Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
01/06/2014 07h28
GLADIADORES DE DEUS

            No tempo do apogeu romano foi incentivado a figura do Gladiador, aquele que era preparado para entrar na arena, no circo romano e enfrentar uma fera ou outro gladiador até a morte. Era um espetáculo grosseiro de sangue e fúria, onde não havia espaço para o Amor, a compaixão.

            Com a vinda do Cristo, justamente naquele espaço político dos romanos, suas lições sobre o Amor e sobre o Reino de Deus, que pairava muito acima dessas paixões bestiais, conseguiam tocar o coração dos mais sensíveis e juntos tentar a transformação dos mais endurecidos.

            As lições do Cristo eram tão fortes e se mostraram tão verdadeiras, que superaram a sua morte física, dobrou o comportamento dos romanos que passaram a aceitar o pensamento cristão como sua nova religião. Dessa forma o espaço para os gladiadores bestiais ia cada vez mais se reduzindo, apesar do Amor não penetrar com limpidez no coração humano.

            Hoje não observamos mais esse tipo de gladiador em nenhuma das arenas humanas pelo mundo civilizado, que promovam uma luta sem regras até a morte de um dos componentes.

            Porém surge um novo tipo de duelo que não necessita de uma arena física. Esse duelo se dá no palco dos corações entre os pensamentos de solidariedade cristã x predadorismo animal. Esses dois tipos de pensamentos justificam e motivam os comportamentos subordinados. O primeiro tem por base o Amor Incondicional ensinado pelo Cristo e explicado por Paulo; o segundo tem por base o Egoísmo Antiético, que é gerado por nossos instintos animais que não foram domesticados ou limitados.

            Existem assim um verdadeiro combate quando duas pessoas que pensam dessa forma diferente se encontram em algum tipo de espaço físico e passam a trocar as ideias que vêm de seus corações com uma plateia a lhes observar.

            Foi isso que aconteceu no dia 30-04-14, no estudo que faço toda sexta feira no Centro Espírita Cruzada dos Militares. A minha companheira E. como ação introdutória as atividades da noite, leu um trecho do Evangelho segundo o Espiritismo com o título “O Homem de Bem”. Não foi possível nem entrar nos momentos seguintes do estudo, nem foi feito a prece inicial que sempre fazemos. Logo O., um dos integrantes da reunião, tomou a palavra e passou a discorrer com toda a clareza o seu comportamento que se contrapunha aquele do Homem de Bem. Falou que foi convidado por algumas pessoas, entre elas um policial reformando, para fazer um assalto. Roubaram o carro de uma empresa e dirigiram para outro Estado, para vender o produto do roubo e no caminho fizeram outros roubos, queimaram carro, assaltaram pessoas na estrada, ameaçaram de morte. Todo esse relato era feito de forma eletrizante onde eu observava que todos olhavam para ele como se estivessem hipnotizados, inclusive um policial que participava da reunião. Eram feitas perguntas para se entender melhor como foi a realização daqueles atos, se solidarizavam com o expositor quando ele falava de algumas falhas dos seus companheiros de aventura.

            Perguntei ao final se ele achava aquilo correto, se ele faria tudo outra vez se tivesse oportunidade. Sim, ele achava correto e faria tudo outra vez da mesma maneira e corrigiria os erros que havia cometido, para a ação ser mais eficaz.

            Percebi que frente aquela plateia ele era o gladiador mais admirado, mesmo com o componente antiético de suas ações. Eu fazia as pontuações tentando ressaltar o comportamento ético, a moral cristã em nossas ações. Que deveríamos fazer ao próximo o que desejássemos para nós, como uma regra de ouro. Ele ouvia esses argumentos sem o mínimo interesse em aproveitá-los na sua forma de pensar. Cheguei a perguntar então a ele qual o motivo que ele tinha de vir para a reunião sabendo que o tema que iríamos abordar ele não tinha o mínimo interesse em praticar, em reconhecer os seus erros. Ele simplesmente respondeu que vinha porque gostava, saia sozinho do hospital e aproveitava os momentos de liberdade que tinha nesse momento, inclusive de ser tratado com carinho, respeito e amor, como é assim que deve ser o tratamento dado pelos cristãos, a quem quer que seja.

            Ao final da reunião eu senti que nesse embate de gladiadores eu perdi a atenção dos expectadores. Mesmo que eu tivesse ao meu lado a ética e a moral cristã, meu adversário colocou a sua experiência de vida com todos os perigos decorrentes, em busca de um objetivo glamoroso que em nome da força bruta tripudia o mais fraco.

            Fiquei com o Evangelho na mão, com o ensinamento do Cristo e a palavra de Deus, mas a minha plateia estava atenta ao treisoitão na cintura, ao carro roubado, aos montes de dinheiro, ao próximo amarrado, amordaçado e ameaçado, as farras dos colegas do crime...

            Fui para casa com o gosto da derrota na alma. Não consegui usar as armas do bem com tanta destreza como foi usado as armas do mal. É assim que eu irei para as comunidades enfrentar esses novos gladiadores. Eu sou apenas uma ovelha levando na mente as lições do nosso Pastor. Irei para o meio das ovelhas acuadas, que são frequentemente transformadas em lobos. Necessito urgentemente do auxílio do Pai. Não tenho o carisma que o meu Mestre possuía, apesar da vontade que tenho semelhante a dEle de fazer a vontade do Pai.    

Publicado por Sióstio de Lapa
em 01/06/2014 às 07h28