Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
17/02/2014 00h01
MALEDICÊNCIA

            Hoje resolvi falar do pecado da maledicência, que é tão forte no meio social. Sei que ela não é tão forte em mim, mas sei que preciso de vigilância, pois ela sempre quer se expressar. Se eu falo mal de uma pessoa que está ausente, o único resultado será esse: a maledicência diminuirá o zelo e entusiasmo que os amigos poderiam ter por aquela pessoa e tenderá torná-los apáticos ou mesmo hostis. A maledicência causa dissensão e é o principal fator a gerar nos amigos a disposição de afastar-se.

            Coloco aqui a minha disposição, se qualquer amigo meu ouvir de mim a detratação de alguém ausente, autorizo que chame minha atenção, se possível de maneira espiritual e amável, mas se não conseguir pode ser ignorante com suas palavras, suportarei! Chame a minha atenção com o objetivo de deter-me, deixando bem claro na sua intervenção: servirá essa difamação a algum fim benéfico? Contribuirá para a beleza do ser humano? Promoverá a honra duradoura dos amigos? Fortalecerá a fé sagrada? Construirá a Família Universal? Trará, enfim, algum benefício a qualquer pessoa?

            Acredito que eu não irei responder afirmativamente a nenhuma dessas perguntas. Não, jamais! Em minha plena consciência sei que todas as respostas serão negativas, pois sei que a maledicência fará justamente o contrário. Ela assentará uma camada de pó tão espessa sobre os corações que os ouvidos não ouvirão, nem os olhos contemplarão a luz da verdade.

            Mas outro aspecto deve ficar bem claro: esse efeito da maledicência, tão perverso no relacionamento com o irmão, não tem a força do tempo, não é eterna. Ela só exerce seus efeitos enquanto a verdade não surge e coloca nos devidos lugares o que ficou mal informado. Todo ser humano, por mais ignorante e pecador que seja, tem o seu lado bom, virtuoso. Deus nos orienta para focar nossa atenção nas virtudes que o próximo apresenta e deixe os seus defeitos e vícios para Ele na condição de Pai e de Juiz. Nós somos simplesmente irmãos uns dos outros, e de forma igual, cheios de defeitos também.

Parece até que caminhamos na vida em fila indiana, um atrás do outro. Cada um com dois balaios, um na frente e outro atrás. Na frente jogamos nossas virtudes e atrás nossos defeitos. Então, estou acostumado a ver só o que está no meu balaio na frente, minhas virtudes, e esqueço que atrás eu tenho outro balaio cheio de defeitos. Para o companheiro que vai à minha frente eu vejo o balaio dele cheio de defeitos e a tendência é comparar com minhas virtudes. Esqueço que ele também tem virtudes que estão à sua frente e que eu também tenho defeitos que vão atrás de mim. É o esquecimento desse detalhe que gera a maledicência, pois parece que eu estou cheio de virtudes e o próximo cheio de defeitos.  

Sei que falar sobre a maledicência, sentado numa escrivaninha e escrevendo o texto com o coração cheio de espiritualidade como estou agora, é muito fácil, e dizer que não sou maledicente, que eu não faço isso. O teste real será feito na oportunidade dos relacionamentos, quando eu tiver com uma ou mais pessoas. Quando vier na lembrança alguma coisa de ruim que outra pessoa fez e que se eu falar o acontecido, demonstrarei que eu jamais farei coisa semelhante, servirá como uma vacina para quem me ouve julgar que eu sou uma pessoa muito boa, que tal pecado eu nunca cometi ou cometerei. Acontece que eu posso ter colocado no meu balaio traseiro algo muito parecido, ou semelhante mesmo, e que eu tinha esquecido. Posso também não imaginar que no futuro eu posso me deparar com situação muito parecida ou semelhante e que meu comportamento será igual ao que agora eu critico no próximo.

Tem outro aspecto importante. Mesmo que eu não tenha feito, nem nunca terei oportunidade de fazer o comportamento que critico, será que eu tenho na minha consciência todos os argumentos e motivos para que o próximo tenha tido aquele comportamento que agora entrou na maledicência? Algumas pessoas nem querem saber o motivo, criticam simplesmente. Outras procuram argumentos que justifiquem, mas como não encontram passam a criticar. Mas esse é um campo que nossa Inteligência não consegue alcançar. Por mais que eu seja inteligente e procure ouvir com cuidado e atenção todos os argumentos do próximo, jamais ele irá dizer tudo e com total transparência, e jamais eu irei raciocinar dentro da perspectiva dele, pois eu tenho outros valores que podem ser contraditórios frente aos dele. Essa é uma tarefa que somente Deus pode fazer com perfeição, pois foi quem o criou e que pode sondar o seu coração a qualquer momento. Por isso somente Deus pode julgar!

Como a maledicência é uma espécie de julgamento que a minha mente faz, um julgamento do meu racional frente as leis que considero  importantes, ampla possibilidade de errar surge das minhas próprias deficiências, racionais, emocionais e informativas. Além do que eu deixo que se forme uma ameaça contra a minha pessoa, pois da mesma forma que eu julgar, serei julgado; da mesma forma que eu seja maledicente, serão maledicentes comigo. E a justiça divina está sendo aplicada. Quando eu deixo de ser maledicente, não tenho culpa a pagar com o mesmo castigo da maledicência. Se alguém mesmo assim é maledicente comigo, não tenho mais nada a ver com isso, agora é com essa pessoa e Deus. E como eu já tenho esse conhecimento, posso dizer com toda honestidade: Pai perdoa-os, pois não sabem o que fazem!

Publicado por Sióstio de Lapa
em 17/02/2014 às 00h01