Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
12/08/2014 11h17
O PÓ DAS SANDÁLIAS

            Jesus disse aos Seus apóstolos que os estavam enviando como ovelhas no meio de lobos. Eu, como Seu discípulo, me sinto nessa condição e, portanto, devo ficar bem atento a essas lições. Ele advertia que devo ser prudente como as serpentes, mas simples como as pombas. Dizia que eu prestasse bem atenção ao comportamento humano, pois poderia ser levados aos tribunais e ser punido com as leis civis ou eclesiásticas. Advertia que eu iria ser levado por causa dos Seus ensinamentos diante de governadores, reis ou sacerdotes. Iria servir assim de testemunho para todos que não conhecem a lei do Amor, que vivem na ignorância da Verdade divina. Apesar dessa visão pessimista do futuro, Ele me deu a esperança para que eu não saia do caminho que o Pai me apontou e que decidi cumprir. Disse que quando eu fosse preso, não me preocupasse nem pela maneira com que havia de falar, nem pelo que havia de dizer: naquele momento não seria eu que falaria, mas o Espírito de nosso Pai que falaria em mim. Poderia até ser odiado por muitos por causa da aplicação das lições do Amor.

            Em outro momento Jesus diz que se eu for mal recebido devido praticar as Suas lições, saia logo dessa cidade, dessa casa. E na saída sacuda o pó das suas sandálias, ou sapatos, como sinal de protesto contra essa gente.

Não quero ver nessa lição um sinal de indignação ou de “lavar as mãos”, uma isenção de qualquer responsabilidade. Quero ver nessa recomendação um apelo à tolerância. Não é fácil falar, ensinar, demonstrar e não ser ouvido ou reconhecido. É deprimente ter a experiência de sentir a indiferença, raiva ou ódio daqueles a quem dedicamos cuidado, atenção e Amor... mas acontece. Não é questão de sentir-se superior, mas de entender que nem sempre quem recebe alguma coisa nova está preparado para acolher bem a novidade. Existe quem não tenha como me receber, não porque na realidade não queira, mas porque não entende ou não confia. E preciso respeitar isto! A minha conduta é diferente para quem me vê!

            Cada um tem uma imagem diferente do que sou, mesmo que eu seja uma pessoa honesta, sincera, verdadeira, única de caráter, e que me considero discípulo do Cristo e obediente à vontade que o Pai colocou na minha consciência. Mas as pessoas podem levar tempo para compreender isto... dias, meses e, até anos!

            Por isso, em certos momentos, não como desaforo ou represália, mas por tolerância e amor, é preciso tirar o pó das sandálias! Dar tempo, dar espaço, respeitar!

            Imagino quanta dor Jesus sentiu na cruz. Ele foi preso, espancado, xingado, cuspido, ofendido, traído, abandonado! Tinha todo o direito de se voltar ao “mundo” e dizer: “Vocês são ignorantes, não entenderam nada do que falei, do que fiz. São uns ingratos, não tem inteligência!”. Mas apesar de ter essa prerrogativa, preferiu tirar o pó das sandálias... não com arrogância, mas com generosidade e Amor, pedindo o perdão de Deus dizendo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”

            De certa forma, bater esse pó é deixar a semente no chão, na esperança de que um dia nasça; é registrar que a minha tarefa foi cumprida, e não há mais nada a fazer. Espero ter a sensibilidade de sempre tirar o pó das sandálias no momento certo, antes de ser posto fora da casa que entro com sandália, pó e tudo!

            Não posso correr o risco de passar da medida, insistindo com quem não tem condição de absorver mais do que pode... e quanta confusão acontecerá por isso!

            Para tirar o pó na hora certa é preciso que eu tenha a segurança de está seguindo as lições do Cristo e a vontade do Pai, e do que tenho como virtudes e defeitos. Sei que o potencial humano tem os seus limites e não sou tão diferente de ninguém, que vivo na carne e sofro os seus efeitos. É preciso que eu entenda que não é na hora, mas com o tempo que as sementes do Amor nascem, as plantas crescem, as flores surgem e se formam frutos que amadurecem.

            Não posso gastar sandália à toa, é preciso de vez em quando renová-la, retirar-lhe a poeira para que seja útil em outras paragens, em outro chão, com outro pó. Esta lição nunca foi tão necessária para mim, porque mais que na insistência, o crescimento e o resultado do Amor acontecem através da tolerância e do tempo. 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 12/08/2014 às 11h17