Ontem faleceu o meu amigo. Não digo meu irmão, porque não acrescenta muita coisa, todos nós somos irmãos. Mesmo assim eu poderia usar esse termo, pois nós nos considerávamos como irmãos daquela família espiritual que Jesus falou: “Quem é minha família, quem é minha mãe e meus irmãos, são vocês que estão aqui e que fazem a vontade do Pai.”
Assim era meu amigo, ele fazia a vontade do Pai como eu também tento fazer, talvez não com o brilhantismo e dedicação que ele fazia. Mas, na sua humildade, ele me considerava o mestre, e sei que ao fazer isso ele me confortava e ao mesmo tempo adquiria joias para o seu tesouro espiritual. Tesouro que agora ele está levando, sem medo de ser assaltado ou de ser corroído pelas traças ou pela inflação.
Sei que ele tinha os seus pecados como todos nós, mas o cobertor de Amor que ele tecia nos seus últimos anos de vida corporal era enorme, dava para cobrir muito bem o tanto de pecados que ele possuía.
Interessante, não sinto nenhum desespero nessa partida. Sei que meu amigo não desapareceu para sempre, ele apenas mudou de dimensão, do mundo material para o mundo espiritual, uma viagem que todos nós faremos e que espero encontrá-lo à minha espera quando chegar a minha vez.
Na última vez que nos encontramos, foi a nossa despedida real. Ele já estava cansado, pouco podia falar. Peguei na sua mão e depositei um beijo na sua fronte. Senti o seu olhar carinhoso dentro dos meus... e ele não precisava falar! Vi a sua alma radiante e contente por minha presença e de minhas companheiras. Não vi medo pela partida que logo iria acontecer. Tanto ele quanto nós sabíamos que essa era a nossa despedida. Não iríamos ver mais aquele corpo com vida.
Foi ele que pediu para fazer a última prece antes de sairmos. Ficamos todos de mãos dadas a acompanhar o murmúrio do Pai Nosso entoado por ele. Foi um momento magnífico e pude verificar que o galardão espiritual do meu amigo era muito maior do que aquele que ele galgou na hierarquia militar.
Nossos corações estavam harmonizados com a perspectiva da sua viagem. Era como se ele estivesse no saguão do aeroporto a espera da hora de embarcar e nós com um lenço branco para acenar.
Adeus, meu amigo, este voo que você acaba de embarcar vai direto para a pátria espiritual. Pode abrir sua maleta quando chegar e vais encontrar montes de preces que aqui fazem os que te amam, que foram beneficiados pela convivência, pelo seu trabalho, pelo seu carinho, pelo seu amor. Podes dizer ao Pai que isso serve de abaixo-assinado por todos nós que oramos, de que tu mereces ficar do lado direito do trono.