Sei como todos sabem que temos uma origem biológica, que temos um pai e uma mãe na origem de nossa vida material. Poucos sabem, no entanto, que também temos uma vida espiritual e que possuímos um Pai primordial, aquele que construiu todo o universo e que continua criando. Portanto, sei que sou filho do homem e filho de Deus. Tudo vem de Deus, tudo tem dois significados. A minha existência tem um significado biológico e outro espiritual. O significado biológico implica na permanência da vida biológica ao longo do tempo, que eu atenda os instintos que Deus criou dentro do meu corpo para a preservação e reprodução. O significado espiritual é que a vida real se processa no mundo espiritual e que o nosso espírito precisa evoluir no campo moral e ético, usando a Terra como escola e o corpo como campo de estágio, sabendo usar os seus recursos instintivos para potencializar o Amor Incondicional de natureza divina.
Assim, o filho do homem possui dentro de si as forças do egoísmo que podem se manifestar como o mal; o filho de Deus sabe da existência dessa maldade em potencial que existe na estrutura do nosso corpo e que precisa aprender a domesticá-la para os princípios estreitos do bem e não para os prazeres largos do individualismo.
O filho de Deus pode fazer a vontade do Pai ao partilhar essa verdade que descobriu dentro de si, dentro do filho do homem, com os irmãos que ainda vivem envoltos nas trevas. Não deve de ter medo de falar para todos, os que queiram e os que não queiram ouvi-lo. Basta ter compaixão pela humanidade e abrir a boca. Falar do que o coração está cheio. O segredo é esse: compaixão! Compaixão pelos homens, por todos, por tudo, pois tudo faz parte de Deus! Ser capaz de olhar nos olhos de uma formiga e ver a face de Deus. Não ter medo de morrer, por entender que ela não é uma porta que se fecha, ela se abre.
Não deverei ter medo de falar, Deus falará por mim. Eu vim do Mata-Sete, uma região de Macau, um setor de bebidas e prostituição. Cresci e fui educado nessa região. Muitos diziam que eu não iria servir para nada, pois nada que viesse desse lugar poderia prestar. Mesmo assim diziam de Jesus, que nada que viesse de Nazaré poderia servir. Quando Deus quer coloca as palavras certas na nossa boca, vasta aceitarmos essa condição. Foi isso que Jesus fez; é isso que devo fazer.
Jesus sabia da dificuldade que o povo teria de entender a sua mensagem e usava muito os recursos das parábolas. Era um semeador da verdade. Ele semeava como o agricultor que joga as sementes, as pessoas que o escuta são as pedras e espinhos que dificulta o eclodir da semente. A semente é o Amor tem que tem de encontrar um solo fértil para se reproduzir e alimentar uma nação. Ontem eu era um solo árido, cheio de pedras e espinhos, mas acreditei na mensagem, deixei a semente crescer no meu coração, e agora que ele está cheio já posso também sair a semear. Não preciso ir à escola para aprender a semear, a falar; basta dizer do que o meu coração está cheio; basta agir de acordo com o que eu falo; basta amar como Deus me ama!
Existe um risco, e Jesus também já sabia disso: o filho de Deus está falando para os filhos dos homens, aqueles que possuem os instintos em polvorosa, que desejam poder, riqueza, influência... Que podem usar a semente do Amor como símbolo em bandeiras de carnificina entre irmãos, como aconteceu com os cruzados; que podem usar a semente do Amor dentro de livros intolerantes capazes de condenar os pensamentos discordantes ao suplício das fogueiras, como aconteceu na inquisição. Existe o risco do objetivo da construção do Reino de Deus se transformar em guetos de isolacionismo, em cortiços de miserabilidade, em favelas de violência.
Esta é a grande guerra do bem contra o mal, da verdade contra a ignorância, da luz contra as trevas. Acima de tudo tremula a bandeira do Amor e quem a levar nas mãos com honestidade, independente de sua origem ou de recursos materiais, estará sendo o instrumento de Deus.