Interessante quanto eu consigo observar da dinâmica da vida em toda sua complexidade, do entrelaçamento do mundo espiritual com o mundo material, dos interesses de um e de outro. A Lei Natural surge como a escrita de Deus colocada nas duas dimensões e a qual precisamos interpretar com estudo e dedicação, honestidade e transparência com nossos irmãos do caminho.
Há poucos dias surgiu uma área de conflito nos meus relacionamentos, que entendo como um choque de meus paradigmas com a forma de sentir e agir, dentro da cultura e no campo individual. Esses reflexos vibracionais conturbados chegaram até o grupo de estudos espirituais que realizo toda terça feira, de forma cuidadosa, mas mesmo assim capaz de provocar intenso sofrimento emocional em uma de minhas companheiras que participa do mesmo estudo. Orientei para minha companheira, depois que se recuperou do choque emocional, que procurasse a pessoa e explicasse com carinho e didática, qual a forma de meu relacionamento com ela. Mas essa informação já havia progredido para o nosso coordenador dos estudos e provavelmente para outras pessoas. A minha companheira procurou de imediato o nosso coordenador para explicar a situação e eu estava satisfeito apenas com essa disposição dela fazer os devidos esclarecimentos.
Foi então que, na leitura diária que faço com seis livros, entre eles “O Livro dos Espíritos”, que me deparei com o conhecimento da Lei Natural, no livro terceiro, cap. 1. Vou procurar colocar abaixo as questões e respostas apresentadas, inclusive explicações de Kardec, quando existe, e em seguida fazer minhas considerações de acordo com a minha compreensão e a voz de minha consciência.
Questão 619: Deus deu ao homem os meios de conhecer sua lei?
Resposta: Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem. Os que a compreendem melhor são os homens de bem e aqueles que querem procurá-la. Entretanto, todos a compreenderão um dia, porque é preciso que o progresso se cumpra.
Explicação de Kardec: A justiça das diversas encarnações do homem é uma conseqüência desse princípio, visto que, a cada nova existência, sua inteligência está mais desenvolvida e ele compreende melhor o que é o bem e o que é o mal. Se tudo devesse se cumprir para ele numa só existência, qual seria a sorte de tantos milhões de seres que morrem cada dia no embrutecimento da selvageria ou nas trevas da ignorância, sem que tivesse dependido deles se esclarecerem?
Acredito que eu cumpra esses dois pré-requisitos para compreender melhor a Lei Natural: ser um homem de bem e procurar compreendê-la. Como eu decidi entrar num caminho diferente do cultural para melhor cumprir essa Lei, no meu entendimento, é provável que eu tenha uma inteligência mais “desenvolvida” no que é o bem e o mal, adquirida de outras existências, e que deram agora o suporte para eu entrar no atual paradigma de vida que entendo, defendo e pratico.
Questão 620: A alma, antes da sua união com o corpo, compreende melhor a Lei de Deus do que após sua encarnação?
Resposta: Ela a compreende segundo o grau de perfeição que alcançou, e conserva, intuitivamente, a lembrança após sua união com o corpo. Mas os maus instintos do homem fazem-na esquecer.
Essa compreensão da Lei de Deus que adquirimos com a inteligência e experiência, e que fica guardada em nosso inconsciente em novas encarnações, é a justificativa que tenho por ter atravessado fortes tempestades do apelo da carne e não ter me comprometido com fortes desvios da Lei. Atualmente, mais amadurecido, eu posso fazer essa reflexão e entender que, apesar de todas as dificuldades, eu estou colocando em prática aspectos importante da Lei de Deus que estão escritos na Natureza.
Questão 621: Onde está escrita a Lei de Deus?
Resposta: Na consciência.
Esta é a resposta que me deixa mais confiante frente aos conflitos que muitas vezes ocorrem ao meu redor devido ao meu comportamento, como esse imbróglio atual. A minha consciência não acusa nenhum desvio e incentiva para que eu siga avante e inclusive divulgue o máximo possível, pois essa é a minha missão nesse atual estágio de vida.
- Posto que o homem carrega na sua consciência a Lei de Deus, que necessidade haveria de a revelar?
- Ele a esquecera e menosprezara: Deus quis que ela lhe fosse lembrada.
Como todos nós possuímos a mesma Lei em nossa consciência, é preciso que haja ações por parte dos mais esclarecidos sobre aspectos dessa Lei que estão esquecidos ou menosprezados por outros. Nesse processo de esclarecimento, como ninguém é dono da verdade, todos aprendem mutuamente com todos, aspectos diversificados da mesma Lei.
Questão 622: Deus deu a certos homens a missão de revelar sua Lei?
Resposta: Sim, certamente. Em todos os tempos, homens receberam essa missão. São os espíritos superiores encarnados com o objetivo de fazer a humanidade avançar.
Fica claro que Deus não quer que a Lei que nos foi revelada, mesmo que por esforço, dedicação e sacrifício, não seja divulgada para todos.
Questão 623: Os que pretenderam instruir os homens na lei de Deus não estavam, algumas vezes, enganados e, frequentemente, não os extraviaram por meio dos falsos princípios?
Resposta: Aqueles que não estando inspirados por Deus e que se deram, por ambição, uma missão que não tinham, certamente, puderam transviá-lo. Entretanto, como, em definitivo, eram homens de gênio, no meio mesmo dos erros que eles ensinaram, frequentemente se encontram grandes verdades.
É verdade, eu posso estar enganado. Não ouvi, vi ou percebi por quaisquer órgãos dos sentidos que Deus falou para mim essa verdade que eu entendo assim. Tenho apenas a aprovação de minha consciência e o consolo que no meio de tantos erros, alguma grande verdade possa ser encontrada.
Questão 624: Qual é o caráter do verdadeiro profeta?
Resposta: O verdadeiro profeta é um homem de bem inspirado por Deus. Pode-se reconhecê-lo por suas palavras e por suas ações. Deus não pode se servir da boca do mentiroso para ensinar a verdade.
Isso me deixa “arrepiado”, pois me considero um homem de bem e em algumas ocasiões inspirado por Deus. Então sou profeta??? O que me deixa aliviado é que eu vejo também ao meu lado muitos homens de bem e muitos deles com inspiração divina. Então ser profeta nesses termos e nos tempos atuais não é uma coisa tão excepcional como estamos acostumados a interpretar na Bíblia. Mas eu não posso me considerar como tal, a não ser que minhas palavras e ações falem por mim.
Questão 625: Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?
Resposta: Vede Jesus.
Explicação de Kardec: Jesus é para o homem modelo da perfeição moral que a humanidade pode pretender sobre a Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão da sua Lei, porque ele estava animado de espírito divino e foi o ser mais puro que apareceu sobre a Terra.
Se alguns daqueles que pretenderam instruir o homem na lei de Deus, algumas vezes a extraviaram por meio de falsos princípios, foi por se deixarem dominar, eles mesmos, por sentimentos muito terrestres e por terem confundidos as leis que regem a vida do corpo. Vários deram como leis divinas o que não eram senão leis humanas, criadas para servir às paixões e dominar os homens.
Importante, reconhecer Jesus como modelo de moral e evitar se deixar dominar pelas paixões humanas. Este último é um risco sempre real, pois as paixões carnais estão ainda em predomínio no corpo humano.
Questão 626: As leis divinas e naturais, não foram reveladas aos homens senão por Jesus? Antes dele, delas não tinham conhecimento senão por intuição?
Resposta: Não dissemos que elas estão escritas por toda parte? Todos os homens que meditaram sobre a sabedoria puderam compreendê-las e as ensinaram desde os séculos mais remotos. Pelos seus ensinamentos, mesmo incompletos, eles prepararam o terreno para receber a semente. As leis divinas, estando escritas no livro da Natureza, o homem pôde conhecê-las quando quis procurá-las e é por isso que os preceitos que elas consagram foram proclamados em todos os tempos pelo homens de bem e é por isso, também, que se encontram seus elementos na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie, embora incompletos ou alterados pela ignorância e superstição.
Volta a ressaltar a importância da procura, pois a Lei está a disposição de todos, escrita na Natureza.
Questão 627: Visto que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual é a utilidade do ensinamento dado pelos espíritos? Terão a nos ensinar alguma coisa a mais?
Resposta: A palavra de Jesus era frequentemente alegórica e em parábolas, porque falava segundo os tempos e os lugares. É necessário agora que a verdade seja inteligível para todo o mundo. É preciso bem explicar e desenvolver essas leis, visto que há tão pouca gente que as compreende e ainda menos que as pratica. Nossa missão é impressionar os olhos e os ouvidos para confundir os orgulhosos e desmascarar os hipócritas: aqueles que tomam as aparências da virtude e da religião para ocultarem suas torpezas. O ensinamento dos Espíritos deve ser claro e inequívoco, a fim de que ninguém possa pretextar ignorância e cada um possa julgá-lo e apreciá-lo com sua razão. Estamos encarregados de preparar o reino do bem anunciado por Jesus; por isso, não é preciso que cada um interprete a lei de Deus ao capricho de suas paixões, nem falseie o sentido de uma lei toda de amor e caridade.
Excelente essa advertência de que é preciso desenvolver a Lei de Deus, visto que há tão pouca gente que as compreende e ainda menos que as pratica. Perfeito!
Questão 628: Por que a verdade não foi sempre colocada ao alcance de todo mundo?
Resposta: É preciso que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: é preciso nos habituar a ela, pouco a pouco, de outra forma ela nos deslumbra.
Explicação de Kardec: Jamais ocorreu que Deus permitisse ao homem receber comunicações tão completas e tão instrutivas como a que lhe é dado receber hoje. Havia, como sabeis, na antiguidade, alguns indivíduos possuidores do que consideravam uma ciência sacra, e da qual faziam mistério aos profanos, segundo eles. Deveis compreender, com o que conheceis das leis que regem esses fenômenos, que eles não recebiam senão algumas verdades esparsas no meio de um conjunto equívoco e a maior parte do tempo simbólico. Entretanto, não há para o estudioso, nenhum sistema filosófico antigo, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque tudo contém os germes de grandes verdades que, ainda que pareçam contraditórias umas com as outras, esparsas que estão no meio de acessórios sem fundamentos, são muito fáceis de coordenar, graças a chave que nos dá o espiritismo para uma multidão de coisas que puderam, até aqui, vos parecer sem razão e da qual, hoje, a realidade vos é demonstrada de maneira irrecusável. Não negligencieis, portanto, de haurir objetos de estudo nesses materiais; eles são muito ricos e podem contribuir poderosamente para a vossa instrução.
Eis o que Deus me coloca às mãos nesse momento tão propício. Serve para a interpretação do que estou fazendo e tentando realizar à luz da Lei divina, a Lei da Natureza. Não posso ficar com esse conteúdo apenas no círculo de minhas reflexões e de quem se dispõe a ler neste espaço literário da net (Recanto das Letras, Sióstio de Lapa, Diário). Devo apresentar a proposta ao coordenador do nosso grupo de estudos espirituais, da apresentação desse trabalho de forma didática, colocando a formação de paradigmas que aparentemente servem a construção do Reino de Deus, na minha ótica, para ser discutido, criticado e sugerido, para o crescimento consciencial de todos, à luz da caridade!