Este texto de hoje não tem nada a ver com os livros que estou constantemente lendo e tentando aproveitar as lições. Tem a ver com uma observação casual que fiz sobre o machucado do meu dedo polegar direito. Por um momento de desatenção deixei ele na porta do carro e ao fechar machuquei na raiz da unha. A dor foi forte e pensava até que a unha fosse cair. Mas ela se recuperou, apesar de mostrar uma mancha escura que se deslocou ao longo do tempo e hoje está prestes a desaparecer com o contínuo aparar. Então, vendo essa evolução tão natural de células que consideramos não ter uma consciência, fiz uma relação intuitiva com o mecanismo do perdão.
Todos sabemos que o perdão é uma ação importante no nosso processo evolutivo, e que está intimamente associada à nossa capacidade de amar incondicionalmente. Muitos consideram uma ação muito difícil, outros, impossível. Mas Jesus já ensinava que não podemos deixar de perdoar a quem nos tem ofendido, para sermos dignos do mesmo perdão, já que nós, como espíritos imperfeitos, ainda estamos cometendo erros constantes com o próximo. Dizem que o mal que é feito a nós jamais pode ser esquecido. Isso é verdade, eu até pensava assim, mas a minha unha me deu outra percepção. Tem injúria que pode ser esquecida sim! Do ponto de vista dos ressentimentos. A minha unha está mostrando que logo mais estará saudável e perfeita como antes, sem nenhuma marca da injúria sofrida. Precisou apenas do tempo e de que o fato não mais se repetisse.
Então eu fiquei a imaginar... Realmente existem injúrias que consigo perdoar e que não fica nenhuma marca na minha memória. Lembro-me das pessoas que por seus diversos motivos me maltrataram e falaram mal de mim. No meu modo de entender eu sou inocente e, portanto, vítima de injúria por quem tem um interesse diverso do meu e não quer considerar outras razões. Poderia procurar uma forma de vingança e aplicar o mesmo tipo de injúria, talvez pior. Mas o Mestre ensina a perdoar e é isso que faço. No começo é mais difícil, mas basta seguir as lições de Jesus, principalmente amar ao próximo como a nós mesmo. Esta é a lição básica para a aplicação do perdão. Se eu vejo o outro como um reflexo de mim, que eu devo o amar como eu amo a mim, então eu devo perdoar o erro que ele está cometendo considerando as razões que ele apresenta. Ao fazer assim, a mancha dessa injúria que sofri vai ao longo do tempo se afastando do campo de minha consciência, até se apagar. Não é que eu esqueça os fatos, isso sempre vai existir, pois é uma função da memória. Mas isso não traz de volta nenhum sentimento, ressentimento... é algo neutro.
Esta é a lição da unha. Com o perdão a minha mente deixou de apresentar a mancha do ressentimento, a minha memória está limpa. Está capaz de se relacionar com essa pessoa sem sentir o mínimo de necessidade de lembrar do que ocorreu, da injúria que sofreu. Mesmo que a pessoa, por ignorância, volte a injuriar. O machucado novamente vai se fazer sentir e outra mancha irá surgir. Mas a capacidade de perdoar outra vez vai fazer efeito no sentido de dissipar a mancha ao longo do tempo. Mas se a pessoa continuar na ignorância e voltar a ferir, a injuriar... qual será o limite? Jesus já o disse: 70 x 7. Aí vem a pergunta: Será que eu suportarei tanta injúria? E qual o sentido disso? A resposta é de uma beleza exemplar!
Quando Deus nos colocou no mundo foi com o objetivo de crescermos com o nosso livre arbítrio em direção a ele, em inteligência, sabedoria e principalmente AMOR! Como ele é o Pai de todos, a todos como filhos deseja o sucesso. Acontece que tem filhos que por um motivo ou outro desviaram do caminho, esqueceram do amor e entraram na trilha do egoísmo, dos prazeres e interesses individuais, esqueceram que até possuem um Pai além do biológico. E o Pai não quer que nenhum dos seus filhos se perca. Jesus já dizia que devemos deixar todas as ovelhas no redil e ir à busca da ovelha perdida, quem quer que ela seja, onde quer que ela esteja. Pois bem, esta pessoa que nos injuria, que não tem capacidade de perdoar e consequentemente é muito falha no amor, á a nossa ovelha perdida, tão querida do Pai. A injúria que ela nos faz é a prova inconteste de sua ignorância da Lei do Pai e talvez ela não saiba nem da existência dEle. Mas ela tem dentro de si a semente divina, como todos nós a ganhamos quando fomos criados. E o Pai deseja que quem tem mais dê a quem tem menos. Se eu me considero com muito amor no coração e que recebo mais amor a cada momento diretamente de Deus, é esse amor que devo também distribuir ao meu redor. É esse exemplo de amorosidade através do perdão repetido que vai quebrar as resistências da ovelha perdida e ela encontrar novamente o caminho do redil. Portanto, Jesus foi modesto quando limitou a quantidade de perdão em 70 x 7, pois o Pai deseja que apliquemos o perdão até o momento da recuperação de sua ovelha perdida e isso eu não sei quanto tempo vai durar.
É preciso alcançar o desejo do Pai sem nos contaminar com os nossos próprios desejos, senão o perdão não conseguirá ser aplicado. Para aplicar o perdão é necessário afastar o ciúme que deseja exclusividade no ato de amar; é necessário afastar a ganância que deseja acumular bens materiais; é necessário servir quando desejamos ser servidos.