Existe um consenso de que a família é a célula básica da sociedade, desde os conceitos acadêmicos até os espirituais. Então, se queremos ter uma sociedade saudável, devemos criar uma família saudável, do ponto de vista individual e principalmente, coletivo.
Vou abordar agora neste espaço o conceito ideal de família e que existe como ícone a Sagrada Família, formada por José e Maria. Vamos observar logo de imediato que o padrão idade e virgindade que são colocados dentro do padrão utópico da família como idealizamos não se cumpre. Maria era virgem quando conheceu Jose, mas este já havia sido casado e tinha filhos, portanto ele não era virgem. A idade também não foi equilibrada, José era muito mais velho que Maria. E finalmente, o mais complicado, a paternidade dos filhos; Jesus não era filho de José.
Observamos assim que o ícone da Família Sagrada não preenche os critérios de uma família ideal, uma família utópica.
Mas isso não retira a importância da família para a vida individual e coletiva, para a formação de uma sociedade saudável. E qual é a sociedade mais saudável que podemos imaginar? Aquela prevista por Jesus, com base no Amor Incondicional e que formará o Reino de Deus. Pode ser mais uma utopia, mas Jesus, como um excelente educador, nos disse que isso seria possível, desde que fizéssemos uma transformação radical em nosso comportamento, a partir da reforma íntima, dos instintos e pulsões próprios da natureza animal.
Portanto, fica a compreensão que a estrutura familiar é importante para a estrutura de uma sociedade saudável e assim sendo a família também deve ser saudável no sentido grupal (parentes), biológico, individual e social.
Observamos sérias dificuldades nos relacionamentos humanos em todos os níveis, individual, grupal e social. Dessa forma podemos concluir que as famílias estão sendo formadas com algum tipo de problema muito severo, mesmo que na aparência todas estejam dentro de padrões aceitos como corretos dentro da cultura.
Jesus veio nos ensinar sobre o Amor como a maneira que tínhamos de construir essa sociedade alternativa, fraterna. Esse Amor que Ele nos ensinou era diferente daquele amor que já era praticado, o amor que motivava a formação da família e que teve origem no romantismo. Era o amor romântico e que até hoje é sentido com muita ênfase e que em muitas ocasiões se confunde com o Amor Incondicional.
Temos assim duas formas de sentimento para construir a família. Até hoje o amor romântico permanece de forma quase que exclusiva na formação da família. Daí surge o exclusivismo, o egoísmo, o ciúme, a intolerância, a posse do outro. O Amor Incondicional não é ao menos considerado na formação da família. Esse é o principal fator de distorção do ideal social que aponta para a fraternidade, enquanto as famílias são construídas com base no exclusivismo, no egoísmo. Por mais que eduquemos, evangelizemos e procuremos criar a sociedade ideal do Reino de Deus, jamais iremos conseguir se continuamos a construir famílias com base no amor romântico que é contrário ao que preconiza o Amor Incondicional.
Essa incompatibilidade ideológica entre formação da família e construção da sociedade nos deixa mergulhados num ambiente aparentemente esquizofrênico, onde se defende um ideal e se pratica outro.