Observamos que todo projeto que envolve dois aspectos, sempre exige do outro algum tipo de contrapartida. Assim acontece com o consorcio homem-mulher feito com base no Amor Incondicional. Aparentemente nesse tipo de consórcio onde é exigido da mulher um alto grau de abnegação frente aos seus imperativos biológicos e fisiológicos com base na reprodução da vida, parece ser o homem o grande beneficiado. Como para o homem está destinado cuidar do exterior, dos relacionamentos externos, tem maiores oportunidades de desenvolver afetos por outras pessoas e com outras mulheres desenvolver intimidades sexuais, desde que na observância do Amor Incondicional. A partir daí surge a possibilidade de ser formado mais um ramo da família ampliada, com a mulher que decidiu ir até a intimidade sexual e que não será usada como um simples objeto de prazer. A Força afetiva ligada ao amor romântico que proporcionou esse enlace adicional na estrutura psicológica e comportamental do homem, termina por deixar sua companheira original sem parte do seu tempo que deveria cuidar dos seus interesses, inclusive dos filhos se já formados. Nesse contexto a mulher assume mais uma responsabilidade, de cobrir a ausência do companheiro que se encontra com outra nos momentos de necessidade. A mulher original sente a falta afetiva e pragmática do companheiro junto da sua vida nesses momentos. Ela já sabia que isso poderia acontecer e já decidira previamente que, através da abnegação, iria suportar esse acumulo de responsabilidade e escassez de afetos.
Acontece que ela também tem no seu entorno relacionamentos com outros homens e que alguns cumprem os critérios de sua consciência e que podem preencher o vazio afetivo em que ela se encontra ou a resolução de questões práticas aliviando o peso dessa responsabilidade. Por que então, ela não se envolve afetiva e sexualmente com esse homem, já que o perfil de relacionamento é em tudo semelhante ao que aconteceu com o seu companheiro e outra mulher? Então, deve estar implícito ou explícito, no mesmo contrato que permitiu ao homem ter uma nova companheira, a “sua” mulher também deve ter o mesmo direito de ter um novo companheiro, com as mesmas características. Está dentro da lei de Justiça, que pertence à legislação do Amor. É a contrapartida que o homem deve permitir, pois sabe que isso não agride a ética, mesmo que ele seja atacado de forma brutal pelos preconceitos sociais de sua cultura. Quando isso acontece, formou-se a primeira ação que amplifica a família de forma transparente e fraterna. Todos são considerados como irmãos, muito mais próximos, e cada um tem como objetivo do seu amor o bem estar do outro. Ninguém sentirá tanto a falta do companheiro original, pois esse vazio sempre poderá ser ocupado pelos homens e mulheres de boa vontade quanto a construção de uma família universal.
Confesso que essa contrapartida masculina à liberdade feminina, como pré-requisito ao exercício da liberdade do homem de construir novos vínculos, não é uma tarefa fácil. Eu mesmo passei muito tempo maturando essa contrapartida, mesmo sabendo que a minha liberdade tinha a coerência do Amor Incondicional, mas devia passar pelos critérios de Justiça para a sua aplicação. Como meus preconceitos machistas eram muito fortes, foram necessários dias e noites seguidos de meditação e oração. Pedia a Deus uma resposta para sair do impasse e sempre vinha na consciência a quebra dos preconceitos que me amarravam nos critérios mundanos. Até que consegui fazer isso, que agora considero fundamental.
Hoje, dia do nascimento do Mestre Jesus, dedico essas reflexões, rogando a Ele e ao Pai que corrijam os erros que porventura os meus interesses escusos tenham proporcionados desvios do caminho que foi determinado para mim. Peço também força, coragem e energia para implementar aquilo que ainda é necessário fazer dentro do meu campo de ação, com meus irmãos, principalmente com minhas companheiras que têm mais dificuldade do que eu na condução desse projeto e que sem elas eu não posso dar o exemplo que o Pai deseja: estar nesse mundo sem pertencer a ele, e sim ao Reino de Deus a partir da transformação dos corações.