Hoje é o dia que a Igreja Católica pratica uma das maiores solenidades dentro da instituição e que está alicerçado numa lição que Jesus deixou:
“Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo.”
“Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o resuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente.”
O evangelista Lucas registrou essa lição da seguinte forma: “E tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: isto é o meu corpo oferecido pra vós; fazei isso em memória de mim. De forma semelhante, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: este é o cálice da Nova Aliança no meu sangue derramado em favor de vós.”
Estas lições estão cheias de simbolismo. Ninguém entenderá de forma literal esse comer o corpo e beber o sangue, pois além de impossível pela distância no tempo e no espaço, ainda iríamos cair no severo pecado da antropofagia.
A Igreja Católica usa essas lições na forma da Eucaristia, a transubstanciação do pão em Corpo do Cristo, um dos sete sacramentos. É uma celebração em memória da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Também é denominada Comunhão, Ceia do Senhor e Refeição Noturna do Senhor. Entende que seja o próprio sacrifício do Corpo e do Sangue de Jesus, que Ele instituiu para perpetuar o sacrifício da cruz no decorrer dos séculos até o seu regresso, confiando assim à Igreja o memorial de sua Morte e Ressurreição. É o sinal da unidade, o vínculo da caridade, o banquete pascal, em que se recebe o Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da vida eterna. Daí se oferece a Hóstia, que em latim quer dizer vítima, que entre os hebreus era o cordeiro, sem culpa, imolado em sacrifício a Deus.
Segundo o Papa João Paulo II, em sua encíclica Ecclesia de Eucharistia, “a Eucaristia é verdadeiramente um pedaço de céu que se abre sobre a Terra; é um raio de glória da Jerusalém celeste, que atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar o nosso caminho”. Também chama a atenção de que no lugar onde os evangelhos sinóticos narram a instituição da Eucaristia, o Evangelho de João coloca a narração do lava-pés, gesto que mostra Jesus como mestre de comunhão e de serviço. Em seguida o Papa atenta para o fato de que, mais tarde o apóstolo Paulo qualifica como indigna numa comunidade cristã, a participação dos seus membros na Eucaristia e vivendo num contexto de discórdia e indiferença pelos pobres.
Comungar ou receber a Comunhão é nome dado ao ato pelo qual o fiel pode receber a sagrada hóstia, sozinha ou acompanhada do vinho consagrado. Para receber a sagrada Comunhão é preciso estar plenamente incorporado à Igreja Católica e em estado de graça, isto é, sem consciência de pecado mortal. Quem tem consciência de ter cometido pecado grave deve receber o sacramento da Reconciliação antes da comunhão. São também importantes o espírito de recolhimento e de oração, a observância do jejum prescrito pela Igreja e ainda a atitude corporal como gestos e trajes, como sinal de respeito para com o Cristo.
Observo dessa forma muito simbolismo nessas lições a partir do próprio Jesus. Entendo que Ele queria alcançar algum nível de compreensão com o que queria nos instruir, que se resume em aplicar a Lei do Amor em todas as dimensões da vida humana. Como Ele mesmo estava fazendo isso, como ensinava na teoria e na prática, tentou “incorporar” esse ensinamento dentro daquelas mentes rudes do passado, arraigadas aos pecados do egoísmo, da carne. Então, como uma forma de vencer esse obstáculo, Ele usou o simbolismo da própria carne e do sangue, que representavam seus ensinamentos e comportamento, para ser consubstanciado no pão e no vinho e assim incorporar no fiel os seus ensinamentos.
Hoje estamos vivendo um momento novo na sociedade, no mundo, onde avançamos muito nos conhecimentos científicos e tecnológicos, sempre baseados no intelecto, na razão. Com certeza este intelecto bem mais desenvolvido que há 2.000 anos nos dá uma melhor compreensão das lições de Jesus e da necessidade da sua aplicação sem passar necessariamente pelo simbolismo. Basta cumprir os dois principais itens da lei, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, já me sinto integrado ao pensamento e ações de Jesus. Não preciso mais de hóstia ou de ritual para me sentir integrado a Jesus e ao Pai. Absorvi a luz que Ele me ensinou e agora depende dos meus atos cotidianos manter essa transmentalização do pensamento, dEle e do Pai para a minha mente. O Juiz de tudo é a minha consciência onde está presente a Lei de Deus, da qual eu não posso fingir, esquivar ou fugir.
Neste momento que escrevo este texto, sei que em diversas Igrejas esse ritual é realizado e preenche os fiéis de renovada fé e intenção de cumprir as lições do Evangelho. No entanto, também me sinto confortável, não me sinto culpado em não participar dessa Eucaristia, sei que o meu pensamento está sintonizado com o Pai e o Filho, e o Espírito Santo está a me intuir em fazer este texto como forma de contribuir para melhorar o esclarecimento, melhorar a luz sobre a verdade, de quem rejeita participar por outros motivos desse sacramento da Igreja Católica. Mostra que se o seu intelecto repudia uma simbologia tão mística e tão sem sentido prático, mas que percebe a Verdade nos ensinamentos do Cristo, então basta fazer a transmentalização, e onde quer que esteja, aonde ou quando, pode muito bem aplicar as lições e estará também fazendo a vontade do Pai, seguindo as lições de Jesus e construindo o Reino de Deus.
Mas, por outro lado, existem muitas pessoas ainda no mundo, a maioria com certeza, que não tem um raciocínio esclarecido por uma boa educação e necessita dos rituais, da simbologia cristã, para procurar se comportar de forma ética dentro da transubstanciação.