Na reunião de ontem na Casa de Caridade iniciei com um pensamento sobre as pessoas que trabalham conduzindo objetos pesados na cabeça, muito comum nas cidades do interior, como Macau, minha cidade adotiva: os cabeceiros.
Sei intuitivamente que esse pensamento pertence ao meu mentor espiritual, ao anjo da guarda que procura me proteger e orientar. Serviu como uma admoestação e ao mesmo tempo estímulo para que eu procure avançar no rumo das minhas intenções. Vou procurar reproduzir o que se passou no palco da minha mente naquela ocasião, narrado em terceira pessoa, do mentor para mim.
“Tu lembras Francisco, daquelas pessoas que trabalhavam em Macau descarregando carros ou barcos com os objetos pesados sobre a cabeça, para ganhar moedas materiais para o seu sustento e da sua família? Eram chamados os cabeceiros, pessoas rudes, sem instrução, que não podiam procurar outro tipo de trabalho, que procuravam diversos patrões de ocasião. Geralmente eram indivíduos sujos, barbudos, cabeludos, roupas precárias... ofereciam simplesmente os seus serviços braçais, a força física no deslocamento de produtos úteis para terceiros.
Pois é, Francisco, tu pareces um desses cabeceiros visto aqui do mundo espiritual. Não estamos considerando os bens materiais que voce já conquistou: carros, apartamentos, conta bancária, profissão definida, emprego seguro... Não é isso, estamos considerando o teu aspecto espiritual da forma que podemos ver aqui do alto. Da mesma forma que os cabeceiros fazem aí na Terra, no mundo material, tu também procuras fazer um trabalho com o objetivo de ganhar moedas espirituais do único patrão, o próprio Deus. Mas sua apresentação espiritual também é lastimável. Tu sabes tudo que deves fazer para a limpeza e uma boa apresentação espiritual. Tens livros diversos com todas as instruções necessárias, principalmente os livros sagrados que tu bem conheces. Mas não consegues aplicar em si esses conhecimentos. Agora mesmo, estás aqui nesta reunião e sabes que tua alimentação hoje devia ser frugal para que houvesse uma boa sintonia entre nós e vós. Mas o que aconteceu? Passasses na padaria e deixou que a gula te dominasse e enchesses o prato com carne vermelha, dos teus primos mamíferos, como o mestre Ramatis já te ensinou a evitar. Tanto trabalho a fazer nas comunidades e tu ficas no repouso exagerado ou no desvio para ações prazerosas, de jogos, de passeios... Sabes que deves desviar a força do instinto sexual para o Amor Incondicional, e ainda ficas intimidado a se aproximar das irmãs prostitutas, e de temer o hipnotismo do prazer do orgasmo. Esta, Francisco, é a tua aparência espiritual para nós que somos os gerenciadores do patrão definitivo; somos teu anjo da guarda e todos os mentores do bem que tu procuras em tuas orações, pensamentos e sentimentos. Apesar de tua aparência, recebemos o teu trabalho de bom grado, pois procuras levar o Amor de forma braçal, com desgaste físico, onde é necessário, onde é preciso segundo a vontade de Deus. Sabemos que estás inscrito nas forças do Bem que atuam na Terra sob o comando de Jesus para levar a luz no meio das trevas. Por tudo isso tu mereces as moedas espirituais que procuras amealhar. Mas te advertimos, jamais poderás compor a elite do mundo espiritual com essa aparência constrangedora com a qual te apresentas ainda. Tu és para nós uma espécie de cabeceiro espiritual aqui no mundo de Deus, mesmo que no mundo dos homens tu sejas doutor e andes na elegância.”
Foi isso que aconteceu no palco da minha mente nessa reunião. Eu pensava que iria expressar esse pensamento no momento da reunião, mas por algum motivo, pela primeira vez eu não conseguia falar e lembrava como num sonho, daquela figura de porte médio e cor trigueira, com roupas de estilo aproximado ao indiano que terminava sua fala a observar as estrelas. Meus companheiros na ocasião dizem que ouviram um barulho e que partira de mim, mas que eu não lembro. Assim como murmúrios ao meu redor, chamados, choros... não sei, não percebi esses sons, não lembro de tê-los produzido.
Enfim, agora eu sei com mais precisão a minha posição na vida, tanto no aspecto material quanto no espiritual. Sei que devo me esforçar ainda mais com esse objetivo, de promover a melhora da Reforma Íntima, principalmente agindo sobre os aspectos que mais me atrapalham a evolução: gula, preguiça e sexo. Sei os caminhos para fazer isso acontecer, basta ter coragem, sabedoria e determinação. São esses três atributos que peço ao Pai, pois sei que deles ainda sou deficitário.