Estou digitando este texto no domingo, dia 05-10-14, dia das eleições. Já tinha rascunhado três textos na sexta feira dia do feriado dos mártires de Cunhaú, aqui no Rio Grande do Norte, era somente agora fazer a digitação e agendar no Recanto das Letras. No entanto, por um aspecto misterioso, não consegui encontrar esses textos rascunhados que acabara de colocar sobre a mesa. Não tenho explicação para esse desaparecimento. Então fui votar, frustrado por não ter encontrado esses rascunhos e enquanto estava esperando minha vez de entrar na cabine de votação, fiquei atualizando a leitura dos textos bíblicos da agenda que uso. Dizia assim o texto que li:
Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaída! Porque se em Tiro e Sidônia tivessem sido feitos os prodígios que foram realizados em vosso meio, há muito tempo teriam feito penitência, cobrindo-se de saco e cinza. Por isso, haverá no dia do juízo menos rigor para Tiro e Sidônia do que para vós. E tu, Cafarnaum, que te elevas até o céu, serás precipitada até os infernos. Quem vos ouve a mim ouve; e quem vos rejeita a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou.
Aos poucos fui compreendendo a lição política que existe na essência do texto e talvez tenha sido esse o objetivo de não ter achado meus rascunhos. Corozaim, Betsaída e Cafarnaum eram cidades próximas que formavam o triângulo evangélico onde Jesus desempenhou parte significativa de Sua vida pública, dos prodígios, mas se insurgem dentro da incredulidade. Mesmo tendo sido em Betsaída que Jesus multiplicou os pães e os peixes e alimentou cerca de cinco mil pessoas e também se localizar nessa região o monte das bem-aventuranças. Poderiam até fazer marketing como se faz hoje com algumas cidades, como por exemplo: “Cafarnaum, campeã mundial dos milagres”, “Betsaída, Terra da Bênção” e “Corozaim, Lugar de Prodígios” da mesma forma que se faz de Natal (Cidade do Sol) e Rio de Janeiro (Cidade Maravilhosa). A propaganda não seria mentirosa, pois foram nessas três cidades, Cafarnaum, Betsaída e Corozaim onde Jesus operou a maior parte de seus milagres. Mas pelo seu grau de incredulidade eram piores que as cidades pagãs de Tiro e Sidônia, semelhantes à Sodoma e Gomorra.
Então entendi porque Jesus falou assim, pois Ele foi pessoalmente a essas cidades, ensinou, fez milagres e, no entanto, não acreditaram e isso foi um sério agravante. Ora, se o propósito do milagre é confirmar a mensagem do Cristo e produzir o reconhecimento no espírito grato, que tendo recebido o milagre é a quem mais deverá ser cobrado. E infelizes daqueles que dependem de um milagre para crer, e pior ainda quando recebem o milagre e não creem. Feliz daquele que não viu, mas acreditou; não recebeu milagres, mas assim mesmo acreditou, como disse Jesus ao repreender Tomé.
Entendi porque Jesus foi tão rígido com o conhecedor insensível, que considerou pior do que o ignorante nativo que adora o sol e a lua, pior do que o tarado sodomita que queria fazer sexo com o anjo. Esse conhecedor insensível recebe milagres em sua igreja, fala com anjo, vê anjo, passeia com anjo, e nem assim se arrepende do mal que praticou nem se lamenta por suas tortuosidades diante de Deus. Permanece dentro do seu pecado do orgulho e vaidade, apesar de todo esforço feito para lhe levar a Verdade.
Então entramos na ação política de Jesus quando Ele repreende com vigor às cidades do triângulo evangélico à beira do lago e enviou os setenta e dois discípulos em missão junto aos pecadores com toda Sua autoridade: Quem vos ouve a mim ouve; e quem vos rejeita a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou.
Estou agora em pleno trabalho comunitário de natureza cristã. Como aquelas cidades do triângulo evangélico, eu vou encontrar pessoas que já conhecem o Evangelho e muitas já foram beneficiadas por milagres em suas igrejas ou no ambiente do lar ou do trabalho. Agora é tempo de aplicar esse conhecimento na prática dos relacionamentos comunitários como forma de construir a sociedade fraterna como modelo para o Reino de Deus. Como aconteceu há 2000 anos quando Jesus escolheu doze pessoas para ser o núcleo do trabalho e disseminou de forma mais ampla os 72 para levar o Evangelho a todo o mundo, assim também Deus tocou no coração de pessoas que estão formando o núcleo de trabalho na comunidade de Praia do Meio e com certeza mais adiante teremos os 72 que irão atingir a comunidade como um todo.
Esta é a política que Deus quer que façamos, sem a preocupação de alcançarmos cargos políticos mundanos, mas com a autoridade de levar a luz para os ambientes mais diversos possíveis, mesmo que esses ambientes pensem que já estão iluminados, como pensava Cafarnaum.