Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
04/01/2014 01h01
HUMANAE VITAE

            O documento do Papa Francisco cita a Carta Encíclica Humana Vitae de sua Santidade Papa Paulo VI, publicada em 1968, como mais um esforço da Igreja na educação das famílias. Reconhece este documento que o homem fez progressos admiráveis no domínio e na organização racional das forças da natureza, de tal maneira que tende a tornar extensivo esse domínio ao seu próprio ser global: ao corpo, à vida psíquica, à vida social e até mesmo às leis que regulam a transmissão da vida.

            Lança uma reflexão nova e aprofundada sobre os princípios da doutrina moral do matrimônio: doutrina fundada sobre a lei natural, iluminada e enriquecida pela Revelação divina. Diz que compete ao Magistério da Igreja interpretar a lei moral natural. Lembra que Jesus Cristo, ao comunicar a Pedro e aos demais apóstolos a sua autoridade divina e ao enviá-los a ensinar todos os seus mandamentos, os constituía guardas e intérpretes autênticos de toda a lei moral, ou seja, não só da lei evangélica, como também da natural, dado que ela é igualmente expressão da vontade divina e que a sua observância é do mesmo modo necessária para a salvação.

            Diz que o matrimônio não é fruto do acaso ou produto de forças naturais inconscientes. É uma instituição sapiente do Criador, para realizar na humanidade o seu desígnio de amor. Mediante a doação pessoal recíproca, que lhes é própria e exclusiva, os esposos tendem para a comunhão dos seus seres, em vista de um aperfeiçoamento mútuo pessoal, para colaborarem com Deus na geração e educação de novas vidas.

            Diz ainda que o amor conjugal é plenamente humano, ao mesmo tempo espiritual e sensível. Não é, portanto, um simples ímpeto do instinto ou do sentimento; mas é também, e principalmente, ato da vontade livre, destinado a manter-se e a crescer, mediante as dores da vida cotidiana, de tal modo que os esposos se tornem um só coração e uma só alma e alcancem juntos à sua perfeição humana.

É depois, um amor total, quer dizer, uma forma muito especial de amizade pessoal, em que os esposos generosamente compartilham todas as coisas, sem reservas indevidas e sem cálculos egoístas. Quem ama verdadeiramente o próprio consorte, não o ama somente por aquilo que dele recebe, mas por ele mesmo, por poder enriquecê-lo com o dom de si próprio.

É, ainda, amor fiel e exclusivo, até a morte. Assim o concebem, efetivamente, o esposo e a esposa no dia em que assumem, livremente e com plena consciência, o compromisso do vínculo matrimonial. Fidelidade que por vezes pode ser difícil, mas que é sempre nobre e meritória, ninguém o pode negar.

É, finalmente, amor fecundo que não se esgota na comunhão entre os cônjuges, mas que está destinado a continuar suscitando novas vidas. “O matrimônio e o amor conjugal estão por si mesmos ordenados para a procriação e educação dos filhos. Sem dúvida, os filhos são o dom mais excelente do matrimônio e contribuem grandemente para o bem dos pais”.

            O documento citado pelo Papa Francisco mostra assim avanços no Magistério da Igreja com relação a educação das famílias. Reconhece o avanço humano no conhecimento das leis da natureza e o conseguinte domínio e organização. Reconhece o fundamento do matrimônio sob a lei natural, mas não vai além disso, não aprofunda no que a lei natural exige das criaturas. Quanto ao mandato dado por Jesus Cristo aos apóstolos como guardas e interpretes da lei moral que inclui o Evangelho e a Natureza, tanto um como outro depende de aprendizado. Quanto ao Evangelho o próprio Cristo ensinou as diretrizes que se reproduzem ao longo do tempo. Com relação a Natureza é a ciência quem vem desvendando os seus mistérios e necessita de uma constante atualização dos atuais discípulos de Jesus para melhor aplicar a lei moral. Os instintos e herança genética fazem parte da natureza humana e o devido conhecimento dessa força é importante para aplicar melhor os ensinamentos evangélicos.

            Diz de forma temerária que o matrimônio não é fruto do acaso ou produto de forças naturais inconscientes. Acredito que ainda não temos domínio completo da Natureza para afirmar isso, e pelo pouco que já conhecemos essas forças naturais inconscientes podem sim, ter um papel muito importante na motivação para o matrimonio. A instituição do matrimônio pode ter sido inspirada pelo Criador, mas como é uma criação humana, com certeza dentro dela se reflete nossas imperfeições. Cabe a nós ter humildade, rever os ensinamentos evangélicos, aprofundar no conhecimento científico da Natureza e ajustar passo a passo a instituição matrimonial para que seja mais coerente com o próprio Reino de Deus que é a sua finalidade.

            Agora acredito que o documento esteja certo quando diz que o amor conjugal é plenamente humano, ao mesmo tempo espiritual e sensível. É um ato da vontade livre que desejam se tornar uma só alma e um só coração. Carne da mesma carne, como está escrito na Bíblia. Está cheia de verdade o documento, quando diz que quem ama verdadeiramente o próprio consorte, não o ama somente por aquilo que dele recebe, mas por ele mesmo, por poder enriquecê-lo com o dom de si próprio. Perfeito! Mas para que isso possa acontecer, para que esse amor seja puro até a morte, é necessário que exista plena consciência de quem seja o consorte, o que ele pensa, o que deseja alcançar, quais são seus paradigmas de vida, etc. somente depois de bem conhecer a pessoa que se candidata a consorte, e aceitar esses princípios como seus também, é que se estabelece a condição de um matrimônio consciente e sintonizado com o Evangelho e com a Natureza, onde os preconceitos de toda espécie deixam de existir e prevalece a consciência, onde está escrita a lei de Deus.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 04/01/2014 às 01h01