Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
20/09/2014 23h59
LIMPEZA DO CORAÇÃO

            Observei uma rusga entre minhas companheiras, antes de chegar a nossa reunião rotineira das sextas feiras, neste último dia 19-09-14.

            A rusga foi a seguinte: iniciou por um comentário que fiz quando já nos dirigíamos para o local da reunião, que devia comparecer um homem na minha sala na qual reúno com os dependentes químicos. Esse homem não é dependente químico, dizia eu, mas sofre de uma dependência afetiva com relação a esposa. Essa declarou que não está satisfeita com o casamento, sem apresentar nenhum outro motivo a não ser essa insatisfação íntima. Apesar dos dois filhos que ambos possuem, ela está disposta a terminar o casamento e cada um viver a sua vida. Esse homem mostrou a forte relação de dependência afetiva que tem com a esposa e caiu em depressão sendo necessário ir à psicoterapia com psicólogo e daí ele me encaminhar, pois na condição de psiquiatra eu poderia ajudar com a prescrição de medicamentos. Foi então que eu, percebendo o seu grau de dependência, o convidei para participar de nossa reunião. Expliquei que o foco da reunião era sobre dependência química, mas como ele apresenta também um tipo de dependência podia ser muito útil a sua participação. Ele se mostrou interessado e disse que iria comparecer. Por isso fiz o comentário às minhas companheiras.

            A partir daí ela passaram a fazer comentários sobre a melhor forma de convivência, que cada pessoa tinha o direito de escolher a vida que queria viver, sem ser obrigado a conviver com ninguém. Eu sentia nessa linha de argumentação uma defesa da esposa do homem e que ele estava certo ao procurar uma ajuda para sair de forma fraterna daquela angústia em que tinha se colocado. Minhas companheiras reforçaram que era difícil realmente a convivência na relação conjugal, sempre aconteciam motivos para se instalar o conflito no casal. Nesse momento eu reforcei o pensamento delas com o exemplo com a minha segunda esposa. Havíamos entrado em conflito na forma de amar, eu de forma inclusiva, um casamento aberto; ela de forma exclusiva, um casamento fechado. Como não queríamos nos separar e achávamos boa a convivência um ao lado do outro, fizemos um acordo de viver como amigos, sem sexo e com determinado horário de eu voltar para casa, com um dia onde eu dormiria fora do lar. Tentamos cumprir esse acordo com muita dificuldade durante oito anos, até que um dia ela explodiu em ódio e me expulsou de casa para nunca mais voltar, para nem mesmo dirigir a palavra para ela. Se pudesse evitava até o meu contato com seus amigos, com seus parentes e até com o nosso filho. Tentei mostrar assim as minhas companheiras do momento o meu esforço para manter uma convivência com base no amor, mesmo que não tivesse o forte apelo sexual.

            Mas a minha primeira esposa, que hoje é minha companheira fraterna, que me acompanha solidariamente em todas as atividades, sem nenhum apelo para a vida sexual, passou a falar de sua experiência como um estilo de vida a ser respeitado por todos. E ao falar da sua forma rígida de pensar, que coincide com a forma de pensar da minha segunda esposa, dizia que a forma que eu quero viver nenhuma mulher aceita, que nenhuma é honesta quando diz que é possível se viver assim, pois na minha frente defendem a ideia e quando eu não estou presente é mais uma a me atacar quanto a forma de pensar e, principalmente, atacar aquelas que se aproximam de mim depois delas. Este foi um ataque direto a outra minha companheira que já estava mostrando solidariedade a minha forma de pensar com relação a minha segunda esposa. A partir desse momento os ânimos de ambas ficaram exaltados e só parou a rusga porque já estávamos entrando no ambiente fraterno da reunião.

            Foi aí que eu percebi mais uma vez o efeito do ressentimento que se instalou no coração da minha primeira esposa, desde o dia que ela me expulsou de casa e eu não mais voltei. Ela sempre aproveita uma ocasião para tentar me expor de forma negativa, que a minha forma de amar é destrutiva e desrespeitosa para as mulheres. Eu que sempre vivi sintonizado com o Amor e por esse motivo me envolvi com tantas pessoas que despertavam em mim o afeto, passava agora a ser vitima de uma espécie de amor diferente, um amor carregado de apego, de exclusivismo, de intolerância, de revanchismo. Vi que até hoje, com todo o exercício do Amor que eu prego, procurando seguir as lições do Cristo e bem explicado por Paulo na sua carta aos coríntios, ainda existem fortes chamas de ódio que ficou contido, mas não destruído dentro do coração dela.

            Como fazer para limpar o coração da distorção do Amor que o faz se transformar em condicional? Eu tenho que aprender essa lição! Por que eu fiquei livre desse amor condicional, que respeito acima de tudo o Amor Incondicional como expressão do próprio Deus, e os meus irmãos não conseguem? Será que eu sou o único errado nessa história? Se todos pensam como todos, será que eu que penso como ninguém não estarei errado? Ninguém, vírgula, pois eu penso como Jesus, como Paulo, como tantos outros que seguiram os passos deles. Sei que nosso coração humano está contaminado com milhões de anos de vida animal, lutando pela sobrevivência nas selvas e pradarias, sobre as árvores ou dentro de cavernas... Hoje que moramos em casas modernas, apartamentos luxuosos, com todo o conforto da tecnologia, ainda não limpamos o coração da “sujeira” do egoísmo animal que impede a formação do Reino de Deus. Sei que não sou perfeito, que sou cheio de defeitos, e isso impede de ser uma boa ferramenta para os propósitos de Deus. Mas quanto a forma de amar, de reconhecer o Amor verdadeiro que flui do coração do Pai para todos os seus filhos, isso eu acredito que tenha alcançado uma boa compreensão. Mas como ajudar aos meus irmãos, de preferência aos mais próximos, as minhas companheiras principalmente? Como fazer a limpeza do coração? 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 20/09/2014 às 23h59