Ontem foi mais um dia de estudo na Associação Médica. Como havia sido combinado, fizemos uma espécie de terapia de grupo onde cada um colocava o que sentia com relação ao estudo, ao sentido da própria vida naquela hora semanal que todos cumpriam com tanta regularidade.
Como sempre, desde o início, mesmo antes de começar a reunião, eu me apresento com certo ar melancólico, mergulhado em minhas leituras, enquanto os colegas conversam animadamente sobre diversos assuntos, riem e jogam piadas num clima de muita amizade. Sei que eu pareço um peixe fora d’água, até alguns colegas mais afoitos tentam me puxar para o clima de descontração, mas eu teimo em ficar enrustido dentro de minha capsula. Sei que minha atitude é anti-social e meus colegas tem muita paciência comigo e compaixão por minhas dificuldades. Estou mergulhado num mundo que construí ao longo de minha vida, acreditando está sendo coerente com os princípios éticos e espirituais que devemos ter na nossa evolução moral. Procuro aprender e colocar em prática todos os princípios da lei do Amor ensinados por Jesus e explicados por Paulo em Coríntios. Essa aplicação acurada dessa lei, seguindo com determinação no caminho que Deus coloca à minha frente usando a bússola comportamental do “fazer ao próximo o que gostaria que fizessem a mim”, terminou por me levar a uma vereda tão diferente daquela preconizada pela cultura ocidental, pelos costumes de todos que me rodeiam, pelo menos em teoria.
Quando começou a reunião eu procurava ficar calado, sabendo que a minha fala terminaria por provocar uma reação emocional na minha ex-esposa que até hoje não entende o que se passou comigo para eu me transformar tanto. Mas como fui provocado pelo coordenador, tive que dizer os motivos de eu ser tão assíduo à reunião.
Expliquei que a minha principal motivação era a sede de conhecimento, de procurar aplicar no meu comportamento a verdade que era demonstrada pelos livros, principalmente os livros espirituais. Disse do meu empenho em aplicar o Amor Incondicional na minha vida, nos meus relacionamentos, e por causa disso inviabilizei a convivência com todas as mulheres que tiveram a coragem, talvez o amor, suficientes para morar comigo. Todas terminaram por esgotar suas forças e me expulsarem do lar, de forma até violenta, muito desarmônica.
Expliquei que essa busca da verdade tinha também o sentido de descobrir algum erro de racionalidade, pois estou disposto, ao descobrir, tentar corrigir todos os erros que derivaram dele. Cada leitura que se faz, cada exemplo que estudamos, eu procuro aplicar aos meus conceitos, aos meus paradigmas e tento ver se estou divergindo do Amor Incondicional, se estou fazendo ao próximo algo que eu não gostaria que fizessem comigo. Eu não consigo ver em nenhum momento, em nenhum comportamento que eu faça, um desvio dessa lei que eu tanto respeito e procuro cumprir.
Mas, ao final, os colegas colocaram o que pensavam a respeito, chegaram a elogiar a verdade que eu uso em assunto tão complicado e comprometedor, e firmaram críticas quanto a aplicação do Amor Incondicional que eu tenho como bandeira, do sofrimento que eu causo no outro e colocam minha ex-esposa como exemplo vivo dessa argumentação. Todos que ouviram essas argumentações com certeza consideram que eu estou num caminho errado e não vejo o erro porque estou fascinado com um comportamento que me traz vantagem, prazer, em detrimento do outro. Porém eu tenho argumentações que dizem que estou correto, apesar de todas essas críticas. Seria de fundamental importância que eu coloque os meus argumentos, pois se os colegas mostrarem que eles são falsos, que estão errados, que não atendem a Lei de Deus, ao Amor Incondicional, ao amar ao próximo como a mim mesmo, aí sim, deverei recuar e corrigir tudo que fiz de errado até hoje.
Essa reunião foi importante, muito importante para mim, pois levanta a oportunidade de eu colocar os meus argumentos e dos colegas me ajudarem a encontrar os erros do meu comportamento que eu tanto procuro e não acho!