Enquanto nós observamos um aumento da violência que é registrada diariamente pelos órgãos de comunicação e que se refletem nas estatísticas, o psicólogo Steven Pinker, um dos principais cientistas do mundo, ex-diretor do Centro de Neurociência Cognitiva do MIT aborda o problema em seu livro “Os anjos bons da nossa natureza” partindo da premissa que ainda não parece ser o senso comum: a taxa de violência está se reduzindo no mundo. Existe um corpo de dados mostrando que isso é verdade em quase todas as sociedades, em quase todas as escalas de tempo. Fósseis humanos de 50.000 anos mostram que as agressões eram uma forma de morte muito mais comum do que em civilizações de 5 mil anos atrás. Do mesmo modo, analisando as taxas de homicídios em sociedades medievais também se constatou que elas eram muito maiores que as estatísticas criminais de cinco anos atrás. Com esses dados vem em seguida a pergunta: estaria a humanidade numa trajetória positiva rumo à erradicação da violência? Num mundo ainda castigado por guerras e conflitos, pode ser difícil acreditar nisso, mas os dados reunidos por cientistas políticos e historiadores sugerem que sim. Essa constatação permite agora a psicologia estudar a violência de forma retroativa: o que conduziu o processo de pacificação observado na trajetória da espécie humana?
Essa é a empreitada que Steven Pinker toma para si nesse livro: persuadir os incrédulos da perspectiva otimista, para depois mostrar como os “anjos” da mente humana aplacaram seus “demônios”. Pode a empatia inibir a impulsividade? A lógica da colaboração anula os incentivos para o conflito? Numa detalhada análise multidisciplinar ele mostra como o sucesso dos humanos em reduzir grande parte da violência que se praticava antes aponta agora um caminho para neutralizar o que resta dela. Para fazer isso ele vai desenvolver o seu trabalho em seis tendências, cinco demônios interiores, quatro anjos bons e cinco forças históricas.
A primeira tendência aconteceu na escala milenar, foi a transição da anarquia das sociedades caçadoras, coletoras e horticultoras para as civilizações agrícolas com cidades e governos, iniciadas por volta de 5 mil anos atrás. Com essa mudança veio uma redução nos ataques e rixas crônicas que caracterizavam a vida num estado natural e uma diminuição de aproximadamente cinco vezes nas taxas de mortes violentas. Foi chamada essa imposição da paz, Processo de Pacificação.
A segunda tendência abrangeu mais de meio milênio, entre o final da Idade Média e o século XX, quando os países europeus tiveram um declínio de dez a vinte vezes em suas taxas de homicídio. Credita-se esse efeito a consolidação de territórios feudais em grandes reinos com autoridade centralizada e uma infraestrutura de comércio e conhecida como Processo Civilizador.
A terceira tendência teve início na Idade da Razão e do Iluminismo europeu nos séculos XVII e XVIII com movimentos organizados para abolir formas de violência socialmente sancionadas como o despotismo, a escravidão, o duelo, a tortura judicial, a execução supersticiosa, as punições sádicas e a crueldade com os animais. Foi chamada de Revolução Humanitária.
A quarta tendência deu-se após a Segunda Guerra Mundial quando as grandes potências e os Estados desenvolvidos pararam de guerrear entre si. Esse estado de coisas foi chamado de Longa Paz.
A quinta tendência também diz respeito ao combate armado, porém é mais sutil. Desde o fim da Guerra Fria em 1989 todos os tipos de conflito organizado, como guerras civis, genocídios, repressão por governos autocráticos e ataques terroristas, diminuíram no mundo todo. A esse avanço foi chamado de Nova Paz.
Finalmente, a era pós-guerra, inaugurada simbolicamente pela Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, testemunhou uma crescente repulsa pela agressão em escalas menores, por exemplo, na violência contra minorias étnicas, mulheres, crianças, homossexuais e animais. Esses desdobramentos do conceito de direitos humanos – direitos civis, direitos das mulheres, direitos das crianças, direitos dos homossexuais e direitos dos animais – vêm sendo defendidos em uma cascata de movimentos a partir dos anos 1950 até os nossos dias, que podem ser chamados de Revoluções dos Direitos.
Esse trabalho do Steven Pinker, bastante extenso e acadêmico, parece não considerar o aspecto espiritual, apesar falar em anjos e demônios, mas parece com um tom meramente ilustrativo dos aspectos biopsicológicos que ele quer considerar, e não a interferência do mundo espiritual como eu conheço. No próximo texto irei abordar os demais aspectos do seu estudo e tentar acoplar o meu conhecimento espiritual no contexto acadêmico levantado.