambos. Agora, tenho também irmãs conscienciais que ficam numa posição intermediária entre as biológicas e as espirituais. Que tipos de irmãs são essas? Tenho que explicar melhor.

            No campo material temos as irmãs biológicas e as irmãs adotivas, quando nossos pais resolvem adotar outros filhos. As irmãs conscienciais eu as classifico numa situação intermediária entre as irmãs adotivas e irmãs espirituais. São aquelas pessoas que dividiram comigo uma parte de suas vidas como as irmãs adotivas, mas que as considero especiais de acordo com as suas características, dentro de todas as demais mulheres criadas pelo Pai. Com elas não existe a possibilidade do desenvolvimento do amor romântico no primeiro momento, como acontece com as irmãs espirituais. São aquelas mulheres que a minha consciência acusa como diferenciadas e colocadas em prioridade no afeto e na solidariedade comparadas a todas as demais irmãs espirituais. Aonde quero chegar?

            Fui criado por minha avó desde os cinco até os dezoito anos de idade. A minha avó gerenciava uma boate onde era dona e hospedava e recebia mulheres que trabalhavam com seus corpos como prostitutas. Mesmo eu já sendo adolescente e cheio de hormônios e desejos carnais, a minha avó impedia o meu relacionamento sexual com essas mulheres, até mesmo desviava a minha atenção do real propósito do trabalho delas. Dizia que elas entravam nos apartamentos juntos com os homens para que elas lavassem os pés deles, uma vez que depois de saírem sempre elas jogavam uma bacia de água suja fora. Eu não tinha a curiosidade ou malícia de observar a veracidade dessa informação. O fato é que desse trabalho delas surgia o lucro financeiro que minha avó obtinha para custear os meus estudos e a nossa sobrevivência. Mesmo que eu também trabalhasse de diversas formas, vendendo bebidas e cigarros dentro da boate, ou num carrinho de confeitos em frente a cinemas e locais festivos, ou mesmo carregando galões de água nos ombros para abastecer as casas que solicitavam o meu trabalho, já que não tínhamos água encanada, o foco de nosso rendimento financeiro era o trabalho dessas mulheres.

            Assim eu tive oportunidade de ser matriculado nas melhores escolas da cidadezinha que eu morava. Fui matriculado em grupos de escoteiros, ajudava o padre na realização da missa, na condução das procissões. Tinha dinheiro para comprar gibis, revistas em quadrinhos e me identificar com os heróis românticos como Zorro, Tarzan, Batman, Durango Kid, entre outros; era um mundo diferente daquele em que eu morava com minha avó, que era cheio de lascívia e violência. Aonde muitas vezes eu chegava e via dois homens em movimentos coreografados jogando facas um contra o outro para resolver uma disputa; ou mesmo outra pessoa que jogado numa calçada ou na areia da rua, esfaqueado ou baleado, arquejava esperando o último suspiro, com uma pequena vela próxima da sua cabeça e da presença de diversos curiosos ao seu redor. Esse ambiente era tão perigoso no contexto da cidade que recebeu o apelido de “Mata-sete”.

            Assim, as prostitutas passaram a ser consideradas por minha consciência como minhas irmãs adotivas do passado, pois eu convivia muito tempo com elas. E hoje ao encontrá-las com tanta frequência ao retornar para casa, vem à minha lembrança esse passado. As mulheres que se prostituem nas calçadas por onde passo são minhas irmãs espirituais, mas a consciência diz que são irmãs um pouco mais especiais. Daí eu dizer que são minhas irmãs conscienciais. Do jeito que a maioria das mulheres não tem a percepção de que somos irmãos espirituais, acredito que nenhuma das prostitutas tenha essa percepção de que sou o irmão consciencial delas. Sei que chegará um dia que eu deverei explicar isso para elas, pois a minha consciência cobra do meu sentimento de justiça que eu faça algo de bom para elas como no passado elas fizeram algo de bom para mim. E com certeza elas irão ter curiosidade de saber por que são alvos de tanta bondade se eu não tenho a intenção de obter o prazer carnal que elas comercializam. Como sou um defensor também da verdade, terei de dizer toda essa justificação que acabei de citar acima.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 20/09/2013 às 00h01
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