Viajo semanalmente para Caicó sempre pela madrugada. O sol ainda não tem nascido e tudo está escuro. Na estrada como não há luz artificial eu dependo da luz do carro para continuar no caminho. Foi a partir daí que fiz esta reflexão, comparando esta minha ação de viajar pela madrugada e com o processo da vida.
Também entrei na vida numa espécie de escuridão consciencial, não consigo lembrar naturalmente de nenhum dos fortes eventos que aconteceram comigo durante o nascimento. Sei apenas o que me falaram, confirmado por alguns fatos que posso comprovar. Dizem que o meu parto foi muito difícil, eu fui o primogênito, era uma criança de cabeça nem tão grande assim, mas como iria passar por um canal que nunca havia dado passagem a algo tão grande, justificava todo o trabalho e risco que corri, junto com minha mãe. Dizem que foi necessário uma promessa ao principal santo do mês, para que se eu escapasse ser colocado o nome dele em mim. Foi assim que aconteceu, recebi o nome dele por ter vindo ao mundo e passar a respirar, mesmo com as marcas dos dedos da parteira que foi me arrancar com suas mãos do ventre da minha mãe.
Nada disso eu lembro, a escuridão era total e eu ainda não iniciara a minha caminhada na vida por conta própria. A escuridão foi se desfazendo lentamente através da educação que eu recebia em todos os lugares, principalmente no lar e na escola. Minha avó que me criava, mesmo sendo uma pessoa rude e ignorante, teve essa grande percepção da vida e me colocou dentro da escola e da igreja católica. Assim foi como se eu tivesse ao meu dispor dois tipos de transporte coletivo a me transportar pela estrada da vida enquanto a luz do dia (verdade) ia surgindo e clareando minha compreensão.
Cheguei ao ponto de não mais depender do coletivo para caminhar na estrada da vida, eu podia adquirir o meu próprio transporte e fazer a minha própria condução pela estrada que eu achasse mais conveniente, sem depender mais da vontade do coletivo, de ser submetido a vontade daquele motorista ou cobrador.
É neste ponto que estou. Dirijo o meu próprio carro por uma estrada escura e que clareia lentamente à medida que o sol aparece. Inicialmente eu dependo quase que exclusivamente da luz artificial do meu carro para entrar na estrada que quero e dirigir para o meu objetivo. Não vejo nada do que está ao redor, apenas aquilo que o farol do carro consegue focar à frente para que eu obedeça os sinais de trânsito e não saia do seio da estrada. Mas a medida que o dia vai clareando eu deixo de depender dos faróis do carro e consigo perceber melhor todas as indicações da estrada e também perceber com clareza tudo que existe ao meu redor. Plantas, animais, casas, pessoas e até outros caminhos. A verdade se descortina à minha frente mostrada pela luz do sol, assim como a verdade entra na minha consciência mostrada pelo Espírito Santo de Deus, que pode usar qualquer recurso à sua disposição para isso. Eu posso agora usar o meu livre arbítrio com mais amplitude, posso mudar de estrada, de caminho, se achar conveniente.
Dessa forma a minha vida agora se desenvolve com o domínio pleno da minha consciência durante a luz do dia e assim espero caminhar até a existência final do meu organismo. Existe a possibilidade de antes que aconteça a falência inevitável do corpo, eu entre num novo período de escuridão, quando o cérebro adoece, principalmente pelo Mal de Alzheimer e a consciência não pode mais ser acessada, como aconteceu durante a fase de recém nascido.
Essas são as vicissitudes da vida, dos caminhos que posso optar em percorrer. Espero que eu esteja sempre iluminado pela luz que vem do Criador e que minha consciência esteja sempre em sintonia com Ele e disposta a fazer a Sua vontade como se fosse a minha.