Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
20/05/2014 09h08
CORRIGENDAS DE DEUS

            Fiquei emocionado e até orgulhoso com a mensagem que o Pai me deu durante a festa do fim de semana, ao colher alguns frutos do Amor que plantei ao longo do caminho. Mas no dia seguinte ao retornar para casa o Pai acessou minha consciência e fez reprimendas em particular. Mais uma vez comprovei a sua beneficência para com Seus filhos, elogia em público e reprimenda em particular.

            Na sua reprimenda o pai acessa a minha consciência e diz o que eu poderia ter feito na festa, o que eu já estou capacitado a fazer, ao invés de ficar me esforçando para me adaptar aos costumes mundanos, maledicentes e lascivos que dominavam os diversos tipos de relacionamento.

            Eu poderia ter pedido permissão aos pais dos recém-casados para dar uma palavrinha referente ao belo evento do dia anterior. Poderia realçar que nos relacionamentos, sem falar do Amor que é fundamental, um detalhe que jamais podemos esquecer é da honestidade, de falar e praticar a verdade. Gostaria de contar uma estória para exemplificar isso para os noivos, mas que servem para todos os presentes. E contaria aquela história que marcou a minha mente e o meu coração.

A história de um príncipe que queria casar, mas não queria casar somente pela beleza do corpo, pelo modo de falar, pela inteligência ou pelo dinheiro. Ele queria que acima de tudo ela fosse uma pessoa honesta, que tivesse a coragem de dizer, apesar de toda a represália que pudesse sofrer, a verdade como ela era, mesmo que fosse doer no fundo da sua alma. Mas como encontrar uma pessoa assim, já que elas podiam muito bem mentir sobre esse defeito, fingir que eram uma pessoa honesta acima de qualquer suspeita? Então ele reuniu os sábios do reino e saiu com uma decisão: iria fazer um concurso no seu reino com abertura aos reinos vizinhos para todas as moças em condições de casar. Independente da classe social, da condição financeira e até da beleza do corpo. Todas que tivessem interesse podiam se candidatar. Foi feito um edital e espalhado por todos os reinos. Vieram moças belas, ricas e nobres de todos os lugares.

            No reino do príncipe existia uma moça, bela, mas não tinha nobreza no seu sangue, seus pais eram humildes e ela fazia muito esforço para estudar. Porém ela amava o príncipe desde que o vira pela primeira vez a cavalgar os seus belos cavalos. Quando ela soube do Edital disse aos pais que iria se candidatar também. Os pais ainda quiseram tirar isso da sua cabeça, mas ela explicou com tanto carinho e respeito aos pais, que devia fazer isso, pois era isso que o seu coração pedia. Era uma chance que ela tinha de ficar pelo menos perto daquela pessoa que ela tanto amava. Somente o instante de olhar nos seus olhos e talvez tocar as suas mãos, já seriam o suficiente para pagar pelo mico que ela pudesse sofrer frente as outras candidatas.

            Os pais compreenderam a dimensão do amor de sua filha e mesmo pesarosos pelo que ela podia sofrer de humilhação, concordaram com o seu desejo.

            No dia determinado estavam presentes diversas moças cada uma mais bela e mais oponente em riquezas e títulos que as outras. A jovem humilde parecia uma estrela apagada frente aquelas formosuras, com luxo e requinte. O príncipe pediu para todas ficarem lado a lado e passou frente a cada uma, olhando nos olhos e deixando dentro da mão de cada uma delas uma pequena semente. Depois foi a frente e explicou:

            - Todas vocês receberam a semente de uma bela flor. A competição consiste no cultivo dessa flor durante três meses. Vocês terão cuidado diário com elas para que cresçam e desenvolvam toda sua beleza. Ao fim dos três meses todas comparecerão aqui novamente com o resultado do trabalho. Aquela que apresentar a mais bela das flores será a eleita, será a princesa do meu reinado, terá o meu amor e o meu respeito, pois saberei assim que cuidará da maior virtude que eu prezo para uma futura rainha.

            Assim todas as moças foram para suas casas, seus palácios ou seus reinos, dispostas a fazerem o que era pedido. A jovem também saiu da reunião entusiasmada, não só pela possibilidade de cultivar a mais bela flor, pois sabia que as outras tinham muito mais condições de cultivar, de usar os mais completos adubos, de contratar os mais experientes jardineiros para lhes orientarem. Ela saiu entusiasmada por ter visto de perto o seu amado, de ter olhado em seus olhos e de ter sentido o contato da mão dele na sua quando entregou a semente. Entusiasmada porque dali a três meses ela teria nova oportunidade de vê-lo mais uma vez e talvez até tocar em suas mãos outra vez quando fosse entregar a flor.

            Os dias passavam e apesar de todo esforço da jovem a sua flor não germinava. Ela adubava e regava, colocava no sol de dia, de noite no sereno... e nada! O tempo passava e nem uma simples folhinha conseguia aparecer naquele jarro que ela olhava com tanta ansiedade todo o dia.

            Enfim passaram os três meses, era o dia que todas as  moças deviam retornar à frente do príncipe o qual iria escolher a mais bela flor. A jovem não tinha nada para mostrar, nenhuma plantinha havia germinado no seu jarro. Mesmo assim ela disse aos pais que iria comparecer mais uma vez na frente do príncipe, levaria o seu jarro assim mesmo, sabia que não ia ganhar nada, seria até motivo de pilhérias, mas teria outra oportunidade de olhar de perto o seu amado e talvez ele tocasse mais uma vez em suas mãos ao receber o jarro sem flor. Mais uma vez seus pais quiseram fazê-la desistir de pagar um mico maior do que o outro há três meses, mas, mais uma vez a força do Amor que brotava do seu coração foi suficiente para dobrar o medo dos pais.

            Ela chegou no salão do palácio e realmente era motivo de pilhéria. Todas as moças apresentavam flores lindíssimas, perfumadas, exuberantes. Ela, apenas o jarro vazio. Quando o príncipe chegou todas pararam com os risinhos e as ironias e ficaram uma ao lado da outra como da primeira vez., só que agora o príncipe iria decidir pela flor mais bela que tinha ali na sua frente.

            Ele passou frente a frente com cada moça, olhava em seus olhos e na flor que ela trazia. Quando foi a vez da jovem, ninguém notou um brilho diferente que surgiu nos olhos do príncipe, todas estavam prestando atenção as ironias que ouviam ou que falavam, menosprezando a humilde jovem, que de tão corajosa em comparecer no fim da competição com um jarro vazio, parecia boba.

            O príncipe depois de ter vistoriado todas as jovens com os seus jarros, ficou na frente de todas e declarou o resultado:

            - Quem venceu a competição, quem me trouxe a flor mais bela, foi essa jovem – e apontou em direção a moça do jarro vazio.

            Todas murmuraram com surpresa e indignação. Como poderia ser isso, se ela não tinha nada no seu jarro e todas as outras tinham belas flores?

            O príncipe esclareceu. A virtude que eu mais prezo é a honestidade, disse ele. Todas vocês receberam sementes estéreis, jamais iriam germinar nada vindo delas. No entanto vocês cultivaram outras sementes e trouxe aqui um resultado que não foi o combinado. Somente essa jovem apresentou a mais bela flor que vocês não podem contemplar com os olhos físicos, a flor da honestidade. Essa flor somente vinga com o adubo da verdade, e o seu perfume santifica quem a nutre, pois isso está acima do dinheiro, da posição social e até da beleza física.

            Todas baixaram a cabeça, reconheceram que todas foram pegas em suas mentiras, e saíram sem dizer palavra.

            Depois dessa história eu faria mais uma vez a apologia da verdade, que todos nós devemos ser verdadeiros em nossas palavras e ações, que a confiança seja o avalista mais forte de nossos relacionamentos. Deixaria essa história como motivo para reflexão de todos, para que jamais percamos a confiança com quem caminha ao nosso lado.

            Convidaria enfim, todos para cantar juntos o Pai Nosso seguido da canção da Oração de São Francisco. Assim eu poderia ter feito o equilíbrio na festa, de realçar as virtudes que tanto bem causa ao espírito. Seria um elemento ativo fazendo a vontade de Deus, ao invés de passivo como fui.

            Recebi a reprimenda do Senhor e garanti que ficaria atento, que procuraria deixar a minha inteligência mais ágil para encontrar em tempo hábil a melhor forma de cumprir a Sua vontade.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 20/05/2014 às 09h08