Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
28/08/2014 10h15
QUEM É O MEU SENHOR?

            Jesus afirmava em suas lições que não se pode servir a dois senhores, a Deus e a Mamon. Observamos que Mamon é um termo derivado da Bíblia, usado para descrever a riqueza material ou cobiça. A própria palavra é uma transliteração do hebraico que significa literalmente dinheiro.

            Acredito que Jesus usou essa comparação para facilitar o entendimento da época sobre aquilo que Ele queria ensinar sobre a força do egoísmo sobre nós. Hoje nós temos uma melhor compreensão dessas lições frente ao progresso trazido pela ciência e tecnologia. O discípulo fiel às lições de Jesus como eu quero ser, e dando a sua devida colocação dentro da atualidade, vai entender que o verdadeiro senhor que se contrapõe a Deus é o próprio Corpo que temos que administrar. É do Corpo que nasce o egoísmo e dele vem a procura pelo dinheiro que compra as necessidades e facilidades desejadas.

            Então hoje eu posso atualizar a lição de Jesus colocando a advertência: não se pode servir a dois senhores, a Deus e ao Corpo. Tudo que o Corpo exigir em excesso e sem respeitar as necessidades do próximo, vai de encontro a Deus, mostra que estamos servindo ao outro Senhor. Se quero servir a Deus, tenho que me colocar em vigilância com os excessos exigidos pelo meu corpo, que na busca de segurança e prazer coloca a aquisição de dinheiro e bens materiais como prioridade.

            Tenho me colocado a partir de certo momento, e cada vez mais aprofundo essa convicção, de que sou um filho de Deus, consciente de minha condição biológica e espiritual, e disposto a servir ao Pai, a fazer a Sua vontade, ao invés dos desejos do Corpo por Ele criado. Essa condição me deixa numa situação de confronto comigo mesmo em muitos momentos, públicos ou privados. Devo aparentar uma perfeição de obediência a Deus e escondendo o que meu corpo exige e que pratico nas escondidas? Essa é outra advertência que Jesus faz, de que não sejamos hipócritas, iguais aos túmulos, caiados e branquinhos por fora, e podre por dentro.

            Deus colocou em minha consciência a missão de aplicar o Amor Incondicional conforme Jesus ensinou em todas as situações, principalmente nas relações íntimas que levam a família universal e construção do Reino de Deus. Que eu fosse prudente como as serpentes e simples como as pombas, mas que não deixasse a luz que possuo, por pequena que seja, debaixo da cama e sim num local onde todos possam ver.

            O trabalho que tenho diariamente na confecção deste diário, segue a esse propósito de Deus em minha vida, de colocar a luz desses ensinamentos ao alcance de todos, para que possam usar como lições no seguimento correto das lições evangélicas. Não é que eu me considere o correto, mas para mostrar toda a dificuldade que o ego e a sociedade coloca de não desnudar os podres que estão escondidos na forma de desejos inconfessos, mas muitas vezes praticados na clandestinidade.

            Os desejos do senhor Corpo que frequentemente estou atendendo são relacionados com a gula, a preguiça, o sexo. Faço um esforço para combatê-los, sempre colocando a vontade de Deus como prioridade em minha vida. Daí desenvolvi estratégias para conter esses desejos, como jejum, trabalho em excesso, e masturbação. Dessas três estratégias a última pode ser considerada uma podridão dentro do corpo, afinal eu não poderia simplesmente ficar em abstinência ou entrar no celibato? Afinal muitos fazem assim. Mas entrei em acordo com o meu Corpo com o aval de Deus, pois a masturbação não atinge a ninguém, é apenas uma ação imaginativa e que mesmo assim procuro seguir sempre os princípios do Amor, a regra básica que Jesus ensinou: “não fazer ao próximo o que não deseja para si”. Isso atende ao meu Corpo e sinto que tenho a aprovação do Pai. Mas, se isso tudo que faço com essa compreensão, não é simplesmente uma estratégia do Corpo para influenciar a minha mente e assim ele atingir o prazer do orgasmo, iludindo o meu Espírito, de que é isso que o Pai quer? Sempre eu fiquei com essa dúvida, pois geralmente quando vinha na minha mente esse questionamento, entrava sempre a argumentação de que o ato sexual era da fisiologia, da lei de Deus, e que se eu não estou prejudicando ninguém não tenho porque omitir. E sempre o orgasmo desejado era alcançado.

            Ontem entrei em xeque com nova confrontação dos meus desejos corporais com a vontade do Pai. Estava prestes a iniciar mais um ato masturbatório, tinha o estímulo necessário que sempre surge das minhas diversas relações, independente do tempo, presente, passado, futuro; independente da dimensão, espiritual ou material; independente de qualquer circunstância, desde que a mente fantasie uma situação propícia do Amor Incondicional. Estava fortemente motivado para agir assim quando surgiu na minha mente a advertência de Jesus: não podemos servir a dois senhores, a Deus e ao Corpo. Então o meu Espírito assumiu o comando da situação e passou a investigar as motivações que dominavam a minha mente. O prazer eminente que eu iria alcançar não colocava obstáculos, era mais uma oportunidade que eu iria aproveitar, mais um orgasmo que o Corpo iria gozar. Esse era o desejo desse senhor. O que o Pai dizia a esse respeito, permitiria? Fiz essa indagação. Recebi a resposta com certa explicação: “Você sempre está fazendo a vontade do Corpo entendendo que é a minha vontade; então agora, Francisco, disse Ele, não terás esse prazer. É a minha vontade!”

Neste momento senti bem claro na consciência o conflito entre os dois senhores: o Corpo e Deus. Ninguém mais estava a testemunhar esse embate. Somente o meu espírito era quem poderia decidir a quem atender. Se eu atendesse ao Corpo, ninguém iria saber, o Pai iria me perdoar, pois é da essência dele e todos ficariam satisfeitos. O Corpo porque tinha alcançado o prazer desejado, o Pai porque exerceu Sua capacidade de perdoar mais uma vez, e eu ficaria isento de qualquer culpa, ninguém saberia do ocorrido e para todos eu seria a pessoa decente que não se deixa contaminar pelo sexo; seria um túmulo caiado; por fora cheio de perfeição no campo sexual, e por dentro cheio de desejos e práticas inconfessáveis. Mas o meu Espírito considerou que se eu fosse a busca desse prazer, mesmo tendo ouvido a negativa do Pai, era porque eu estava servindo ao outro senhor. Não poderia mais dizer que eu estou fazendo a vontade do Pai, que sou instrumento da Sua vontade, seria uma hipocrisia. Mesmo que eu fosse perdoado logo em seguida. Não! Eu tinha que mostrar que o meu Senhor é Deus e que faço a Sua vontade. Talvez em outras ocasiões eu nem tenha ouvido a voz dEle me advertindo, mas agora eu ouvi e tenho que obedecer. E tinha que divulgar aqui para que todos saibam que eu também sou como um túmulo, com muitos podres ainda por dentro, mas não tão caiado por fora. Consegui afirmar quem é o meu Senhor!

            Talvez isso me dê o mérito da compaixão.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 28/08/2014 às 10h15