Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
07/08/2014 08h59
OS DOIS SENHORES

            Jesus disse que ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro (Mateus 6:24).

            Essa lição de Jesus eu não posso levar muito ao pé da letra. A primeira ideia que passa pela cabeça ao ouvir essa lição e procurar praticar, é que não devo me envolver com nada do mundo, com o dinheiro. Muitos por pensarem assim se tornam reclusos do mundo, vivem isolados como ermitãos ou disciplinados dentro de alguma ordem religiosa.

            Tenho uma compreensão não tanto radical e que acredito seja aprovada por Jesus. Não é que eu tenha que desprezar um dos senhores, mas tenho que servir a um só deles. Isso significa que eu posso manter relações amistosas com os dois senhores, posso trabalhar com os dois, mas o meu compromisso vital deve ser com um deles. Isso permite que eu não me afaste do mundo se decido servir ao divino.  Esta é a minha prática e vou explicar com detalhes porque faço dessa forma e fico com a consciência plenamente satisfeita de que estou fazendo a vontade do Pai.

            Tenho uma série de tarefas, trabalhos e responsabilidades dentro do mundo material, dentro do mundano, de tudo que gera dinheiro. Tenho a consciência de ser filho de Deus e que sou discípulo do Mestre do Amor, Jesus Cristo. Ele ensina que eu estou servindo ao Pai quando estou aplicando o Amor Incondicional. Para aplicar o Amor eu tenho ao meu dispor diversas formas, inclusive o dinheiro. Então, minhas diversas atividades, o trabalho intenso que realizo para ganhar o dinheiro, não tem o sentido de deixá-lo acumulado numa conta poupança ou adquirir bens materiais para formar um belo patrimônio. Isso implica que o próprio trabalho é realizado como um meio, não vou a procura intensa da recompensa do dinheiro pelo que estou fazendo. Eu faço o trabalho e o dinheiro deve me seguir como uma consequência. Não vou fazer o trabalho e perseguir o dinheiro que ele pode oferecer como a meta final. O dinheiro é simplesmente uma ferramenta para que eu aplique o Amor na forma de solidariedade com o próximo.

            Um exemplo dessa atitude, que mostra que eu sirvo ao Senhor e não ao Dinheiro, foi com o acidente ocorrido na última semana quando eu bati com o meu carro em outro e tinha que pagar o prejuízo. O motivo do acidente foi a pressa para chegar a uma reunião na comunidade onde desenvolvo um trabalho voluntário, sem nenhuma remuneração ou perspectiva de recompensa material. Mesmo assim decidi não obedecer as normas do trânsito, de esperar a perícia chegar para afirmar o que eu sabia que era meu dever. Deixei os meus contatos com o motorista prejudicado e garanti, como fiz, que pagaria pelo conserto do estrago causado. Para algumas pessoas o valor cobrado parece ter sido acima do que era esperado, mas não tive nenhuma dificuldade em fazer esse pagamento e talvez ter sido explorado. Entendi que tudo estava se passando na seara do Pai e que Ele percebe nossas ações, e que foi feito o necessário para viabilizar a reunião que ficou ameaçada de não acontecer e de manter a harmonia com todos os envolvidos. O dinheiro foi uma peça chave para isso acontecer, e se eu fosse lutar para manter em meu poder mais alguns reias, não atingiria a harmonia que o Pai deseja e é a Ele que eu sirvo. Essa é uma prova real de que o dinheiro não é o meu Senhor, e sim o Pai divino, como Jesus ensinou.

            Então, eu poderia apresentar ao Mestre Jesus uma reformulação dessa lição, aplicada à compreensão moderna para a construção do Reino de Deus, da seguinte forma: “O mundo de nossas relações funciona na base de dois senhores, dois valores: o material e o espiritual. Enquanto o primeiro é motivado pelo egoísmo do crescimento individual, o segundo é motivado pela fraternidade que leva à evolução coletiva. Servir a Deus significa servir aos valores espirituais, promover a fraternidade e evitar sentimentos negativos como desprezo, raiva e ódio; significa ter a sabedoria para colocar a serviço de Deus todos os valores materiais ao nosso alcance”.

            Acredito que o Mestre aprova essa reformulação na maneira de explicar como devemos servir a Deus sem abandonar os valores materiais.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 07/08/2014 às 08h59