Jesus ensinou uma parábola excelente, a melhor forma de nos tornar discípulos eficientes e assim contribuir com eficácia para o Reino de Deus.:
“Um semeador saiu a semear. E, semeando, parte da semente caiu ao longo do caminho; os pássaros vieram e a comeram. Outra parte caiu em solo pedregoso, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque a terra era pouco profunda. Logo, porém, que o sol nasceu, queimou-se por falta de raízes. Outras sementes caíram entre os espinhos: os espinhos cresceram e as sufocaram. Outras, enfim, caíram em terra boa: deram frutos, cem por um, sessenta por um, trinta por um. Aquele que tem ouvidos, ouça.”
Este é o verdadeiro modelo de discípulo, aquele que ouve a Palavra, entende-a e produz frutos. Jesus quer por de lado o cristianismo superficial que consiste meramente em ouvir e aceitar os seus ensinamentos de modo teórico. Nós devemos ser a boa terra semeada por Sua Palavra, produzir muitos frutos em função dela e difundi-la para a construção do Reino de Deus.
Lembro-me de uma reunião que R. falou, de uma reunião em família que ela participou e na qual foi abordada a parábola do joio e do trigo que Jesus ensinou. Ela disse que nessa família existe muito conflito, chega ao ponto de filho não falar com pai, de o ódio fazer morada no coração dos parentes. Fiquei pensando que essa foi uma oportunidade excelente para todos fazerem uma reflexão sobre o ensino de Jesus e verificar se o coração de cada um está pronto para receber a semente, sem pedras ou espinhos, com terra suficiente para a semente germinar e resistir ao calor do sol e ao bico dos pássaros.
Imagino que se eu estivesse presente poderia dar uma boa contribuição, pois as minhas falhas são muito parecidas com aquelas que são tão criticadas naquela família.
Na minha vez de falar, eu diria que recebi as sementes que Jesus plantou em meu coração, as Palavras que Ele ensinou no seu Evangelho. Diria que em determinado momento da minha vida, eu casado, envolvi-me por amor com uma pessoa e acidentalmente foi gerada uma filha. Escapei de cometer um erro maior ainda, de contribuir para o seu aborto. Mas o meu coração tinha a semente de Jesus. Aceitei a condição de ser o pai dela com coragem e Amor, reconheci-a como minha filha e a considerei igual a todos meus outros filhos. Contei a verdade e fui criticado, acusado, até expulso de casa. Mas como a semente de Jesus estava germinando dentro do meu coração, não tive raiva, ódio ou ressentimento de ninguém, por mais que eu soubesse que todos que me acusavam sabiam que isso poderia acontecer, que o meu amor não é exclusivo de uma só pessoa. Eu não gerei nenhuma raiva em função dessa incoerência. Continuei apegado a Palavra de Amor que Jesus ensinou e me esforcei para colocá-la em prática com quem eu estivesse, fosse amigo ou adversário.
O ponto mais forte onde a minha semente foi testada se estava plantada em boa terra, foi quando meu filho passou no vestibular. Todos os seus irmãos podiam telefonar para ele e parabenizá-lo. Somente esta minha filha, nascida nessas circunstâncias preconceituosas, não poderia telefonar para ele e parabenizá-lo. A semente de Jesus não permitia que eu tivesse ódio dessas pessoas que causavam isso, ou que brigasse com elas por se comportarem assim. Eu sentia que eram os espinhos que estavam ameaçando a plantinha que crescia em meu coração. Mas como ela estava em boa terra, resistia a essas espinhadas e não deixava crescer o ódio, mesmo que por dentro eu sangrasse. Participei da festa que eles fizeram de imediato, ao meio dia, com os olhos turvos de tristeza... mas não de ódio! Ninguém ao meu redor conseguiu perceber a minha dor, talvez até intuíssem, mas o que eu fazia por amor eles deturpavam que eu fazia por interesse sexual. Ninguém perguntava se essa minha filha rejeitada naquela casa já havia ligado para o irmão, pois sabiam que os outros irmãos já o fizeram. Eu estava só, sofrendo o calor daqueles preconceitos, maior que o calor esturricante do sol; sofria o riso e a alegria de todos, como facadas na minha tristeza. Mas a semente que Jesus plantou continuava a emitir o Amor apesar de tudo. Não deixei de amar ninguém daquela casa, por mais que me torturassem dessa forma.
A minha mente dizia que eu estava certo em seguir o Amor ensinado e plantado em meu coração por Jesus. Mas dizia que eu não podia ser injusto com minha filha, não podia aceitar de forma passiva tudo que queriam fazer para comemorar a vitória do meu filho, sabendo que ela, minha filha, estava no ostracismo injusto, pois ela não pedira para ficar nessa situação. Então decidi. Não iria participar da festa que eles estavam planejando para o meu filho em um restaurante durante a noite. Era a noite planejada para eu estar com ela e não iria cancelar o encontro em função dessa festa comemorativa. Iria ao encontro dela, diria do sucesso do seu irmão e pediria desculpas por ela não ter podido ligar na hora que todos souberam do resultado, como os demais irmãos fizeram. Era a minha forma de corrigir a injustiça que eu sabia que ela sofria. Todos me criticaram por eu ter feito isso, inclusive a minha filha, pois mostrou que saberia muito bem suportar tamanha agressão à sua inocência. Suportei essa crítica geral sobre isso que fiz, mas a minha consciência estava ao meu lado. Ela mostrava para mim que eu fiz o correto, fiz o que a plantinha de Jesus em meu coração sugeriu; que eu não odiasse ninguém, que não ficasse ressentido com ninguém, que continuasse a amar a todos. Mas, essa mesma plantinha dizia que eu devia ser justo, que a minha filha por mais inocente que fosse, que não exigisse a minha presença perto dela naquele dia, que tolerasse os preconceitos que sofria sem retaliar ninguém, eu deveria ficar perto dela. Mesmo que isso trouxesse consequências, como trouxe. Fui expulso literalmente de casa sem direito a nada, sem levar nada, a não ser aquilo que exclusivamente me pertencesse, como livros e roupas; sem direito de voltar para falar com ninguém, com filho, cachorro ou papagaio; os próprios parentes foram proibidos de se relacionarem comigo. Agora tenho ao meu favor apenas o tempo como advogado.
Hoje moro só em um apartamento. Sei que foi essa plantinha que Jesus plantou em meu coração e que encontrou terra boa, que causou toda essa revolução. Eu vivo só, mas vivo cercado de amor, tanto dou como recebo. A plantinha de Jesus serve de amuleto para espantar o mal, o egoísmo do meu coração. Continuo a amar a todos, inclusive os meus carrascos, com a pureza do Amor que o Pai me dá.
Terminaria a minha fala dizendo a todos que pela primeira vez eu tinha feito uma exposição pública com tanta profundidade dos efeitos da semente que Jesus plantou em meu coração. Esperaria que cada um fizesse a sua reflexão, o que está fazendo com a semente que Jesus também semeou em cada coração. Espero que cada um esteja cultivando tão bem como eu sinto que estou fazendo, sem ter raiva e ódio de ninguém, sabendo tolerar os erros dos outros para ser digno do Pai tolerar e perdoar os meus próprios erros.