O verso seguinte do Bhagavad Gita, o 16 do capítulo 17, completa a lição do dia anterior: E satisfação, simplicidade, gravidade, autocontrole e purificação da existência são as austeridade da mente.
Tornar a mente austera é afastá-la do gozo dos sentidos. Ela deve aprender a sempre ficar pensando em fazer o bem aos outros. O melhor treinamento que a mente pode receber é pensar com seriedade. Ninguém deve desviar-se da consciência de Deus e todos devem sempre evitar o gozo dos sentidos.
Ao meu ver, se queremos construir o Reino de Deus dentro da natureza da nossa humanidade, temos que readequar essa lição. Devemos reconhecer que Deus nos deu o gozo dos sentidos com um objetivo divino: a perpetuação e reprodução da vida! Então, o prazer de se alimentar e fazer sexo, é uma recompensa divina a esses dois propósitos, respectivamente. Acredito que o escriba dessa palavra de Deus não tenha conseguido alcançar a Sua completa vontade nesse ponto, pois isso seria negar mecanismos importantes da própria criação do Pai. O que devemos ter cuidado é de não procurar esse gozo dos sentidos de forma exagerada, que implique no prejuízo do nosso corpo, do corpo do próximo e dos nossos espíritos. Por exemplo, o gozo da alimentação não deve nos levar a comer em demasia provocando em nós a obesidade e no próximo a desnutrição; outro exemplo, o gozo do sexo, não nos deve levar ao sentido da posse, do ciúme, do exclusivismo, gerando ao redor a miséria dos excluídos. Assim, a minha conclusão é que devemos aproveitar o gozo dos sentidos quando fazemos o que Deus permite e orienta para a nossa preservação e reprodução, com limitação, prudência e respeito ao próximo.
Quanto mais pensamos no prazer dos sentidos, mais insatisfeita fica a mente. Na era atual oferecemos à mente muitos processos supérfluos de gozo dos sentidos, e assim não há possibilidade da mente ficar satisfeita. O melhor procedimento é direcionar a mente para a literatura divina. É possível aproveitar-se desse conhecimento e então purificar-se.
Com o devido reparo feito antes, essa explicação do significado é perfeita. Se ficarmos focados no prazer dos sentidos, com exclusividade, o prazer pelo prazer, a mente sempre irá a procura de mais e mais prazer, num processo de dependência. Daí a natureza humana passa a criar, na forma de cultura, uma diversidade de processos supérfluos tanto na alimentação quanto no sexo e outras derivações (danças, jogos, drogas, etc) de menor importância, para alimentar essa procura incessante pelo prazer. Para fugir dessa armadilha, devemos direcionar a mente para a literatura divina, como esta que alimenta este texto, e dessa forma, com a aquisição desse conhecimento podemos nos purificar.
A mente não deve ter duplicidade, e deve-se pensar no bem estar de todos. Silêncio quer dizer que se vive pensando na auto-realização. Neste sentido, quem é consciente de Deus de Deus observa silêncio perfeito. Controle da mente quer dizer, afastar da mente a satisfação dos sentidos. O homem deve ser honesto em suas atitudes e desse modo purificar sua existência. Juntas, todas essas qualidades constituem a austeridade das atividades mentais.
É importante essa advertência. A mente não pode ao mesmo tempo estar ligada ao gozo dos sentidos e à vontade de Deus. Devemos aproveitar o gozo dos sentidos apenas dentro dos limites que respeita à vontade divina, se esse limite for ultrapassado passamos a servir a outro “senhor”, mas não a Deus. Além de todo o prazer individual que possamos sentir com o gozo corporal, devemos sempre pensar no bem-estar de todos; que nosso gozo corporal tenha também esse sentido coletivo é o máximo que Deus pode esperar para a construção do Seu Reino entre nós. Quando conseguimos colocar a satisfação dos sentidos a serviço de Deus, evitando qualquer atitude egoísta, estamos assim alimentando o amor Incondicional que é a essência de Deus a nos envolver a todos. Assim, concordo, devemos ser honestos em nossas atitudes e purificar nossa existência, observando essa austeridade mental.