Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
05/01/2014 03h48
FAMILIARIS CONSORTIO

            O outro documento citado pelo Papa Francisco é a Exortação Apostólica “Familiaris Consortio” de Sua Santidade João Paulo II ao episcopado, ao clero e aos fiéis de toda Igreja Católica sobre a função da família cristã no mundo de hoje.

            Logo na introdução o documento diz que “A família nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura. Muitas famílias vivem esta situação na fidelidade àqueles valores que constituem o fundamento do instituto familiar. Outras tornaram-se incertas e perdidas frente a seus deveres, ou ainda mais, duvidosas e quase esquecidas do significado último e da verdade da vida conjugal e familiar. Outras, por fim, estão impedidas por variadas situações de injustiça de realizarem os seus direitos fundamentais. Consciente de que o matrimônio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade, a Igreja quer fazer chegar a sua voz e oferecer a sua ajuda a quem, conhecendo já o valor do matrimônio e da família, procura vivê-lo fielmente; a quem, incerto e ansioso, anda à procura da verdade; e a quem está impedido de viver livremente o próprio projeto familiar. Sustentando os primeiros, iluminando os segundos e ajudando os outros, a Igreja oferece o seu serviço a cada homem interessado nos caminhos do matrimônio e da família. Dirige-se particularmente aos jovens, que estão para encetar o seu caminho para o matrimônio e para a família, abrindo-lhes novos horizontes, ajudando-os a descobrir a beleza e a grandeza da vocação do amor e ao serviço da vida.”

            Noutro trecho em que fala das Luzes e sombras da família de hoje, o documento diz da “Necessidade de conhecer a situação. Uma vez que o desígnio de Deus sobre o matrimônio e sobre a família visa o homem e a mulher no concreto da sua existência quotidiana, em determinadas situações sociais e culturais, a Igreja, para cumprir sua missão, deve esforçar-se por conhecer as situações em que o matrimônio e a família se encontram hoje. Este conhecimento é, portanto, uma exigência imprescindível para a obra de evangelização. É na verdade, às famílias do nosso tempo que a Igreja deve levar o imutável e sempre novo Evangelho de Jesus Cristo, na forma em que as famílias se encontram envolvidas nas presentes condições do mundo, chamadas acolher e a viver o projeto de Deus que lhes diz respeito. Não só, mas os pedidos e os apelos do Espírito ressoam também nos acontecimentos da história, e, portanto, a igreja pode ser guiada para uma intelecção mais profunda do inexaurível mistério do matrimônio e da família a partir das situações, perguntas, ansiedades e esperanças dos jovens, dos esposos e dos pais de hoje. Deve ainda juntar-se a isto uma reflexão ulterior de particular importância no tempo presente. Não raramente ao homem e à mulher de hoje, em sincera e profunda procura de uma resposta aos graves e diários problemas da sua vida matrimonial e familiar, são oferecidas visões e propostas mesmo sedutoras, mas que comprometem em medida diversa a verdade e a dignidade da pessoa humana. É uma oferta frequentemente sustentada pela potente e capilar organização dos meios de comunicação social, que põem sutilmente em perigo a liberdade e a capacidade de julgar com objetividade. Muitos, já cientes deste perigo em que se encontra a pessoa humana, empenham-se pela verdade. A Igreja, com seu discernimento evangélico, une-se a esses, oferecendo-lhes o seu serviço em prol da verdade, da liberdade e da dignidade de cada homem e mulher.”

            O ponto central nessas considerações do documento, que merece ser detalhadamente analisado, ponto por ponto em outra ocasião, é a necessidade de CONHECIMENTO. Conhecimento da Natureza trazido pela ciência e das repercussões causadas no meio social, nos relacionamentos. Por exemplo, existe uma crônica escrita por Fabrício Carpinejar, em seu livro “Ai meu Deus, ai meu Jesus” editado pela Bertrand Brasil em 2013 que diz assim logo no início com o título – SEXO e sexo:

            “Sexo é tudo para o homem, na primeira colocação do ranking, seguido de futebol e carro. O quarto e o quinto lugares ainda estão vagos.

            “Sexo não é tudo para a mulher, situado no quinto lugar da lista, depoois de casamento, amor, romance e paixão.

            “Sexo é envolvimento para o homem. É capaz de morar com uma mulher que faz sexo maravilhoso. Ele se apaixona pelo corpo para se apaixonar pela alma. Não desgrudará daquela que transa na primeira noite, as demais madrugadas são para confirmar que a estréia não foi uma alucinação. Admira quem é liberta de preconceitos, safada, exigente de posições fora do convencional. A possibilidade de experimentar uma vida extraordinária na cama arrebata sua confiança. O macho partilha de três fantasias: converter uma lésbica, tirar uma prostituta da profissão e casar com uma ninfomaníaca.

            “Para a mulher, envolvimento depende de forte retranca: segurar a primeira noite. Pode ter sexo na primeira manhã ou na primeira tarde. Mas primeira noite, não. Não pode aparentar facilidade, senão ele dispensará o esforço da conquista e não lhe dará valor.

            “Sua metodologia é retardar o grande momento até que ele se renda ao compromisso sério. Três dias de encontros sem nada é o ideal. Caso completar uma semana, é matrimônio na certa. Talvez até o candidato ficar alucinado de tesão a ponto de não diferenciar o que é real do que é imaginário. Existe um momento em que o parceiro, embriagado pelo próprio desejo, diz sim para qualquer pergunta. A fêmea acalenta três sonhos eróticos: que ele não ronque, não durma no sofá e não palite os dentes. Caso a trinca de modos aconteça, ela abrirá mão da fantasia com o dentista, o psiquiatra e o pediatra do filho.

            “O homem nunca reclama do casamento ao transar sete vezes por semana. Chia diante de uma média menor. A mulher reclama do marido se ele pensa em sexo o tempo todo.

            “O homem é o único mamífero que conta há quantos dias está sem transar. Pode perguntar agora ao seu parceiro: não duvido que não mencione as horas e os minutos. Ficar sem sexo é como uma prisão perpétua masculina. Uma contagem de confinamento. Logo depois que ele trepa, inicia de novo seu cronômetro. É um Sísifo dos travesseiros.

            “Mulher apenas contabiliza os dias de abstinência quando completa três meses. O trimestre é um sinal preocupante, a ameaça da seca. Falta de sexo é como gestação para a ala feminina, demora para ser vista.”

            Esta é a linguagem e o pensamento que predomina dentro da comunidade. O matrimônio, o casamento como ensinado pela Igreja, é considerado pelas mulheres e principalmente pelos homens como posto num altar, como está a maioria dos santos. Todos devem ser referenciados, respeitados, mas dentro do templo. Ao sair na rua ou adentrar nos grupos ou na intimidade da alcova, tudo isso fica muito distante. Fazer a junção do comportamento da rua com a ética do Evangelho é uma tarefa que cada discípulo do Cristo, independente da Igreja que ele freqüente, ou que não freqüente nenhuma, mas que tenha a intenção de cumprir com fidedignidade as lições evangélicas, deve procurar fazer, e a partir do seu próprio comportamento.

            Nesse aspecto a Igreja católica tem dificuldade, pois quer ensinar uma coisa que não possui a experiência prática. Nenhum padre ou freira tem a experiência de um relacionamento íntimo homem-mulher com a perspectiva de formar uma família para entrar nessa discussão com bases próprias. É parecido com o que acontece com os Alcoólicos Anônimos. Pessoas que se reúnem para combater o alcoolismo que cada um reconhece ser portador. Esse tipo de atitude traz um grande recurso terapêutico, superior a qualquer outra forma de tratamento que seja empregada. O sucesso é entendido porque todos que ali se acham reunidos conhecem a mesma linguagem do que está sendo abordado: a dependência do álcool. Na Igreja é como se os técnicos, padres e freiras, quisessem ensinar algo do qual eles não tem experiência própria. Perdem grande parte de sua força educacional.   

            Portanto, é assim que entendo e que os próprios textos da Igreja confirmam: o ensino da verdade qualquer que seja ela, desde que seja pertinente a vida dos nubentes, que sejam de interesse para o projeto de vida de cada um, e que seguem os caminhos da Natureza, devem ser feito sem nenhum resquício de preconceito. Apenas com o intuito de esclarecer devidamente o que cada um irá experimentar no futuro e a fazer a devida avaliação se consegue ou não cumprir determinada exigência legal ou espiritual. Neste caso a honestidade de quem ensina e de quem aprende é fundamental.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 05/01/2014 às 03h48