Há alguns dias postei neste diário uma citação a John Lennon, seu pensamento e a composição de sua música: Imagine.
Hoje tenho oportunidade de voltar ao assunto e comentar essa composição musical do ponto de vista espiritual, longo da memória do que foi que escrevi naquela ocasião. Isso é bom, pois quando for feita a comparação mais tarde da linha de pensamento do que defendo ao longo do tempo, pode mostrar firmeza em alguns aspectos, fragilidades em outros e nascimento de novas tendências que não foram percebidas antes. ‘
Eis a letra disposta em forma de blocos e os comentários após cada bloco:
IMAGINE
Imagine que não há paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje.
Esta é uma filosofia sem Deus, de forte apelo individualista pelo bem estar. Não existe nenhuma perspectiva futura, de céu ou inferno. O céu é apenas isto que vemos acima de nossas cabeças. Um mundo onde as pessoas se preocupam em viver apenas para o hoje, o presente é supervalorizado.
Imagine não existir países
Não é difícil fazer
Nada pelo que matar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz.
Esse é um retrato da sociedade do Reino de Deus, somente que sem a presença de Deus. O que Deus quer que façamos, de vencer o egoísmo intrínseco ao nosso coração humano, de lapidar a nossa alma dos reflexos instintivos do corpo formando uma sociedade universal e fraterna, e que para isso envia os seus profetas e demais missionários para no ajudar nessa labuta, Lennon quer alcançar apenas pela imaginação. Em um aspecto ele está correto, o pensamento que gera a imaginação é o principal fator de transformação ao nosso redor. Mas a motivação que ele nos dá é fraca. Ele está focado apenas no presente, e sabemos que o nosso presente é fugaz. Poucos conseguem viver mais de 100 anos, e os anos de maturidade da consciência não ultrapassa esses 100 anos. Do ponto de vista individualista, sem a perspectiva de um futuro, de uma eternidade, de uma justiça suprema que corrija todas as distorções do pensamento individual, de um carma universal, me parece que o mais lógico seria cada um lutar para o seu próprio bem estar com todas as forças enquanto tivesse consciência e disposição para isso. Tanto para o bem estar imediato como para o bem estar logo a seguir com a velhice. Quem iria corrigir cada um se cada um usasse todos os recursos materiais e inteligência para alcançar esses objetivos, se cada um pudesse corromper a lei estabelecida, já que não existia uma lei divina? Acho que seria muito difícil de alcançar assim, apenas pela imaginação, essa sociedade onde todas as pessoas vivessem em paz. As coisas seriam mais ou menos como são hoje, uma minoria com os privilégios e a maioria subjugada, escravizada, e a luta constante em todos os setores por uma melhora pessoal, individual que não considera o bem estar e felicidade do próximo.
Você pode dizer
Que sou um sonhador
Mas não sou o único
Tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo será como um só.
Esta é a motivação que Lennon quer implantar na humanidade, um mundo sem fronteiras, de fraternidade, onde todos convivam em paz. Ele reconhece que isso é sonho e que, como ele, já existe outros. Eu também tenho esse sonho. Eu sonho com a sociedade do Reino de Deus que nós podemos construir a partir da transformação do nosso próprio coração. Para isso eu tenho o caminho para a construção desse sonho que foi ensinado pelo Mestre Jesus que nos foi enviando pelo Pai. O Mestre nos ensinou o fundamento da lei do Pai: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo”. O meu sonho que é igual ao de Lennon, está alicerçado na perspectiva da minha aproximação cada vez mais do Pai, com a perfeição que irei adquirindo ao longo da eternidade que tenho à minha disposição, independente da deterioração do corpo biológico que por enquanto me auxilia nessa tarefa. O sonho de Lennon é apenas “o sonho” que eu posso criar na minha imaginação, mas que não conseguirá alcançar jamais a universalidade fraterna, pois todos estão preocupados apenas em alcançar uma felicidade individual no pequeno espaço de tempo que o corpo atual deixa à disposição.
Imagine não existir posses
Me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade do homem
Imagine todas as pessoas
Compartilhando todo o mundo
Essa imaginação que ele propõe, sem necessidade de ganância ou fome, sem o controle de uma lei superior que discipline nossos instintos e que nos ensine a imortalidade da alma, eu não consigo atingir. Com a humanidade que eu conheço, que sinto e me relaciono, não consigo ver ela se libertando dos fortes instintos passionais que possui para a manutenção do seu corpo efêmero, sem a perspectiva da imortalidade da alma e da gerência da vida pelo Criador que disciplina todo o universo com a Sua lei incorruptível. Ele até faz um esforço nesse sentido, pois quando apela para a irmandade do homem, ele quer que pensemos em um só pai. Mesmo que ele não seja explícito, o seu inconsciente colocou na sua composição, mesmo sem a aceitação da sua crítica consciente e até burlando a censura que ela pode fazer, a figura de um Pai único, de um Criador, enfim, de Deus.
Interessante que até antes de fazer esse texto eu ouvia embevecido essa canção de Lennon sem perceber tanta fragilidade no sonho que ele oferece. Mas, enfim, agradeço a bela composição que ele nos ofertou e sei também que mesmo ele não tendo valorizado o Deus que nos criou, ele de certa forma desperta a nossa consciência para um mundo fraterno que poderemos construir e que é a vontade de Deus.