Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
06/10/2013 00h01
LIMITES DA VERDADE

            O uso da verdade em todas as situações parece ser uma utopia. Reconheço que a verdade é soberana nas relações, não deve ser escamoteada, de um ponto de vista teórico. Do ponto de vista prático sou testemunha e vítima das reações que surgem com o descobrimento da verdade feita por mim mesmo e que vai de encontro aos interesses do meu interlocutor. Ele jamais pensa: “que pessoa honesta, mesmo sabendo que essa verdade vai me desagradar, mesmo assim ele me conta”. Algumas pessoas, uma das minhas companheiras, por exemplo, já chegou a falar especificamente que não queria saber das minhas namoradas, sabendo ela da minha disposição de manter um relacionamento aberto, sem exclusividade no amor, por quem quer que seja, sem preconceitos, obedecendo apenas aos limites do amor incondicional sob a regra de ouro de não fazer a ninguém o que não quero que façam a mim.

            Então, com um pedido explicito dessa forma, para que a verdade não fosse revelada para não trazer sofrimento para o outro, deduzi que existe momentos em que essa verdade não pode ser revelada, independente de a pessoa pedir ou não. Cabe a mim fazer a devida avaliação, para que essa omissão da verdade não constitua um mal para a pessoa, um mal que eu não queira para mim.

            A sabedoria da Fé Bahá’í vem em meu auxílio quando diz o seguinte: “Nem tudo que um homem sabe pode ser revelado, nem tudo o que ele pode revelar deve ser considerado oportuno, e não se pode julgar adaptáveis à capacidade dos ouvintes todos os dizeres oportunos. Tal é a consumada sabedoria a ser observada em tuas atividades. Disso não te esqueças, se desejas ser homem de ação sob todas as condições. Primeiro, faze o diagnóstico da moléstia, identifica o mal e então prescreve o remédio, pois esse é o método perfeito do médico hábil.”

            Com essa compreensão eu faço um retrospecto do meu comportamento, da minha intenção de ser verdadeiro em todas as ocasiões e com qualquer pessoa. Lembro do sofrimento que causei, das reações indignadas que patrocinei por ser verdadeiro. Não fiz um diagnóstico correto da situação, eu pensava que a verdade era uma pérola que não merecia ser escondida de ninguém. Não considerava que tem pessoas com uma forma de pensar muito diferente e que a minha verdade passa a ser uma agressão para elas. Tenho que corrigir agora os meus pensamentos a esse respeito. Tenho que caminhar num fio de navalha consciencial. A verdade não pode ser omitida para não prejudicar a ninguém, também não pode ser revelada se a capacidade do ouvinte ainda não é oportuna. Tenho que ser honesto nessa avaliação, para que mesmo a pessoa descobrindo no futuro que eu omiti a verdade para ela, venha reconhecer que eu fiz o certo agindo assim, pois ela não estava preparada para receber essa verdade.

            Surge então outro fator de grande importância: a confiança. Qualquer relacionamento que eu implementar, os parceiros devem desenvolver total confiança na minha integridade moral, até o ponto de considerar que se eu omito alguma verdade deles é porque serve ao seu próprio bem, e não ao meu exclusivamente.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 06/10/2013 às 00h01
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