Preciso aprofundar cada vez mais a compreensão da família que Deus deseja que formemos para construir o Seu Reino na Terra. Sei que a Sua lei está expressa na Natureza, que devo obedecer sem cometer abusos contra mim ou contra os outros. Sei que ainda estou cheio de imperfeições originadas da ignorância, mas que tenho um livre arbítrio direcionado para a busca da Verdade e de cumprir a vontade do Pai. Pressinto que fui criado dentro de diversas circunstâncias favoráveis para me colocar em prova e para que eu chegue nesse ponto racional de criticar a base da nossa sociedade, a família nuclear, baseado nas leis do Criador, do Amor Incondicional. Criei assim uma utopia em minha mente, da construção do Reino de Deus, da qual eu sinto em todas as mensagens, principalmente as de natureza divina, confirmação para as minhas intenções. Sei que posso ter entrado num caminho equivocado e que algum desejo egoísta e inconsciente de minha parte esteja tomando conta da minha razão e que eu não queira ver senão aquilo que acho correto e que distorça tudo para justificar meus pensamentos e minhas ações. Mas tenho que ser honesto comigo mesmo, e se acho que estou correto, que nenhum argumento ainda é forte o suficiente para demover os meus ideais, eu tenho que seguir com eles apesar de todos os riscos que eu possa correr. Uma forma de garantir que eu não mergulhe num processo esquizofrênico é a de divulgar esse meu pensamento com todos que queiram o analisar, com todos os recursos cognitivos racionalistas a dispor, para que seja mostrada de forma clara as incoerências que ele possa apresentar.
O centro do meu pensamento hoje consiste em construir na prática uma família mais próxima da vontade de Deus, e em função disso entrei em rota de colisão com a família nuclear da forma que ela se apresenta e coloco como opção a família ampliada como forma de melhor se aproximar do contexto divino, do Reino de Deus. Dessa forma, o documento papal, “Desafios pastorais da família no contexto da evangelização” veio apresentar uma ótima oportunidade para apresentar o confronto da família nuclear com a família ampliada, tendo como debatedor uma figura de alto respeito espiritual, o Pastor de todos nós, o Papa Francisco, que chega inspirado por Deus para assumir o diálogo com ovelhinhas confusas como eu, e que sei terá paciência de me ouvir e de dizer onde eu estou errado.
Logo na introdução do documento é dito que a missão de pregar o Evangelho a cada criatura foi confiada diretamente pelo Senhor aos seus discípulos. É o momento de perguntar: eu sou discípulo do Senhor? Como o Senhor falou que seria reconhecido como seu discípulo aquele que mostrasse amor pelo próximo, que se amassem uns aos outros, então eu acredito que cumpro esse pré-requisito básico. Em seguida o documento diz que a Igreja é portadora dessa missão ao longo da história. Pode ter sido portadora dessa missão, mas não a cumpriu devidamente. A própria história mostra os inúmeros excessos que a Igreja cometeu contra a humanidade, que não agiu com amor frente ao próximo. Até hoje existe muita hipocrisia, se defende o Evangelho nos púlpitos das catedrais ou nos oratórios dos templos, mas na prática não se observa o devido amor ao próximo, geralmente é o contrário.
Reconhece com exatidão a crise social e espiritual em que vivemos e da importância de uma missão evangelizadora para a família. O documento frisa essa missão como sendo da Igreja, entendo que possa ser assim, mas não exclusivamente. Existem diversos discípulos de Jesus espalhados na comunidade e que não estão dentro da Igreja, que podem ser reconhecidos pela sua capacidade de amar ao próximo, de amar uns aos outros. Acredito que o Papa não seja contrário a pessoas como eu, que me considero discípulo do Cristo e que não estão dentro da Igreja, de participar desse esforço de Evangelização, que consiste em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, e não pertencer a Igreja A, B ou C.
Concordo plenamente que propor o Evangelho sobre a família nesse contexto é mais urgente e necessário do que nunca, de procurar viver de maneira fidedigna o Evangelho dentro da família.