Ao voltar ontem para casa, terça-feira, por volta das 23h, vejo na calçada três meninas que acenam para eu parar o carro. Eram prostitutas, talvez menores de idade. Sempre que eu as vejo “trabalhando” dessa forma, sinto o impulso de fazer alguma coisa para ajudá-las, pois já coloquei em algum dia neste diário a interpretação que tenho da minha irmandade especial com elas. Sou tentado a parar e dar alimentos, sorvetes, picolés como já fiz.
Desta vez eu não tinha nenhum alimento no carro, mas poderia parar para lhes dar algum dinheiro. Mas dar dinheiro dessa forma, sem nenhuma vinculação, sem nenhum propósito?... Seria uma ação pra mim constrangedora, para elas talvez assustadora. Sei que nesse trabalho delas são encontrados diversos tipos de pessoas, as mais bizarras possíveis. Eu poderia ser mais um.
Fiquei a matutar nessa questão durante todo o trajeto para casa. Certamente que estou paralisado nas minhas ações de ajuda a favor delas. Devo encontrar uma forma de iniciar o trabalho contando com o engajamento delas, que elas percebam o caráter divino do que se deseja fazer, colocando fora de objetivo o prazer do corpo que elas comercializam. Elas devem fazer uma reflexão de suas condições humanas e de filhas do mesmo Pai que no momento nos dá a oportunidade de nos reunir fraternalmente e não sexualmente.
Foi a partir daí que surgiu a elaboração de uma idéia que pode ser colocada em prática sem tanto constrangimento para ambos lados, o meu enquanto pagante, cliente, e o delas enquanto recebedoras, profissionais.
A idéia seria esta: eu atenderia o chamado e pararia o carro ao lado delas. Conversaria com as três. Perguntava por quanto cada uma fazia um programa sozinha, e quanto seria para as três juntas. Depois de elas dizerem o preço do tempo das três durante uma hora, eu tentaria regatear, dizendo que seria um trabalho diferente, que não envolveria muito esforço ou risco para elas. Acertávamos o preço e eu deixaria todas entrarem no carro. Diria que eu iria parar em algum lugar para comer alguma coisa e conversarmos. Que isso estaria incluído no tempo que acabava de contratar.
Parava o carro num restaurante tradicional ou uma pizzaria e deixava que elas escolhessem o cardápio. Então eu iniciaria o assunto, querendo saber o nome de cada uma, a quanto tempo trabalhavam daquela forma, se tinham algum sonho na vida, se tinham alguma associação que cuidassem dos interesses delas.
Durante essa conversa eu teria condições de fazer um diagnóstico psicossocial de todas e fazer uma proposta de organização e de participação nos nossos projetos sociais. Mostraria a elas o valor que elas têm enquanto ser humano e filhas do mesmo Pai, que por ter esse tipo de trabalho não significa que elas mereçam ser discriminadas, que a honra se encontra na pureza do coração.
Depois da conversa e do jantar, chegaria o término da hora contratada. Eu lembraria isso prá elas e diria que seria melhor todas irem para suas casas, refletirem no que conversamos e dormirem. Voltaria no carro para deixá-las no mesmo lugar após trocarmos telefone e e-mail para o caso de alguém querer mais alguma explicação sobre o que conversamos. Explicaria que tinha agido assim porque assumi me comportar como um instrumento de Deus e que Ele me orientou que eu me comportasse justamente dessa forma, sem ir a busca do prazer corporal que elas pudessem me oferecer, mas em busca da graça do Pai por fazer a Sua vontade.