Estou concentrado agora na luta contra a Gula. Pode parecer uma questão de menor importância, mas a Gula é por mim reconhecida como um dos meus principais adversários íntimos, que eu me sinto subjugado por sua força, mas que sei da responsabilidade do espírito sobre o corpo de onde surge a sua força. Sei que ela obedece aos desejos do corpo que tem por finalidade garantir a sobrevivência, mas como ela não é inteligente, não consegue perceber que o exagero que ela procura e termina por realizar é contraproducente, que termina por atrair doenças e consequentemente acabar com a vida que ela queria preservar. Quem tem essa consciência é o espírito e cabe a ele domar essa força bruta da Gula. Por isso acho importante me colocar agora no centro desse confronto, não importando qual seja o cenário que a vida ofereça no cotidiano. Devo estabelecer estratégias e procurar cumpri-las, observando os erros cometidos nas derrotas anteriores e procurando evitá-los.
Ontem eu tinha previsto uma vitória, com a firme determinação de praticar o jejum em qualquer que fosse a circunstância. Comecei o dia bem, na reunião do departamento evitei o tradicional bolo que sempre eu aproveitava com satisfação. Assim que terminou a reunião meu espírito comandou o corpo para longe da mesa onde estavam os alimentos e procurei me envolver em outras tarefas. Passou o horário do almoço, a Gula não se manifestou, ela sabia que como eu não tenho costume de almoçar, não iria ser derrotado nesse round do tempo. Mas tudo aconteceu com a aproximação da hora do jantar, onde costumo ir à padaria e comer à vontade. Aceitei logo o boicote que poderia passar por lá e tomar apenas um copo de suco de laranja. Não era nada demais, não estaria rompendo o projeto do jejum no dia, isso já era uma estratégia da Gula. Parece que a contra-argumentação do espírito, de que eu tinha determinado que tomaria apenas água, não valia. No campo mental estava agora a determinação de que eu tomaria o suco. De quem era essa determinação de tomar o suco? Do corpo através da Gula! O espírito terminou por aceitar os seus argumentos de que isso não iria comprometer o jejum. Uma falsidade, reconheço agora, mas naquele momento não vinha com tanta força essa compreensão. É como se o corpo boicotasse a entrada na mente dos argumentos do espírito e ficasse no domínio quase completo dos pensamentos. Até aí eu poderia considerar uma derrota parcial. Mas a derrota total, um verdadeiro nocaute, veio logo em seguida.
Recebi a notícia que a minha ex-primeira-esposa que sempre nos acompanha nas reuniões da noite e que participa conosco do jantar na padaria, estava impossibilitada de vir devido estar sendo obrigada pela fraternidade e compaixão a fazer companhia ao seu irmão doente, já que os seus vários outros irmãos se recusam a ajudá-la no compartilhamento dessa tarefa. Logo despertou em mim o sentimento da fraternidade para com ela, o sentimento de que ela faz parte da minha família ampliada dentro das perspectivas da construção do Reino de Deus, como é a minha principal missão nesta Terra. Pensei logo que podia comprar os alimentos e ir até a casa dela para jantarmos juntos, existia tempo para isso. Recebi o apoio da minha companheira que ia comigo para a reunião, e como ela sabia do meu controle alimentar, procurou me advertir para manter esse controle que eu queria. Tarde demais! A Gula aproveitou o sentimento de fraternidade que autorizou a compra dos alimentos e logo colocou o argumento de que não seria nada delicado ir jantar solidariamente com uma pessoa fazendo um controle alimentar que poderia trazer constrangimento ao invés de alegria. O espírito foi à lona com esse argumento e passei a comprar tudo em demasia, que com certeza não teríamos condições de comer tudo. Cheguei dessa forma, carregado de comida e com a Gula em pleno vigor, dominando todas minhas ações. Comi o máximo que pude como no dia anterior. Mais uma derrota! Por nocaute!
Agora, fazendo a reflexão do acontecido e comparando com a leitura que faço diariamente, observei uma coisa de grande importância. Eu estava com a impressão de que estava nesta luta sozinho, que a maioria das pessoas que estão ao meu redor, sem querer, termina por estimular a Gula quando dizem que eu devia comer alguma coisa para não ficar no jejum. Não sabem que qualquer alimento que eu colocar na boca é como se eu tivesse dando um pote de vitaminas à Gula para ela com toda força exigir mais, e mais, e mais! Mas eu tenho ao meu lado o Mestre Jesus e disso eu estava esquecendo. Eu não o colocava comigo dentro dessa luta. Foi quando li um texto do livreto PÃO DIÁRIO onde é colocado assim:
“Jesus também usou uma planta para ensinar os seus discípulos. Ele descreveu os discípulos como ramos ligados a Ele mesmo – a videira. Um ramo consegue dar frutos sozinho? Não. É preciso extrair nutrientes e água da videira. Jesus quis dizer que o segredo para gerar frutos não estava na força ou em nossa determinação, mas em estar unido à fonte da vida. Ele dizia que, se vocês ficarem unidos comigo, e as minhas palavras continuarem em vocês, receberão tudo o que pedirem. Quando orardes extrairás de Deus os recursos necessários para produzir frutos. A natureza gloriosa do meu Pai se revela quando vocês produzem muitos frutos e assim mostram que são meus discípulos. Você quer ser forte e cheio de beleza espiritual? Permaneça em Jesus e siga suas palavras, dependa dele como uma forma de ser um caminho seguro em direção ao Pai. O Pai com certeza responderá aos clamores do filho, que está produzindo frutos através do Seu poder.”
Essa leitura serviu como se um treinador chegasse perto de mim nesse ringue da vida e desse as orientações necessárias para eu voltar ao confronto. Interessante que eu já tinha essa leitura, inclusive no O LIVRO DOS ESPIRITOS existe a figura do ramo da parreira e a explicação do que significa. Mas foi preciso o meu instrutor espiritual vir até mim nesse momento de derrotas para me orientar na luta, lembrar da lição.
Sei agora o significado do nocaute como o que ocorreu comigo ontem, quando não tenho nenhum controle e me alimento de forma exagerada. Quando eu consigo a abstenção total de alimentos, o jejum total, é um nocaute que eu aplico na Gula. Mas a luta deve se desenvolver sem a procura principal do nocaute. Pode existir a vitória pela contagem de pontos, quando eu me alimento de forma limitada, controlada. Agora com a compreensão de que sou um simples ramo da parreira que está ligada ao Cristo e dessa forma tenho ao meu alcance todos os recursos que o Pai pode me oferecer através da prece, fico mais fortalecido. Posso alcançar a produção do fruto que eu quero agora, deixar meu corpo saudável sem o excesso de peso, mais competente para cumprir a vontade do Pai. Perdi as duas batalhas anteriores por nocaute. Verei se consigo vencer esta de hoje pela contagem de pontos.