Escrevi ontem sobre a hierarquia do Amor, da sua origem a partir de Deus e de sua doação a partir de uma cadeia de seres humanos através de seus espíritos, encarnados ou não, cuja alma mais próxima de Deus que esteve entre nós foi Jesus de Nazaré. Ele nos ensinou essa forma de Amor, da sua origem divina, e da maneira que nós podíamos perseverar nessa doação.
Mesmo que a pessoa nunca tenha ouvido falar de Jesus Cristo para aprender o Amor da forma que Ele nos ensinou, mas o Pai jamais desamparará qualquer um dos seus filhos em qualquer lugar do planeta. Por exemplo, na Índia tivemos o esforço de iluminação da consciência promovida por Buda e cujo ensinamento focava na libertação do apego que era fonte de sofrimento. Buda mostrava assim que o Amor que era desenvolvido por toda a Natureza através dos seus ensinamentos tinha esse grande obstáculo, que era o desenvolvimento do apego, da tendência do ser humano ficar excessivamente “ligado” ao outro, fonte e/ou objeto do seu amor.
Então, como provar que eu amo todos os dias de minha vida, nos momentos de glória ou de lama? Acredito que seja cumprindo o principal ensinamento de Jesus quanto a lei do Amor: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo.” Já disse ontem que o meu próximo se reveste de tanto valor que supera até mesmo os desejos e vontades de pessoas de altíssimo valor emocional para mim, como a minha mãe por exemplo. Se minha mãe desenvolve apego por mim, como geralmente todas as mães desenvolvem, e sofre com a minha ausência, pois estou envolvido com alguma pessoa próxima a mim e estou cumprindo a Lei do Amor, então compreendo que esse sofrimento não é devido a incorreção do meu comportamento e sim do apego que foi desenvolvido por minha mãe dentro do Amor que não precisa desse artifício.
Ela poderia até ficar chateada comigo e dentro do seu sentimento de amor contaminado pelo apego, escrever para mim dizendo, ao procurar chamar minha atenção, pois sabe que eu procuro caminhar nas trilhas do Amor:
“O Amor é uma virtude de carinho, afeto, acompanhado de atitudes, e não diga que sente saudade, pegue o papel e escreva algo que pode me deixar feliz... Apenas um bom dia... Não deixe o exclusivismo se apossar de todo o sentimento, pois ele afasta das pessoas que o ama. Às vezes nem percebemos, mas quem este de fora ver, principalmente aquele que não dorme.”
Vejo assim que ela compreende bem o conceito de Amor, mas na sua superfície, como uma virtude de carinho, afeto, acompanhado de atitudes. Correto! Mas logo em seguida observamos a contaminação do apego que macula a limpidez do Amor. Repreende pela falta que sente de mim, pela ausência de um simples bom dia, de algo que eu pudesse escrever para lhe deixar feliz. Sim, eu poderia fazer assim, mas se fosse seguir a coerência desse comportamento, eu teria que fazer isso para todas as pessoas que o meu Amor de certa forma cativou e gerou o apego. Semelhante àquela raposa do livro “O Pequeno Príncipe” onde ela ficava ansiosa horas antes do esperado encontro com o seu amigo. Essa carga de apego que eu pudesse corresponder dentro do meu comportamento, por todas essas pessoas, terminaria por comprometer a qualidade do Amor que eu deveria ter pelo próximo, no encontro sagrado com ele. Claro que a saudade eu não vou deixar de sentir por nenhuma das pessoas pelas quais o meu Amor foi desenvolvido em algum lugar, em algum contexto, na condição do “próximo”. Sei que a saudade é o amor que existe, e isso não me incomoda.
Se a minha mãe no final de seu recado ainda tentasse se recompor pedindo para que eu “não fizesse nada para a agradar, apenas que eu vivesse o meu momento ou o que a consciência acha correto” eu iria entender que ela também possui dentro dela o Amor puro, incondicional, porém com a simples emissão desse recado, já mostra que ele está contaminado pelo apego.
Isso ainda tem uma implicação perigosa, pois influencia o meu Amor a ser contaminado pela marca da “obrigação”. No momento que eu tiver oportunidade de ficar mais uma vez próximo a minha mãe, vem a mente esse recado dela como uma espécie de “cobrança” e algo que deveria fluir com naturalidade, flui com o obstáculo dessa lembrança. Acredito que eu possa superar isso e me comportar naturalmente com ela dentro da lei Amor. O risco é ela pensar que eu estou com ela por obrigação, pois desejaria estar em outro lugar, com outra pessoa. Dessa forma o Amor que eu possa dar e o Amor que ela sente, terminam contaminados na sua consciência. Ela não vai poder receber a pureza do meu amor., nem conseguirá dar o seu com pureza. Existe a contaminação!
É a esse sentimento negativo que provoca essa contaminação dentro do coração que damos o nome de ciúme. Sentimento esse que deteriora a qualidade do Amor, tanto na emissão quanto na recepção. Enquanto ele existir jamais o Amor será experimentado em sua pureza! Jamais o Amor poderá ter sua característica mais sublime, a marca do Criador, a incondicionalidade!