Mais uma vez Deus se faz presente em meus pensamentos. Logo quando eu vou entrar para a discussão do dilema ético com relação a esposa e os filhos na dissolução do casamento, faço na leitura diária da Bíblia Sagrada um texto de Eclesiástico (7:20-30), “Bondade e Atenção” que escrita por um dos inspirados por Deus, agora serve de base para as minhas reflexões atuais.
20. Não Pratiques o mal contra um amigo que demora em te pagar, não desprezes por causa do ouro um irmão bem amado.
21. Não te afastes da mulher sensata e virtuosa que te foi concedida no temor ao Senhor, pois a graça de sua modéstia vale mais do que o ouro.
22. Não maltrates um escravo que trabalha pontualmente, nem o operário que te é devotado.
23. Que o escravo sensato te seja tão caro quanto a tua própria vida! Não o prives da liberdade, nem o abandones na indigência.
24. Tens rebanho? Cuidas deles; se te forem úteis, guarda-os em tua casa.
25. Tens filhos? Educa-os, e curva-os à obediência desde a infância.
26. Tens filhas? Vela pela integridade de seus corpos, não lhes mostres um rosto por demais jovial.
27. Casa tua filha e terás feito um grande negócio; dá-a a um homem sensato.
28. Se tiveres mulher conforme teu coração, não a repudies, e não confies na que é odiosa.
29. Honra teu pai de todo o coração, não esqueças os gemidos de tua mãe;
30. Lembra-te de que sem eles não terias nascido, e faze por eles o que fizeram por ti.
Agradeço a Deus por ter colocado em minhas mãos no momento preciso de minhas elucubrações que faço até mesmo em seu nome, um texto tão pertinente com aquilo que quero abordar. Afinal, a Bondade e Atenção com aqueles que convivem comigo dentro da estrutura de um casamento, que forma uma família, são os dois grandes itens que sustentam a ética do relacionamento. E se é cogitado a dissolução desse casamento, são eles os primeiros a ser examinados. Então farei um “pente fino” em cada item do texto.
20. Vou considerar aqui o “ouro” como o “desejo sexual”, afinal muito dos esforços que fazemos enquanto humanidade para adquirir o ouro, é para ter mais acesso ao sexo. A minha amiga, esposa, pelo desgaste do tempo, demora em me pagar, de dar o prazer sexual que antes era de imediato. Não deverei desprezar por causa do sexo instintivo, desejado com outras pessoas, a minha irmã, minha esposa bem amada.
21. Aqui o texto é direto! Não há margem para outra interpretação. Não posso me afastar da mulher sensata e virtuosa com a qual prestei juramento no casamento; não posso lhe desprezar por causa sexo prazeroso, fácil e rápido com outra pessoa.
22. O termo escravo não tem mais espaço para considerações no nosso estágio atual de compreensão dentro da comunidade dos filhos de Deus, daqueles que procuram fazer Sua vontade. Devo considerar apenas o operário, o funcionário, o trabalhador, que faz o seu trabalho pontualmente no limite de suas competências e que pode nos ser devotado, caso estejamos numa posição hierárquica superior. Dentro da comunidade dos filhos conscientes de Deus, todos somos trabalhadores de Sua vontade, todos temos uma missão a cumprir, e a regra de ouro é amar uns aos outros. A minha esposa e filhos tem um papel dentro dessa seara do Senhor, assim como eu em relação a eles. Eles me devem obediência enquanto cabeça do casal e pai de família. Eu devo a eles o trato de bondade e atenção para com suas diversas necessidades que estão na dependência das minhas ações.
23. Continuarei a interpretar aqui “escravo” como “trabalhador na seara do Senhor”. Então todos nós somos trabalhadores de Deus cumprindo diversas funções de acordo com Sua vontade. Ninguém pode ser maltratado por causa disso. Principalmente o operário, o membro da família, e que por causa dessa ligação afetiva de natureza biológica, no caso da consangüinidade, me são devotados. Que esse membro da família sensato me seja tão caro quanto a minha própria vida, pois a minha vida está sendo construída com a freqüente participação deles. Jamais os privarei da liberdade, a mesma que eu desejo para mim; jamais os abandonarei na indigência, no ocaso do esquecimento, no perjúrio de minhas promessas.
24. Interpreto o “rebanho” como meus “bens materiais”. Devo cuidar deles, tem utilidade para mim, meus parentes, amigos... o próximo.
25. Tenho filhos, procurei educá-los com o potencial financeiro advindo do meu trabalho, com o exemplo da coerência, justiça e afeto do meu comportamento, desde a infância.
26. Tenho filhas e nunca fiz distinção da educação delas com a educação dos filhos. O autor do texto quer chamar a atenção para a integridade do seu corpo, pois a mulher tem a responsabilidade de ser o receptáculo e geratriz de novas vidas que se desenvolvem dentro do seu corpo. Se a integridade do seu corpo é violada, dependente ou independente de sua vontade, um grande prejuízo irá cair sobre ela, diferente do que acontece com o corpo masculino que não assume essa responsabilidade. Por outro lado não devo enquanto pai, apresentar um aspecto por demais jovial, que me afaste da condição de pai e me aproxime da condição de parceiro sexual, pois isso pode levar às forças instintivas se manifestarem com violência e também levar a prejuízos irreparáveis.
27. Devo contribuir para que minha filha consiga um parceiro sensato para construírem a vida enquanto companheiros, que forme sua família com base na Lei de Amor, sem confrontar animosamente a lei dos homens.
28. Este item é o ponto mais importante para resolver o dilema ético. Se tenho a mulher conforme o meu coração, não devo a repudiar. Isso quer dizer que devo abrir o meu coração com franqueza e transparência para aquilo que penso, sinto e desejo fazer. Mesmo que meu coração tenha mudado pelas forças das circunstâncias e agora um novo projeto ele quer realizar. A minha mulher deve saber disso, colocar sua opinião para ver se seus argumentos contrários conseguem demover os meus propósitos. Se os meus propósitos são tão consistentes que permanecem incólumes apesar de toda crítica sofrida, então a mulher deve saber que estou mudado e deve decidir se quer ou não continuar sendo a minha companheira com esse novo projeto. Se ela ajusta o seu pensamento às minhas transformações existenciais, ela continua “conforme o meu coração” e não mostra nenhuma justificativa de repúdio da minha parte, continua “carne da minha carne”. É o caso de mostrar para ela a perspectiva do sexo fora do casamento como a opção mais coerente com a Lei do Amor, conforme a minha consciência. Mostrar que não estou disposto a ser um eterno escravo das leis humanas que me deixam impedidos de entrar na Lei de Deus. Mostrar que não quero ser um bárbaro na vida íntima obedecendo aos instintos próprios da animalidade sem considerações com o próximo e apresentar para todos uma aparência que não possuo. Mostrar que quero seguir a Lei da Natureza obedecendo aos princípios éticos próprios da minha responsabilidade humana, incluindo todas as opções de afeto que o Pai me ofereça, inclusive o aprofundamento nas relações íntimas quando isso for conveniente e subordinada á Lei do Amor. Por outro lado, devo ter muito cuidado com a mulher odiosa, a mulher que se deixa levar por seus sentimentos mesquinhos de egoísmo, raiva, ódio, ressentimentos, pois essa não conseguirá desenvolver a empatia, de se colocar no meu lugar para tentar ver se é possível a mudança de seus pensamentos para se ajustar aos meus. Esse é o ponto de maior dificuldade na resolução do dilema ético. Essa abertura do coração e tentar uma conformidade com o coração de nossa(s) companheiras(s). Merece ser abordado com mais profundidade em outro dia.
29. Não lembro a participação do meu pai junto a mim, educativa, financeira ou afetiva. Mesmo assim honro a sua memória, pois foi ele a ferramenta escolhida por Deus para me trazer a este mundo material, na ocupação deste corpo que sua genética me proporcionou, com todo vigor sexual que leva às paixões do amor romântico que ele tinha em demasia e que hoje me serve para eu a usar em favor do Amor Incondicional. Não esqueço os sofrimentos de minha mãe nos momentos cruciais da minha vida e da dela, no momento do parto que quase nos levava a morte prematura, no nosso afastamento físico quando ela me doou à minha avó devido suas dificuldades financeiras, no afastamento para outro estado distante levando apenas a saudade do filho que deixou prá trás.
30. Jamais esqueço que os meus pais foram as ferramentas que Deus usou para me trazer ao mundo material, que ficaram responsáveis por minha sobrevivência, mesmo que para isso tivessem que sofrer a dor da separação, principalmente a minha mãe. Tenho até hoje essa convicção de fazer por meus pais o que eles fizeram por mim, principalmente em cuidar dos seus filhos, os meus irmãos, como se fossem eles que tivessem na minha pele.