As lições de Jesus são cheias de paradoxos. Uma desses é aprender a servir para reinar. Nós aprendemos que os reis são pessoas acostumadas a serem servidas, isso aparentemente é o que caracteriza um rei. Jesus diz o contrário, que devemos servir, que aquele que deseja ser o maior entre todos no Reino de Deus, um rei, que aprenda a ser aquele que mais serve a todos.
Verificando com mais atenção essa lição e aplicando nas relações humanas, na estrutura da sociedade, pelo menos no que ela se propõe a ser, concluiremos que realmente é isso mesmo, um rei deve servir a todos os seus súditos, deve cuidar deles, estar sempre atento as suas necessidades. Deve chegar ao cúmulo de atender as necessidades dos outros e deixar as suas em segundo plano.
Ao dizer sim a vontade de Deus em minha consciência, me prontifiquei a servi-Lo com todo o meu ser, deixando o meu corpo como instrumento da Sua vontade. Como Deus quer ver toda a Natureza em harmonia, impregnando em tudo o Amor que é a Sua essência, sei que devo levar o Seu Amor para o próximo, como se fosse Ele em mim. Devo servir ao próximo como se fosse Deus, não me importando com o que possa me suceder. Fui chamado para assumir minha missão como filho de Deus, assim como todos os meus irmãos também têm essa oportunidade. Devo imitar Jesus como Francisco e Paulo fizeram, no cotidiano, fazendo a vontade de Deus e esquecendo as necessidades materiais, para assim poder assumir o meu lugar no Reino de Deus.
Este é o projeto que já está amadurecido na minha consciência, mesmo que ainda não o consiga praticar nos relacionamentos. Sei que o foco principal é este, servir para reinar, para ser livre dos impulsos e instintos materiais; sei que a bússola comportamental já tenho também ao meu alcance e que foi ensinada pelo Mestre Jesus: “não fazer ao próximo o que não quero para mim.”
Não consigo praticar isso que eu tão bem já sei, por causa da força biológica que ainda é grande dentro de mim e devido ao egoísmo externo que me fustiga constantemente quando me esforço para caminhar na trilha do Amor Incondicional. O resultado é que eu me vejo forçado a morar sozinho, sem o carinho e afeto de uma companheira constante devido ao apego corrosivo e a exclusividade que é exigida por todas elas, da ignorância ou incapacidade funcional de aplicar a Lei do Amor em todas as áreas da vida.
Mas eu já descobri o Reino de Deus como um tesouro preciosíssimo e que não devo abandoná-lo por nada deste mundo material. Estou disposto a abandonar todos os bens materiais ou afetos incoerentes que se coloquem como obstáculo a tomar posse desse tesouro. Devo evitar a armadilha mais perigosa; é que no Amor que eu desenvolver com o próximo, não devo cair na rede do exclusivismo. Devo atentar que o Amor que eu distribuo sempre tem o caráter da incondicionalidade, isto é, não pretende receber nada em troca. Pessoas dos meus relacionamentos podem também distribuir amor em minha direção, mas contaminado com o desejo de reciprocidade, de diferenciação, de exclusivismo. Essa é a armadilha. Se eu caio nela, pensando que fazendo isso com o próximo que naquele momento exige esse retorno, eu estou praticando o “amar ao próximo como a si mesmo”, é falso!. Falso porque eu não amo dessa maneira, portanto não posso Amar essa pessoa que não ama como eu amo, da maneira que eu amo a mim. Pode parecer mais um paradoxo da Lei do Amor Incondicional, mas é justamente isso que a lógica e o sentimento do coração apontam. Aquela pessoa que me deixa livre para eu aplicar o Amor com outras pessoas que estejam à distância, é essa que mais se aproximará do meu coração incondicional. Mas talvez eu não consiga encontrar ninguém com esse perfil nessa atual encarnação, porém, enquanto isso, não serei desonesto com meus princípios. Acima de tudo estou focado na conquista de meu espaço no Reino de Deus, na forma de servir para poder reinar; mas esse servir tem de ser incondicional, pois ele é o músculo do Amor. Quem desejar um servir exclusivo, sem querer está colocando uma armadilha no meu caminho que eu devo evitar a todo custo, com carinho e compreensão, mas com firmeza e determinação.