De onde vem a dignidade do homem? Sei que pertenço ao reino animal e dentro dele divido com os demais animais de seus instintos e necessidades. O que me diferencia do animal, enquanto homem, para justificar uma dignidade especial comparada com eles? É a maior capacidade de raciocinar, de lembrar-me do passado, comparar com o presente e projetar o futuro. Tenho a consciência da minha finitude corporal, mas que tenho um espírito imortal criado por Deus e destinado a ir ao Seu encontro com o aprendizado do Amor.
É este diferencial que os demais animais não possuem que caracteriza a minha dignidade. A minha espécie, a humana, possui esse diferencial, mesmo que seja em potencial. Todos possuem, dentro da normalidade, a mesma capacidade neurológica, mesmo que não tenha desenvolvido no psiquismo esses atributos psicológicos de natureza espiritual. É devido a esse potencial, mesmo que não esteja ainda desenvolvido ou até tenha sido danificado de alguma forma, que temos uma dignidade especial.
É este atributo psicológico e espiritual que faz a conexão mais íntima do homem com Deus e que pode assim ser considerado a Sua imagem e semelhança. Mas pode ser usado o atributo psicológico e direcionar o diferencial humano para outras explicações filosóficas longe de Deus ou mesmo não entender a perpetuação da vida após a morte do corpo físico. Fica claro que o entendimento do aspecto transcendental é um fator que nos afasta da condição material, imanente, e que necessita de aprendizagem para isso ocorrer. Por isso foi necessário a vinda de Jesus para explicar todos esses aspectos: da vida eterna, da filiação ao Pai, do mundo espiritual, da possibilidade e até obrigatoriedade da comunicação regular com esse Pai através da oração e meditação.
Como esse aprendizado diz respeito ao mundo transcendental onde o acesso é feito pela razão e pela fé, as pessoas precisam de professores e instrutores, dedicados e pacientes, como foi o caso de Jesus que ensinou e escolheu pessoas para dar continuidade as lições, como Paulo de Tarso. Paulo foi aquele escolhido pelo Cristo para ser o divulgador dessas lições por todo o mundo e que ele fez com todo o empenho. Dizia essa verdade em nome de Jesus Cristo, repetia sempre que não mentia, que a sua consciência dava o seu testemunho pelo Espírito Santo. Mas a dúvida estava sempre presente entre os pretensos alunos. Até mesmo Jesus se deparava com esse problema. Mesmo apresentando fenômenos que mostravam a Sua sintonia com um mundo e poder superior, os apóstolos ainda eram consumidos pela dúvida e pelo medo. É o caso da Sua aproximação caminhando sobre o mar. Quando os discípulos O perceberam caminhando sobre as águas, ficaram com medo e exclamaram: “É um fantasma!”, e soltaram gritos de terror. Jesus tranquilizou-os, dizendo quem era, e que não tivessem medo. Pedro depois que entendeu que realmente era o seu Mestre, pediu para ir para perto dEle por sobre as águas. Depois que recebeu a permissão, Pedro começou a caminhada, mas sentindo um vento mais forte, teve medo e começou a afundar. Foi preciso o Mestre lhe pegar com a mão e reclamar: “Homem de pouca fé, por que duvidaste?”
São essas barreiras do medo e da dúvida que até hoje impede uma boa compreensão e aceitação dessas lições. O homem se sente mais confortável ao lado das coisas materiais, mesmo sabendo que tudo é passageiro nesse mundo material, que tudo não passa de uma miragem a ser transformada ou destruída pela ação do tempo. Ao ficar nessa condição o homem perde muito da sua dignidade, mesmo que atinja altos níveis acadêmicos, profissionais ou mesmo eclesiásticos.