Tem uma figura histórica, Adolf Hitler, que fez um livro quando estava na prisão com esse título, “Minha luta”. É uma figura malquista pela humanidade pelo mal que ele espalhou no planeta, da tentativa de preservação de uma raça que ele imaginava pura e que devia reinar por mil anos; que deveria ser obedecido cegamente através de um Estado totalitário; que as raças impuras deviam ser exterminadas desse reinado.
Esse pensamento de Hitler foi de encontro às ideologias democráticas e de fraternidade existentes no mundo, o que fez um bloco de países, os aliados, se confrontarem no que ficou conhecido como a segunda guerra mundial. Como a Alemanha e demais países aliados do eixo terminaram por se envolver na ideologia de Hitler e em suas atrocidades contra a humanidade, vem à tona a questão do livre arbítrio. Até que ponto o homem pode decidir, em sã consciência, pela mudança de atitudes frente a outro objetivo que não considerava antes?
Faço essa reflexão ao mesmo tempo em que coloco o meu pensamento que parece ter o mesmo formato, mas com objetivos diferentes. Desenvolvi um modelo de sociedade que imagino ser a mais coerente com a vontade de Deus de acordo com tudo que li. No entanto para aplicar na prática essa “vontade de Deus”, de criar uma família ampliada, vou de encontro a cultura humana com suas leis que defende um modelo de sociedade diferente, baseada na família nuclear. Tenho fortes argumentos, no meu modo de ver, para defender a minha tese e partir para a prática. Como mais um desses argumentos coloco aqui a questão 863 de “O Livro dos Espíritos” com sua resposta:
Pergunta: Os costumes sociais não obrigam, frequentemente, um homem a seguir tal caminho antes que outro, e não está ele submetido ao controle da opinião pública na escolha de suas ocupações? O que se chama o respeito humano não é um obstáculo ao exercício do livre arbítrio?
Resposta: São os homens que fazem os costumes sociais e não Deus; se se submetem a eles é porque isso lhes convém, e o fazem por um ato de seu livre arbítrio visto que, se o quisessem, poderiam libertar-se deles; nesse caso, por que se lamentar? Não são os costumes sociais que devem acusar, mas seu tolo amor-próprio que os faz preferir morrer de fome a derrogá-los. Ninguém lhes levará em conta esse sacrifício feito à opinião pública, enquanto que Deus terá em conta o sacrifício de sua vaidade. Isso não quer dizer que seja preciso enfrentar essa opinião sem necessidade, como certas pessoas que tem mais de originalidade que de verdadeira filosofia. Há tanto contra-senso em tornar-se objeto de crítica ou mostrar-se como animal curioso, quanto há de sabedoria em descer voluntariamente, e sem murmurar, quando não pode manter-se no topo da escada.
Em qualquer caso, o reino de mil anos defendido por Hitler ou o Reino de Deus ensinado por Jesus, vai ser seguido ou não individualmente por cada um, de acordo com sua consciência. No caso de Hitler um sistema de forças motivou e outras vezes forçaram o livre arbítrio no cometimento das atrocidades e que foram contra os costumes sociais da época. No caso de Jesus não existe ação compulsória para a construção do Reino de Deus, cada indivíduo tem plena liberdade de escolher seguir ou não suas lições, sem nenhuma coerção.
Eu resolvi seguir Suas lições e colocar o Amor Incondicional em todas as minhas relações, principalmente as relações íntimas e que levam à formação de uma família ampliada, comparada a família restrita, nuclear, que existe como base cultural. Os costumes sociais que foram criados pelo homem para formar a família e sociedade, no meu entendimento não seguem a Lei do Amor e por esse motivo não sou obrigado a cumpri-la, mesmo se isso me conviesse enquanto homem, mas sei que não me convém enquanto espírito filho de Deus. Então eu quero e me liberto deles. Não tenho do que me lamentar. Não vou perder a minha vida eterna por um tolo amor-próprio, de preconceitos culturais, de não querer “levar chifres” de minha mulher que adquire os mesmos direitos que eu tenho, de ampliar o seu campo de amar outras pessoas. Não faço isso somente por curiosidade de como isso de família ampliada funciona, mas estou alicerçado em uma filosofia, nas lições de Jesus que defende a família universal como base do Reino de Deus, e que o modelo mais próximo é a família ampliada, com seu amor inclusivo, com fraternidade para todos, e não a família nuclear com o seu amor exclusivo recheado de egoísmo, ciúme e intolerância.
Assim termino o ano com essas fortes reflexões e pretendo a partir de amanhã, início de um novo ano, responder as questões do Papa Francisco com relação aos “Desafios pastorais da família no contexto da evangelização”.