Existe um adágio que diz que não podemos servir a dois senhores. Passei por uma situação parecida ontem, quando estava gravando um programa de televisão.
Tenho uma compreensão cada vez mais forte do mundo espiritual e de sua lei principal, o Amor Incondicional. Vivo dentro do mundo material que tem sua organização efêmera e que absorve a nossa mente quase que integralmente.
Como a compreensão do mundo espiritual mostra que a vida real se processa naquela dimensão, eu tenho que dá prioridade as exigências que partem de lá. Tenho que fazer esse esforço cognitivo e voluntário na aplicação dessa hierarquia e deixar os interesses materiais em segundo plano.
Dentro dessa conjuntura fica configurada a criação de ”dois senhores” no meu campo mental e que disputam a prioridade de minhas ações. A quem atender, ao mundo material ao qual pertence meu corpo e que está submetido às exigências de sobrevivência através da reprodução, ou ao mundo espiritual ao qual pertence a minha alma na perspectiva da vida eterna? Já decidi que irei atender com prioridade as exigências do mundo espiritual, mesmo que sofra a pressão do mundo material devido as necessidades do meu corpo biológico e através do qual a minha alma se expressa.
Portanto, ontem foi um dia decisivo, de mostrar a quem eu iria servir frente ao programa de televisão. Fui convidado a falar sobre o programa de Extensão Universitária que estamos elaborando dentro da comunidade, intitulado “Foco de Luz”, com base no trabalho voluntário e de forte conteúdo espiritual.
Frente às câmeras fui instado pelo entrevistador a falar sobre a motivação e o embasamento teórico desse trabalho. Foi o momento de decidir a quem eu iria servir. Eram três blocos de apresentação a forma de construção do programa. No intervalo do primeiro para o segundo bloco, eu senti que a minha fala estava localizada dentro dos valores acadêmicos e materiais. Percebi que devia mostrar a motivação espiritual do trabalho em primeiro plano, mesmo que isso me deixasse alvo de crítica por meus colegas acadêmicos, e, principalmente aqueles que não conseguem compreender nem aceitar o mundo espiritual.
Mesmo com essa intenção dentro da mente eu sabia que minha ação no sentido de dar prioridade aos valores espirituais logo iria perder força quando o programa recomeçasse, pois naturalmente iria assumir o comando da minha mente os valores materiais que já estavam condicionados por minha formação materialista e pelo tempo. Mas eu não queria que isso acontecesse e rezei no pequeno intervalo para que o Pai me desse as forças necessárias e que eu direcionasse a minha fala nos interesses da vontade dEle, pois era a isto que eu me proponha.
Consegui fazer isso em alguns momentos, não em todos. Mas acredito que tenha passado ao telespectador a prioridade espiritual desse trabalho. Consegui falar da minha condição de criatura frente ao poder criador de uma força básica, inteligente, e que permeia o universo, que permanece criando em toda a extensão de sua Natureza. Força essa que denomino de Deus, cuja energia eu sinto na forma do Amor Incondicional. Essa energia leva a minha compreensão de acolher todas as criaturas deste universo como minhas irmãs, pois originadas de uma mesma fonte criadora, de um mesmo Pai ou Mãe, principalmente o meu semelhante. Esse conhecimento faz com que eu veja a necessidade de harmonia no processo de evolução que atende a lei do progresso existente em todas as dimensões da vida. Faz ver que os valores materiais são efêmeros, que o tempo logo destrói, e o que fica é tudo que eu produzi de forma a harmonizar o meu comportamento com as necessidades de todos os meus “irmãos”, seres viventes ou não. Enfim, passei a informação de que tudo que fazemos aqui no mundo material tem a finalidade de ser aproveitado no mundo espiritual para o qual retornamos após a falência do corpo físico, no fenômeno conhecido como morte.
Eram essas as informações espirituais que eu deveria passar para a comunidade com todo o aparato da ciência material, mas não a ela subordinada. A ciência é um instrumento valoroso para investigar a Natureza e suas leis, mas devido a nossa deficiência intelectual, muitas vezes entramos em caminhos divergentes da verdade que só o tempo mais adiante irá nos fazer corrigir.
Terminei o programa sabendo que procurei servir ao “Senhor espiritual” mesmo com muito conteúdo dentro dos valores de interesse do “Senhor material”. Mas senti que minha consciência estava satisfeita, afinal continuo ainda com muitos defeitos de caráter e até de inteligência que só o tempo aliado à minha vontade pode corrigir.