Jesus dizia assim aos seus discípulos: “se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós. Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o mundo vos odeia. Lembrai das palavras que vos disse: o servo não é maior do que o seu senhor. Se me perseguiram, também vos hão de perseguir. Se guardaram a minha palavra, hão de guardar também a vossa. Mas vos farão tudo isso por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou.”
Esse ensinamento de Jesus é de uma profundidade ímpar. Como alguém como Ele que veio para ensinar o Amor com toda a competência dentro do mundo, vai despertar o ódio? Como isso é possível, se a antítese do Amor é o ódio, e se Ele veio ensinar o Amor como pode gerar ódio em redor de si? Ele não veio como a expressão máxima do Amor do Pai, para plantar o Amor em nossos corações e constituir a comunidade daqueles que se amam, constituir a formação do Reino de Deus através da transformação do nosso coração?
Acontece que o mundo é constituído de seres vivos biológicos, cujas engrenagens fisiológicas foram montadas pelo próprio Deus para que se reproduzam sem a intervenção necessária do Pai a cada momento. Nesse contexto, todas as motivações animais seguem na direção da preservação e reprodução do próprio organismo, através dos instintos. Devido a essa engrenagem não possuir uma inteligência que vá além da integridade e funcionamento do próprio organismo, são gerados no meio social, dos relacionamentos, os comportamentos de base egoísta. A medida que a evolução do animal permite que ele desenvolva um cérebro cada vez mais sofisticado, capaz de intervir na Natureza tanto externa quanto interna, que tenha uma compreensão da sua origem e destino, ele vai cada vez mais reconhecendo a necessidade de levar harmonia ao meio social, de cuidar dos outros como cuida de si mesmo. Esse é um processo doloroso, pois ao fazer isso os meus interesses biológicos ficam subordinados ao interesse social em função da harmonia geral. É nesse ponto que se encontra a aplicação do Amor Incondicional, a sua justificativa. Foi para isso que Jesus veio, para nos ensinar a forma de amar correta, de construir um mundo diferente do mundo animal, um mundo que corresponda ao Reino de Deus que Ele falava que devia iniciar através das mudanças ocorridas em nossos corações em direção a esse mundo novo, através da formação do homem novo.
Agora, as pessoas que são apegadas aos seus valores materiais, aos instintos animais, aos recursos que acumulou em detrimento do semelhante, irão reagir a esses ensinamentos e considerar que quem os aplica é uma ameaça. Assim, todos aqueles que passam a ensinar ou a praticar os princípios do Reino de Deus, torna-se uma ameaça a quem permanece no reino animal e de lá não quer sair.
Com essa compreensão eu me sinto separado do mundo e a minha conduta deve ser uma denúncia desse mundo, de suas estruturas injustas e, como consequência dessa atitude de denúncia, o mundo me odiará. Foi isso o que ocorreu com Jesus.
O fato de eu ser odiado e até ser perseguido decorre de minha própria fé ao tentar encarnar a palavra de Cristo, ao enfrentar a luta aberta e contínua contra o inimigo, ao agir sempre procurando me inspirar na vontade de Deus que sinto chegar por diversas formas ao meu coração.
Eu me considero um discípulo de Jesus e dessa forma, um olhar de Deus sobre a Terra, como Ele foi. Eu sou um cristão que tento prolongar na história os ensinamentos do Cristo, para a formação do Reino de Deus, para a criação da família universal, e estou fazendo a minha obrigação a partir da ampliação da minha família com base no Amor Incondicional.
Sei que com isso eu provoco divisões e atraio ódios, não somente sobre mim, mas também sobre aquele que se tornou solidário as minhas palavras e comportamento, aquele que se tornou testemunha prática do Amor que Jesus ensinou.