Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
10/12/2013 01h01
CORRIDA À PONTA NEGRA

            Como eu precisava fazer exercício para forçar o meu corpo a perder o excesso de peso, resolvi fazer uma carreira de onde moro, Praia do Meio, até Ponta Negra. Sabia que a tarefa não iria ser fácil, pois não faço exercício há cerca de seis meses. Vesti apenas o calção de banho, pois pretendia chegar ao fim, parar na areia da praia, tomar banho de mar e fazer os exercícios complementares. Coloquei uma camisa pólo e uma nota de cinco reais dentro do calção, talvez para uma água de coco no retorno.

            Comecei a correr pela beira mar, já que eu estava descalço, com prudência, sabia que minha resistência física não suportaria excessos. Além da corrida eu fazia contagem dos passos e ao chegar no passo duplo 75 eu fazia exercícios complementares em número de 10, aproveitando a corrida, sem deitar o corpo. Logo eu desisti de contar, pois surgiam em minha mente idéias para desenvolver textos e que se eu ficasse concentrado nessa contagem eu não iria lembrar. E eram várias das quais eu tentava fixar uma pequena palavra para lembrá-las depois: o atirador, a paranóica, modelo de casamento, negociação evangélica, turismo cristão, natureza da fraternidade, a lição das pedras... sabia que eu podia esquecer, por isso decidi usar os cinco reais que levava quando chegasse em Ponta Negra com a compra de um bloquinho e caneta.

            Eu já tinha corrido uma hora e a cada 15 minutos eu fazia a observação para manter os exercícios complementares. A praia tinha pouca gente nesse horário, apenas alguns hóspedes dos hotéis da Via Costeira que decidiram encontrar o sol na caminhada pela areia. O cansaço era cada vez mais evidente e na minha consciência eu sentia que não podia mais alcançar a meta e voltar andando como havia cogitado no início. O máximo que eu poderia fazer era comprar o bloquinho, fazer a anotações para não se perder na memória e ir andando até o Morro do Careca. De lá eu pegaria um táxi para voltar para casa.

            Cheguei no início do calçadão de Ponta Negra e já havia diversas pessoas em atividade física nesse momento. Já faziam 2:30h que eu tinha saído de casa e não tinha a dimensão do problema que isso podia causar. Eu já havia feito esse percurso antes, tinha gasto um tempo semelhante, mas antes eu não tinha ninguém a me esperar em casa. Vi que o próprio ato de andar, de colocar uma perna na frente da outra já era dolorido quanto mais o movimento das articulações e dos pés socando as diminutas pedras do calçamento. Tinha que desistir da meta do Morro do Careca, da compra do bloquinho, do lápis... o que eu precisava encontrar agora era um táxi e negociar com o motorista o preço para me levar para casa.

            O primeiro taxi que vi estava localizado no topo de uma ladeira. Mas era o mais próximo e eu tinha que alcançá-lo. Então reuni todas as forças e fui colocando pé ante pé até chegar no primeiro motorista, que por estar no fim da fila estava dormindo. Resolvi ir mais adiante e falar com o primeiro da fila. Assim que me aproximei do senhor que parecia ter adivinhado minhas intenções e estava na expectativa, vi que parou ao lado o coletivo com destino a Praça Cívica, um local que ficava próximo do meu apartamento. Então foi intuitivo, imaginei que não existem coincidências e que se esse ônibus chegou exatamente no momento que eu ia pegar o táxi era porque Deus assim o queria. Embarquei, sentei e minhas pernas e pés agradeceram de imediato, aliviando a dor que eu sentia.      

            Ao chegar no ponto mais próximo do apartamento desci e voltei a caminhada, dolorida, mas não tanto quanto antes. Ainda tinha que subir e descer ladeiras antes de chegar em casa, mas já via o apartamento ao longe e isso me deixava feliz e revigorado. Pensava em comprar coco verde com o troco do coletivo para levar e tomar em casa, mas comecei a perceber que minha companheira devia estar um pouco preocupada com minha demora.

            Eu estava certo quanto a preocupação, mas errado quanto a intensidade. Logo a vi parada na portaria do prédio, celular na mão, com o rosto banhado em lágrimas, com o porteiro como um apoiador. Disse que já havia ligado para todos os meus parentes e amigos e que minha irmã já estava vindo para comandar a busca pela beira da praia. Pensou até em ligar para a minha outra companheira com a qual tem enormes dificuldades de relacionamento para ajudar de alguma forma. Só não o fez porque não tinha o número do celular. Depois de pedir com a voz entrecortada que eu não fizesse mais isso, ligou para minha irmã e disse que eu já havia chegado e eu falei no celular um pouco sobre o que havia acontecido.

            Depois de tudo eu tinha que ir a Ceará Mirim fazer um trabalho com ela. Estava preocupada que eu voltasse sozinho. Pensou em levar minha filha foi quando eu falei da possibilidade de levar também a mãe dela, a outra companheira. Foi quando eu percebi a estratégia de Deus. Ele sabe que estou determinado em cumprir a Sua vontade, mas que não posso fazer isso sozinho. Tenho que ter no mínimo duas companheiras, pois uma só caracteriza uma relação tradicional. Existe uma dificuldade enorme das duas se relacionarem fraternalmente e da qual já me considero impotente pra resolver. Deixei nas mãos de Deus. Então Ele resolveu agir. Fez eu pegar o trajeto maior para cumprir o trato de perder peso que eu fiz com Ele e rompi ao tomar duas bolas de sorvete e dois dindins na noite anterior. Então o trajeto extenso da corrida, pegar o ônibus ao invés do táxi, tudo contribuiu para criar um clima de extrema angústia pelo meu bem estar que com certeza mobilizaria e tornaria as duas como colaboradoras de uma mesma causa. Percebi aí a sutileza de Deus, mostrar que o meu bem estar implica em cumprir a Sua vontade e que eu dependo da fraternidade delas como companheiras para que eu alcance isso. Esse foi um dia que ficou marcado para minhas atuais companheiras e Deus assim mostra Sua força na sabedoria das circunstâncias. Eu contemplo o Seu poder extasiado, vejo as Suas ações constantemente ao meu redor e que eu só devo seguir a opção que mais se aproxima da Sua essência, que é o Amor Incondicional. Da mesma forma devem agir todos os Seus filhos que querem fazer a Sua vontade, pois caso contrário saem do caminho reto e entram em desvios outros.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 10/12/2013 às 01h01