Cheguei ao ponto em que considerei a dissolução do casamento como a ação ética que devo proceder para consumar a aproximação afetiva com parceiros que a Natureza me oferece e em concordância com a Lei do Amor. Então surge outra questão de importância considerável. Quais as conseqüências dessa dissolução do casamento, principalmente para a esposa e para os prováveis filhos? O casamento não fora instituído para a sua defesa e preservação? Como ficarão eles?
Caso eu não consiga resolver essa questão, estarei impedido eticamente de dissolver o casamento. Se eu fico impedido eticamente de seguir a Lei de Deus, isso me parece incoerente, já que a Lei de Deus é a superior, que nenhuma outra lei pode sobrepor. Então, porque um ramo da Lei de Deus, a ética, está impedindo que eu siga a lei maior? Só tenho uma resposta: minha incompetência! Incompetência de inteligência e de sabedoria para desatar esse nó. Caso eu não conquiste essa competência, estarei fadado a viver o resto da minha vida dentro da lei do matrimônio, abafando diuturnamente a Lei da Natureza que se reproduz também dentro de mim. Cuidarei da mulher que escolhi para esposa e cuidarei também das almas que Deus me deu como filhos para educar, com todo amor que eu consiga expressar.
Agora, a maioria das pessoas que estão dentro do casamento e sentem o apelo da Lei da Natureza, não tem a preocupação ética com o outro. Aprofundam o relacionamento afetivo, muitas vezes na base exclusiva das sensações, do prazer carnal, das paixões desvairadas. A outra pessoa é usada como um objeto sexual, que deve proporcionar prazer até o ponto em que surja outro interesse mais novo e frequentemente mais jovem. A esposa deve ficar de fora desse jogo de sensações, ela não pode se manifestar, mesmo que sinta na pele a dor do desprezo, do afastamento e muitas vezes da agressividade e violência. Dessa forma a maioria dos casamentos se sustenta ao longo dos anos. Muitos são dissolvidos e logo formados outros na mesma base. A traição do homem é tolerada e as vezes incentivada sutilmente pela cultura. A traição da mulher é condenada com rigor, não tem voz, não deve ter prazer, muito menos direito à felicidade. Este é o retrato de nossa sociedade.
Na minha percepção nenhuma das duas soluções acima é a ideal. Na primeira eu irei ser um eterno prisioneiro de uma lei que eu mesmo assumi. Assumi sem pensar que no futuro eu iria ficar emparedado, não tive essa explicação prévia para poder decidir se queria ou não. Agora estou dentro da prisão e não tenho competência para me livrar dela. O que me resta é cumprir o papel de uma espécie de animália com o papel de reproduzir e tomar conta do ninho reprodutor onde existe a fêmea e os filhotes. Talvez um dos meus filhos quebre essa cadeia e consiga seguir a Lei do Amor sem ferir a ética.
Na segunda opção, se eu a seguir, estarei me comportando como um bárbaro, apenas com o verniz civilizatório. Estarei usando da minha força, política ou financeira, para usar e abusar das mulheres do meu entorno. Serei guiado pelo instinto, não considerarei a Lei de Deus, não quero usar nenhuma bússola comportamental. Todo o meu esforço será no sentido de adquirir cada vez mais poder, mesmo que seja de forma ilícita, usurpando o direito do próximo, mesmo que sejam milhões de pessoas. Tudo para mim, para meus parentes, para meus amigos... o próximo é apenas um número nas estatísticas, o caminho pelo qual atingirei meus objetivos egoístas, uma massa de manobra e dentro dela os deliciosos objetos sexuais. Essa é a opção que eu mais abomino, se não tenho outro recurso, prefiro ser um eterno prisioneiro da primeira opção, um animal reprodutor, mas que obedece a Lei de Deus e os seus limites éticos.
Não quero ser prisioneiro nem ser bárbaro. Quero seguir a Lei de Deus expressa na Natureza. Quero ter mais inteligência e alcançar mais sabedoria para resolver o dilema ético e aprofundar de forma coerente em todos os relacionamentos afetivos que o Pai me ofereça.