Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
09/12/2013 01h01
PELO MUNDO AFORA

            O Escritor Paul Salopek da National Geographic resolveu andar durante sete anos, 33 mil quilômetros da África à Terra do Fogo, no Chile. Ele pretende reproduzir o trajeto que o Homo sapiens fez quando iniciou a exploração da Terra há 60 mil anos. Começou a caminhada em 10-01-13 no sítio arqueológico de Herto Bouri, Etiópia, no que chamou de “marco zero da humanidade” até o ponto extremo no Chile. Os achados fósseis e conhecimentos genéticos definirão a rota.   

            Esse sítio é o famoso local em que foram achados alguns dos mais antigos fosseis humanos, Homo sapiens idaltu, extinto há 160 mil anos. Um ancestral de ossos largos, uma versão inicial dos humanos. Foi na Etiópia descoberto muitos fosseis importantes de hominídeos, entre os quais o Ardipithecus ramidus, um bípede de 4,4 milhões de idade.

            Nesse início de viagem Paul reconhece que o mundo é bem diferente quando se está com sede. Ele encolhe, perde toda profundidade. São 32 quilômetros sob calor opressivo. Foi nessas perambulações que nossos antepassados há 60 mil anos ou mais, toparam com outras espécies de hominídeos. Na época o mundo estava cheio desses primos estranhos: Homo neanderthalensis, Homo florensiensis, os denisovanos e talvez outros povos. Será que os encontramos numa situação parecida com essa? Que compartilhamos nossa reserva de água ou nos acasalamos uns com os outros, pacificamente, como sugerem alguns geneticistas? Ou será que violentamos e massacramos inaugurando a longa e terrível história de genocídio que marca a nossa espécie?

            Neste início de viagem o que me deixou sensibilizado foi a descoberta de diversos cadáveres que se espalhavam pelo campo de lava de Ardoukoba, Djibuti. Eram dezenas de cadáveres vistos ao longo do trajeto, todos africanos mortos na tentativa de atravessar o deserto brutal, movidos pelo sonho de encontrar trabalho no Oriente Médio. Imaginei o sofrimento dessas pessoas caminhando em busca de um objetivo tão simples e no qual perdem suas vidas de forma tão dolorosa.

            Com esse sentimento que para mim foi tão forte e puro, de empatias por aquelas frágeis criaturas, acredito que Deus tenha querido colaborar comigo no sentido de eu sentir no corpo pelo menos uma pequeníssima fração do que eles devem ter sofrido naquela travessia frustrada do deserto.

            Sai de casa às 4:45h para fazer exercício. Resolvi correr de onde moro, Praia do Meio, até Ponta Negra, pela beira da praia, já que eu estava descalço, sem levar nada a não ser o calção de banho, uma camisa pólo e cinco reais. Farei uma crônica mais completa dessa aventura mais adiante.

            Pois bem, não consegui atingir minha meta de ir até o Morro do Careca, local famoso de Ponta Negra e de Natal e que estava bem dentro do meu foco visual. Quando cheguei no calçadão de Ponta Negra já não conseguia correr, mesmo no trotezinho que eu vinha. Até o ato de andar era muito doloroso em cada movimento dos músculos e das articulações, principalmente das pernas e pés, e ainda mais quando meus pés descalços encontravam as pequeninas pedras do calçamento. Nem sobre a grama da calçada dos hotéis eu podia andar, pois estava cheio de placas dizendo que era proibido. Foi nessa situação que depois eu entendi o quanto havia sofrido meus irmãos da África que se deslocavam em busca de dias melhores.

            Essa aventura de Paul Salopek que procurarei acompanhar deve servir para me dar boas inspirações sobre o nosso passado e como está o nosso atual comportamento, que mesmo com toda a mudança radical que a ciência e tecnologia nos trouxeram ainda se move dentro do barbarismo animal.  E como fazer para conseguir aplicar a construção do Reino de Deus como Jesus ensinou e assim sairmos desse barbarismo é a minha principal meta nesta existência. Talvez parecido com a meta dos irmãos africanos que tombaram exaustos no deserto. Será que eu terei esse mesmo fim? Será que eu tombarei exausto sem ter atingido a minha meta? Esta experiência da corrida não foi alvissareira, não consegui atingir a minha meta de chegar até o Morro do Careca. Resta agora a meta espiritual, será que conseguirei aplicar e exemplificar a construção do Reino de Deus assim como Jesus ensinou?  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 09/12/2013 às 01h01