Tenho lutado para entender o Amor, este mesmo com A maiúsculo. O Amor que deve ser a essência de Deus e que ao atingir nossos corações pode se fragmentar em diversos raios, como um prisma faz com a luz. Nenhum desses raios secundários, que geralmente se tornam condicionados a algo ou alguma pessoa, pode ser colocado acima do raio original, o raio branco que contem todos, o raio original do Amor Incondicional.
Jesus, o Mestre de Nazaré, veio a este mundo com uma missão específica, nos ensinar sobre o Amor Incondicional e dizer que a partir de sua aplicação estaríamos construindo o Reino de Deus. Naquela época o próprio amor condicional estava mergulhado na barbárie dos nossos instintos animais, e essas lições de humildade e perdão inclusas dentro do Amor Incondicional, deu a civilização humana uma nova feição. Hoje encontramos a sociedade mais humanizada em comparação ao passado, mas ainda muito brutalizada em comparação com o Reino de Deus do futuro.
Muitas pessoas estudaram as forças que permeiam a alma. Platão dividiu-a em três partes ou funções - razão, paixão e desejo - e concluiu que o comportamento correto resultava da correta harmonia entre esses elementos. William Shakespeare estudou os conflitos da alma entre o bem e o mal, nas suas obras como Rei Lear, MacBeth, Otelo e Hamlet. Santo Agostinho procurou entender a alma hierarquizando as diversas formas de amor, em seu trabalho ordo amoris: amor a Deus, ao próximo, a si mesmo e aos bens materiais.
Também arrisco a fazer meu estudo sobre essa importante força existencial. Certamente não tenho nem o brilho nem a fama dos meus antecessores, mas se por acaso puder adicionar um pingo que seja de compreensão nesta tão ampla discussão, já me sinto por satisfeito. Prefiro seguir essa metáfora do raio principal e de seus derivativos a partir de um prisma. Esse raio principal é o Amor Incondicional, a força suprema do universo, sabedoria imanente e transcendente, construtora e destruidora em busca da harmonia que se espalha pelo cosmo no tempo da eternidade. A minha frágil inteligência, nem a inteligência superior de qualquer ser humano, jamais pode alcançar o seu início nem o seu fim. É importante reconhecer apenas o seu poder criador e nós como suas criaturas. Que possuímos dentro de nós a sua faísca pura que podemos alimentar em sua pureza ou a deformar com nossos desejos mesquinhos. Desde que o jato de Amor atinge o nosso coração humano, de natureza animal, essa luz pura tende a sair contaminada pelos mais diversos interesses e daí as mais diversas formas de amor condicional, geralmente recheados de ciúme e exclusivismo. A partir do amor parental, cujo maior ícone é o amor de mãe, vemos um desfilar de amores condicionais e que seus portadores muitas vezes nem sabem da existência do Amor Incondicional. A grande maioria que o conhece, não consegue ou não quer aplicá-lo.
Eu me contento com essas duas divisões para aprofundar o meu estudo: Amor Incondicional de um lado e amores condicionais do outro. Estou envolvido agora com o trabalho de desmascarar o amor romântico no que ele tem de perverso na geração do egoísmo, de perverter a função fraterna da família na construção de uma sociedade justa e harmônica, sem miseráveis do lado da pobreza ou do lado da riqueza. Mesmo que isso me deixe como um pária da sociedade que é estruturada sobre a hipocrisia de uma família que diz seguir a lei do Amor, e a minha própria exclusão é uma prova de que isso não é verdade.