Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
22/10/2013 01h01
CATARATAS DE ÁGUAS E LÁGRIMAS

            Fui visitar as cataratas do Iguaçú... Estava um pouquinho mais espiritualizado do que no dia que fui para as compras no Paraguai. Estava em frente a uma das grandes forças da natureza, a terceira maravilha natural do mundo, eleita numa campanha popular pela internet que durou até o fim do ano de 2011 quando foi atingido o número de 1 bilhão de votos. É formada por um conjunto de cerca de 275 quedas de água no Rio Iguaçu (na Bacia hidrográfica do Rio Paraná), localizada entre o Parque Nacional do Iguaçu, Paraná, no Brasil (20%), e o Parque Nacional Iguazú, Misiones, na Argentina (80%), fronteira entre os dois países. A área total de ambos os parques nacionais, correspondem a 250 mil hectares de floresta subtropical e é considerada Patrimônio Natural da Humanidade.

            Seu nome vem das palavras Tupi ou Guarani: y (água) + ûasú wa’su (grande). Conta a lenda tupi-guarani onde tenta explicar o surgimento das Cataratas do Iguaçú, que há muitos anos o Rio Iguaçu corria livre, sem corredeiras e sem cataratas. Em suas margens habitavam os índios caingangues que acreditavam que o grande pajé M’Boy era o deus-serpente, filho de Tupã. Ignobi, cacique da tribo, tinha uma filha chamada Naipi, que iria ser consagrada ao culto do deus M’Boy, divindade em forma de grande serpente. Tarobá, jovem guerreiro da tribo se enamora de Naipi e no dia da consagração da jovem, fogem para o rio que os chama: “Tarobá, Naipi, vem comigo!” Ambos desceram o rio numa canoa. M’Boy, furioso com os fugitivos, na forma da grande serpente, penetrou na terra e retorceu-se, provocou desmoronamentos que foram caindo sobre o rio, formando o abismo das cataratas. No desespero da morte que chegava, os amantes fazem um último apelo ao Deus Tupã, que salve suas vidas, pois faziam tudo isso por amor. Tupã compadecido do trágico amor romântico dos jovens índios, num relâmpago do amor divino, fez o milagre no momento em que envolvidos pelas águas os amantes caíam de grande altura. Tarobá transformou-se numa palmeira à beira do abismo, e Naipi em uma pedra junto da grande cachoeira, constantemente açoitada pela força das águas. Vigiados por M’Boy, o deus-serpente, os amantes permanecem ali, Tarobá condenado a contemplar eternamente sua amada sem poder tocá-la, com suas lágrimas quentes a reduzir a dor do chicote das águas frias.

            Fiquei ao lado de Naipi, uma grande pedra escura açoitada constantemente pela força das águas. Fiquei admirado, pois a sabedoria popular diz que “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, mas aquela pedra não mostra nem um sinal de que foi ou será furada pela força das águas. Ali existe o mistério dos deuses e humanos, o mistério do amor incondicional e o amor romântico. Não deixei de também soltar minhas lágrimas em solidariedade a Tarobá. Fiquei pensando... Eu também, Tarobá, como você, eu observo o sofrimento das minhas amadas, onde nunca podem estar todas ao meu lado, e a serpente do egoísmo usa o chicote da distância, do ciúme e do exclusivismo para açoitar sem piedade a alma de cada uma.

            Mas, apesar de tudo isso, vi através das cortinas de águas e de lágrimas, uma réstia de esperança. Junto de Naipi eu vi as corujas, mensageiras de Atenas, deusa da sabedoria, e permitidas por Zeus, o pai de todos os deuses da mitologia grega. As corujas enfrentavam com coragem a queda das cataratas e voavam da pedra (Naipi) para a palmeira (Tarobá). Levavam para os amantes conselhos de sabedoria, como se fossem intérpretes de um e de outro, já que eles não podiam se falar, devido a grande serpente (M’Boy) estar vigiando. Mas essa condição de aprendizado divino é permitida por Deus, levar sabedoria à dureza da pedra e à incapacidade da palmeira, para que ambos consigam superar a força do egoísmo, da serpente que os açoita e vigia até alcançar o amor incondicional que tudo entende, compreende e liberta!

Publicado por Sióstio de Lapa
em 22/10/2013 às 01h01
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