Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
15/07/2014 00h01
RUPTURA COM A FAMÍLIA

            Parece que Jesus, que tanto valorizava a família, comete uma incoerência quando dar as seguintes instruções, conforme escreveu Mateus (10:34):

            “Não julgueis que vim trazer a paz à Terra. Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim não é digno de mim. Quem ama seu filho mais que a mim não é digno de mim. Quem não toma sua cruz e não me segue não é digno de mim. Aquele que tentar salvar a sua vida irá perdê-la. Aquele que a perder, por minha causa, irá reencontrá-la. Quem vos recebe, a mim recebe. E quem me recebe, recebe aquele que me enviou.

            É algo que parece ir de encontro ao ensino global do Senhor, que geralmente é de paz e fraternidade. Então, algo parece estar errado dentro da família para Jesus levar a espada e não a paz, a concordância. O que será esse “algo”?

            Tenho uma boa clareza quanto a isso: esse algo para o qual Jesus necessita levar a espada para dentro da família é o egoísmo. Todas as famílias tradicionais do ocidente e do oriente, do mundo todo, são formadas com base no egoísmo que geralmente inicia pelo amor romântico e a partir daí gera uma série de amores secundários e condicionais: amor à mãe, ao filho, ao pai, ao irmão, ao primo, etc. Esse tipo de amor desenvolvido dessa forma, tem como objetivo garantir a reprodução do indivíduo, garantir o seu sucesso reprodutivo. O Amor Incondicional conforme Jesus ensinou não encontra espaço para ser aplicado nessa selva de amores condicionais. Quem estuda e procura seguir as lições de Amor do Mestre Jesus, vai inevitavelmente se defrontar com os condicionamentos egoístas, por mais evoluído que seja o espírito. Vejamos o exemplo de Francisco de Assis, um espírito de elite superior, de grande intimidade com o Amor, não conseguiu evitar que a “espada” entrasse dentro de seu lar e que seu pai se tornasse seu inimigo declarado. Da mesma foram aconteceu com Clara de Assis e com tantas outras personalidades que resolveram assumir na prática os ensinamentos do Cristo, desapegar da vida terrena, biológica, e compreender que a vida é um dom de Deus e que Ele exige a fraternidade, a justiça e a solidariedade com todos, a partir do próximo, que nem sempre é um parente consanguíneo.

            Quando hoje eu reflito que vivo sozinho, abandonado pelas pessoas que mais amo e que diziam também me amar, compreendo que foi essa “espada do Cristo” que chegou as minhas mãos. Por mais que eu ame os meus parentes, filhos e companheiras, de intimidade sexual ou não, eu não posso deixar de amar ao meu próximo como a mim mesmo, fazendo a ele o que eu desejaria que ele fizesse a mim, conforme Jesus ensinou e que esse é o desejo do nosso Pai.

            Este é o ponto crucial dessas reflexões. Quando amo a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo, estou seguindo as instruções de Jesus quando ensina que essa é a Lei que cobre todas as demais. Então, o próximo que pode ser uma mulher com desejos sexuais parecidos com os meus, deseja ter o que eu gostaria também de ter, o prazer corporal por exemplo, e nós conseguimos agir dentro dos limites do Amor Incondicional, nenhuma outra lei subalterna pode nos impedir. Mesmo que sejam reclamados os preconceitos de toda natureza que visam proteger os privilégios consanguíneos, direitos da família ou da cultura viciada de determinada comunidade. É aqui que Jesus oferece a espada em vez da paz, pois se não fizesse isso não teria sentido a Sua vinda até nós, para ensinar sobre o Amor que ainda não conhecemos e muitos poucos estão dispostos a praticar. O egoísmo continuaria a florescer dentro da estrutura nuclear da família, não haveria possibilidade de ampliação, de chegar um dia a ser a família universal, célula fraterna do sociedade do Reino de Deus.  

            Isso explica porque Jesus já advertia da coragem de assumir essa cruz, de ser desprezado pelas pessoas que ama. Essas pessoas das famílias nucleares só ficam bem quando estão na presença exclusiva do ser amado. Quando a pessoa amada distribui o seu amor com o próximo, distante do laço sanguíneo, emerge com violência todo um exército de reações e emoções destrutivas.

            Estou a postos neste combate, com minha cruz e espada.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 15/07/2014 às 00h01