Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
28/03/2014 23h59
PERDÃO

            Este foi o tema que se tornou central que fazemos hoje, sempre nas sextas feiras: o perdão. Esta é uma das armas do soldado do bem, ao lado do Amor. O Amor é sua espada, o perdão o seu escudo.

            Um colega colocou a sua visão quanto essa questão na relação com seu pai. Disse que tinha lido um livro o qual mostrava duas facetas do perdão. A primeira era o aspecto da vingança, que quem perdoa abre mão da vingança e que ele concorda. O segundo é com o aspecto de eximir de culpa aquele que nos fez mal, e que ele não concorda com isso. Colocou o exemplo do seu pai que foi muito perverso na educação que lhe deu, que lhe causou tanta dor na alma e que espera que ele pague por isso. Todos do grupo discordaram desse pensamento. Eu fiz a comparação com o comportamento do meu pai com relação a mim.

            Eu disse que enquanto ele teve um pai que lhe educou com tanto rigor e que tantas marcas causou em sua alma, eu tive um pai com o comportamento ao contrário. Era uma pessoa omissa, centrada mais em seus desejos corporais. Minha mãe não suportou esse comportamento dele e foi morar em outra cidade me levando com ela. Eu tinha cinco anos de idade nessa época. Não consegui nem ao menos fixar o rosto dele na minha memória. Ele não colaborou em nada com a minha educação nem com a minha criação. Minha mãe sem recursos, teve que deixar minha avó me criar e educar na sua casa que era também o seu local de trabalho. Eu tive que trabalhar logo cedo com ela em várias atividades, desde varrer e arrumar a casa, até empurrar um carrinho de confeitos toda a noite para a porta do cinema. Além da sua rigidez na minha educação e que também me deixou marcas no psiquismo. Ela não queria que eu brincasse com meus colegas fora de casa, ficava eu sozinho dentro de casa brincando com tampas de garrafas, criando um mundo de fantasias. Em pleno vigor da adolescência, ela ridicularizava minhas motivações para namorar as garotas. Se eu brigasse lá fora, sempre eu era o culpado quando chegava em casa. Isso formou na minha personalidade um forte contexto inibitório que realçava a minha introspecção. O meu pai não surgiu em nenhum momento desses da minha vida. Nem mesmo de foram anônima, a distancia, através de carta ou de telefonemas. Não ouvia o som da sua voz, muito menos a sua imagem, os seus toques ou a cor do seu dinheiro.

            Tudo isso seria motivo para que eu não perdoasse os erros do meu pai. Mas perdoei, e, confesso, não tive nenhuma dificuldade. Parece que essa capacidade de perdoar eu já a desenvolvi em outras vivências e que agora eu só faço a sua aplicação sem maiores problemas na consciência. Não tenho desejos de vingança contra ele ou exijo que ele pague por sua culpa. Sei que existe uma lei divina da qual ninguém pode escapar. O nosso papel aqui neste mundo material é aprender a arte de amar e dentro dela está o perdão. O papel de juiz fica para Deus que sempre mostra na Natureza a forma daquele devedor pagar por suas culpas. Isso não é de minha responsabilidade, julgar ou fazer pagar.

            Também fiz uma consideração com os meus próprios erros para mostrar que mesmo com o perdão a pessoa não se exime da obrigatoriedade de pagar por isso. Assim que terminei o curso médico, eu pensava que a mulher tinha o direito total do seu corpo e por isso podia fazer o que quisesse com ele, até desalojar uma criança indesejada através do aborto. Cheguei a aconselhar e apoiar diversas mulheres com esse propósito. Tenho diversos abortos registrados na minha história. Depois que aprendi um pouco mais sobre a vida, percebi que eu estava errado, que a mulher tem o direito ao seu corpo, mas deve respeitar a vida que foi gerada dentro de si. Então, com a mesma facilidade que eu perdôo a quem me tem ofendido, eu também me perdoei. Mas isso não me eximiu da culpa, do erro que cometi, da necessidade de corrigir. Assim, também desenvolvo atividades voluntárias onde procuro colocar todo o Amor que eu aprendi em prática. Estou engajado em diversas ações em nome de Deus, são projetos que Ele colocou em minha consciência e que eu procuro cumprir sempre com afeto, pois aprendi também que o Amor cobre uma multidão de pecados.

            A minha consciência mostra que esse meu engajamento em projetos tão fortes que o Pai coloca na minha frente, serve mais como uma convocação para o cumprimento de um dever, mesmo que isso me deixe na condição que me encontro hoje, como um nômade do destino, um paladino do amor, sem ter uma pessoa a me esperar quando eu chegar em casa, mas com tantas casas dispostas a me abrigar com afeto por onde eu andar. Estou pleno do que faço em nome de Deus, pois sei que são as oportunidades que Ele me oferece para corrigir na minha alma as marcas dos erros que cometi.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 28/03/2014 às 23h59