Havia decidido que eu colocaria todo dia assuntos da procura do “meu erro” que justificasse a tomada do distanciamento que tenho hoje da cultura na qual fui educado. Mas vejo que tenho que colocar também assuntos atuais da minha vida e que este foi o meu compromisso original ao iniciar este trabalho. Existe naturalmente o conflito do assunto atual que deve entrar com as memórias do passado “em busca do erro” e tenho que decidir por manter o compromisso anterior, senão descaracterizarei todo este trabalho.
Mas devido a importância que também tem esse resgate das memórias “em busca do erro” irei abrir outro espaço especial no Recanto das Letras com esse objetivo. Permanecerei aqui colocando o que de importante acontece na minha vida atual nesse processo de autotransformação comportamental e espiritual.
No sábado passado, dia 10-05, fui mais uma vez ao meu trabalho em Caicó. Estava a espera de duas amigas, I. e AC. No entanto foram marcados pacientes em demasia, de 30 para 45. Não consegui nem comprar a passagem de volta, e pedi para AC. fazer para mim já em cima da hora do ônibus sair. Estava preocupado, pois como no dia seguinte era dia das mães, podia ser que eu não encontrasse mais lugar como aconteceu num feriado e que eu não sabia dessa procura mais intensa nesses dias.
No término dos atendimentos I. foi ao meu encontro como combinado, para atender uma demanda judicial que ela precisava. Foi apenas o tempo dela dizer do que se tratava e eu ter providenciado. Também aproveitou e me deu o numero de um celular de pessoa que pode ser voluntário no trabalho comunitário que iniciamos na cidade. Aproveitei e pedi para ela um mapa da região que vamos atuar e que pela extrema carência devemos ter um domínio bem claro das necessidades mais importantes para o crescimento daquelas pessoas, sem focar exclusivamente na sobrevivência. Não houve nem o tempo suficiente para trocarmos abraços demorados como sempre acontece em nossos encontros. Estava me sentindo desarmonizado devido o excesso de pacientes que foi marcado e que comprometeu a qualidade do meu trabalho.
AC. trouxe as passagens na hora exata de sair do ambulatório e fui com ela até a rodoviária. Comentamos a rapidez do nosso encontro, não deu tempo nem de nos abraçarmos. Ela disse que eu poderia ter comprado a passagem para um horário mais tarde para podermos conversar mais e que ela estava precisando. Foi então que eu percebi que se ela tivesse dito antes eu teria feito assim, pois não estava com nenhum compromisso marcado para Natal quando chegasse. O ônibus já estava parado na plataforma de embarque e ficou tão tumultuado no momento que terminei embarcando sem nem ao menos me despedir dela. Ela reclamou dessa situação, pois se soubesse que seria assim nem teria vindo, pois estava com dengue e não estava podendo tomar sol. Eu agradeci por ela ter ido, pois me prestou um favor, eu não tinha podido comprar a passagem antes e ela fez isso pra mim. Ofereci o troco para ela comprar um chocolate como brinde dos dias das mães, já que ela tem um filhinho, e ela não aceitou.
Durante o retorno ela ligou dizendo que o dia hoje estava cheio de coisas negativas para ela. Como deixou de ir ao trabalho na semana passada devido a dengue, a patroa a despediu hoje. Chegou em casa com febre elevada e teve que tomar remédio e ficar de repouso. Respondi que estava me sentindo culpado por sua piora da dengue e que me mantivesse informado de sua evolução. Combinamos que num determinado dia como este, quando eu não tivesse compromisso em Natal, eu ficaria para conversar mais tempo com ela.
Fiquei a refletir neste dia tumultuado e o movimento dos meus sentimentos e comportamento. Tive contato físico com minhas duas amigas de Caicó, mas a pressa de viajar de retorno a Natal fez com que eu não considerasse a possibilidade de pegar um carro mais tarde e ficar à vontade com elas, principalmente com AC. Mesmo assim, os sentimentos que envolvem a afetividade por elas são fortes suficientes para manter o interesse num encontro mais demorado no futuro. Sei que o que motiva é o afeto, a amizade que está sendo desenvolvida e fortalecida, mas com certeza, o motor interno, lá dentro de minhas energias e pulsões mais distantes da consciência, está o impulso sexual. Mesmo que ele nunca chegue a ser realizado, com nenhuma delas, mas é ele que empurra o comportamento para a solidariedade, fraternidade e até sensualidade. É esta força que devo aprender a operar cada vez com mais eficiência, para deixa-la a serviço do Amor Incondicional e fazer dela o exemplo para outros relacionamentos que não implique, mesmo que conscientemente, com a questão sexual. É este sentimento ancorado nas pulsões instintivas da sexualidade que é o maior motor para a formação da família ampliada, da família universal, que deve ter como limitadora a força do Amor Incondicional que a ele deve servir, ser submissa, observando a máxima do Cristo: Não fazer a ninguém o que não queira para si.