Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
30/05/2014 07h53
DEOTROPISMO

            Encontrei essa palavra em Joanna de Ângelis, “Em busca da Verdade”, logo no prefácio deste livro. Deotropismo é um neologismo (palavra não dicionarizada) que significa um “psicotropismo superior” inerente ao ser que o impele natural e inapelavelmente para Deus, assim como o heliotropismo mobiliza automaticamente o reino vegetal para a luz solar.

            Aplicando esse conceito à minha vida, vejo que tem muita harmonia e coerência interna. Eu como plantinha frágil e ignorante nasci um dia com um tropismo natural para Deus, o Deotropismo. Fui matriculado em escola administrada por Padre, fui ser escoteiro no Grupo Guy de Larigaudi em Macau, sob a direção de um Padre, servia a Santa Missa, ajudava nas procissões da Igreja católica, tudo dentro de uma grande religiosidade onde eu me encaixava com naturalidade, sem críticas ou reflexões.

            Foi somente na adolescência que veio à minha consciência a realidade daquilo que eu fazia e que não tinha comprovação, de acordo com os critérios da situação. Para piorar ainda mais a situação, eu passei a frequentar outros agrupamentos religiosos que negavam os avanços da ciência, a realidade que ela descortinava e que ia de encontro aos dogmas centrais da religião. Por uma questão lógica, de coerência, terminei por me afastar de qualquer religião como um devoto, passei a duvidar da existência de Deus.

            Porém o Deotropismo forte que existe dentro de mim, sempre fazia o meu pensamento voltar a refletir sobre a existência do divino, e assim eu passei a ler toda literatura espiritual que caia em minhas mãos.

            Foi com a leitura dos livros de Allan Kardec e de Ramatis que chegou à minha consciência uma compreensão melhor de Deus, da sua definição como a inteligência suprema do Universo, causa primária de todas as coisas. Portanto, tudo que existe no Cosmos seria o reflexo de sua realização, do que foi concebido antes, idealmente pelo Pensamento Divino ou Cósmico, pela inteligência suprema.

            Essa compreensão da vida, da sua origem e progresso, preenchia com mais consistência as exigências do meu raciocínio lógico, melhor do que a interpretação materialista que faz a origem de tudo vir através de um Big-Bang misterioso que aconteceu em determinado tempo e que daí por diante por um processo de ensaio e erro, pelo deslocamento das partículas ao acaso chegamos à complexidade de um ser vivo.

            A minha inteligência, talvez atuando em causa própria, dizia que essa origem da Natureza que se espalha na forma do Universo, tem por trás uma inteligência muito superior à minha. E como eu também sou uma das suas criaturas, portador de uma fagulha da sua inteligência, então fica explicado esse tropismo da minha consciência na busca de Deus, da minha inteligência-mãe.

            Atualmente toda a minha inteligência está voltada para esse tropismo, quero caminhar à passos largos em direção à Deus. Reconheço Jesus Cristo como o meu irmão mais evoluído nessa compreensão e que veio até o mundo material nos ensinar o “caminho das pedras”, o caminho do Amor Incondicional para nos apossarmos da verdadeira vida e sabermos caminhar em direção ao Pai com mais segurança. Por isso é que Ele dizia em suas lições que era o “caminho, a verdade e a vida”.

            Também fui à fonte do Pai, no profundo da minha consciência, e busquei o que Ele queria para mim. Achei a missão que Ele determinou, de criar a família ampliada deslocando o amor romântico para surgir nas relações afetivas por mais íntimas que elas se apresentassem, o Amor Incondicional. Dessa forma o Amor Incondicional passa a ser o principal paradigma de minha vida, que se reflete nas relações pessoais, afetivas, até o relacionamento com a comunidade em suas diversas formas de manifestação.  

            Sinto agora que o meu Deotropismo está a todo vapor, incluindo todos os meus relacionamentos, profissional, familiar, político, religioso, até no íntimo onde ainda existe com força o amor romântico associado aos diversos instintos de sobrevivência animal que se associam a ele na base do egoísmo. Essa é a grande luta do meu Self com o meu Eu, com o Ego. O Self ligado à evolução do meu espírito e o Ego ligado a evolução, reprodução e perpetuação do meu corpo físico através dos filhos. É a sombra, no dizer de Jung, que permanece dentro de mim e que eu não posso simplesmente jogar fora. Ela foi criada por Deus junto ao meu corpo para me servir. Apesar dela estar associada ao meu corpo e não ao meu espírito, eu devo ter por ela a mesma consideração que tenho pelo corpo, só não posso aceitar que seja ela quem determine o que eu tenha de fazer, pois se assim for eu desvio do meu caminho para o Pai, perco o meu Deotropismo.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 30/05/2014 às 07h53