Os bons espíritos me orientam para que eu procure ouvir com mais atenção àquelas pessoas que por um motivo ou outro, justos ou não, se tornaram meus adversários. São essas pessoas que procuram fazer uma retrospectiva de minha vida, uma espécie de Raios-X total, no sentido de encontrar erros e contradições no meu comportamento e jogar sem compaixão na minha frente. Este passa a ser um serviço de grande importância, uma vez que eu, como interessado em defender o meu ego, não tenho condições de perceber. Os amigos, por outro lado, para não querer me ofender, evitam colocar à luz essas verdades sobre meus erros. Então, não posso desperdiçar esse grande serviço que meus adversários me prestam.
É assim que eu vou ficar mais atento a acusação de que estou ficando louco, no mínimo fanático ou fascinado, por eu ter decidido me tornar um discípulo radical do Cristo, de praticar nos meus atos o Amor Incondicional que Ele ensinou, e com esse propósito inviabilizar a família nuclear de base romântica que construí; que vivo agora como ermitão, em apartamento sozinho, sem condições de conviver com ninguém que preza o amor romântico e exige o exclusivismo das relações íntimas; que vivo dentro de uma incoerência, de amar tanto e a todos e por ninguém ser amado da mesma forma.
Estarei realmente louco? Estou sendo fanático ou fascinado? Estou sendo nocivo a mim mesmo e aos outros, principalmente àqueles que estão mais próximos de mim? Entendendo que ainda tenho sanidade mental suficiente para avaliar a acusação, é isso que farei agora.
Reconheço que meus adversários têm razão nas suas acusações, quando eles consideram o mundo deles em comparação com o meu. A medida que modifiquei meus paradigmas para se ajustarem ao Amor Incondicional, me afastei desse mundo material, egoísta e me aproximei do ideal do Reino de Deus – como Jesus falou, a partir da transformação do meu coração. Assim, quando consideram o meu comportamento como anormal dentro de nossas normas e práticas culturais atuais, sou realmente anormal, reconheço. Mas quanto a loucura, não! O louco não possui esse poder de argumentação e reconhecer sua própria anormalidade dentro de um contexto cultural.
Então, qual é o motivo de minha anormalidade já que não é devido a loucura? Eu credito a esses aspectos: intenção, discernimento e coerência. Intenção de ser justo, fazer o bem e progredir na vida. Discernimento para procurar entre todas as doutrinas e lições de como viver, qual a melhor que se ajusta às minhas intenções. E coerência para aplicar na vida prática todos os princípios absorvidos e considerados como corretos, mesmo que isso vá de encontro a uma cultura milenar fortemente estabelecida.
Sei que muitos argumentos que eu possuo, quanto ao Amor Incondicional e a construção do Reino de Deus, estão no mundo transcendental, no campo da fé. É tanto que o meu principal Mestre, cuja existência material já deixou de existir a quase 2000 anos, ainda o considero como meu principal instrutor e que está sempre presente quando eu o invoco, juntamente com o Pai do qual somos filhos obedientes. Esta é a compreensão que eu tenho e que destoa da compreensão dos meus adversários por esses motivos me acusam de lunático, fanático ou alucinado.
Agradeço a preocupação deles com minha sanidade mental, mas prefiro acreditar no mundo que o Mestre falou e da possibilidade de sua realização, mesmo que eu tenha que enfrentar os dentes dos leões ou as fogueiras da intolerância, como aconteceu no passado. O que eles dizem ser loucura, eu digo que é fé; o mundo que eles defendem não é o mesmo em que eu vivo; a vida que para eles termina, para mim é eterna; para eles o meu mundo é loucura, para mim é a meta de vida.