Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
11/10/2014 00h01
NOVA SOCIEDADE

            Está no sangue, no inconsciente e na alma o desejo de vivermos uma sociedade mais justa e solidária. Jesus trouxe as lições de como atingir esse Reino de Deus. Cantores como Raul Seixas colocam em momentos de inspiração músicas como “A Maçã” e “Sociedade Alternativa”, um pequeno retrato de como seria essa sociedade. Pacientes que chegam ao meu consultório colocam nos seus dilemas existenciais e familiares, conjugais principalmente, a necessidade de uma mudança no estilo de família que construímos e que queremos manter pura, mas cheia de hipocrisia.

            A família nuclear que é formada obedecendo a uma tradição milenar, é o principal esteio para a sociedade que vivemos atualmente. Acontece que essa família nuclear está alicerçada num tipo de desvio do Amor Incondicional, o amor romântico, que tem uma forte carga de egoísmo e exige a exclusividade na doação de afetos, principalmente dos afetos libidinosos, sexuais.

            Para ultrapassar os obstáculos que impedem uma sociedade fraterna, temos que controlar e subjugar a força dos nossos instintos que deseja para si a exclusividade do outro como se fosse uma posse sua, para garantir que os filhos que surjam sejam de fato os seus filhos. Compreender e aceitar que a minha companheira possa se envolver afetiva e sexualmente com outra pessoa, e vice-versa, é o núcleo central dessa transformação, desde que isso seja feito na base do respeito e seguindo o artigo maior da lei do Amor Incondicional: não fazer ao outro o que não quero que façam a mim.

Vivo essa experiência com muita dificuldade, apesar de ter atingido um alto grau de compreensão em que o envolvimento da minha companheira com outra pessoa, ao invés de trazer-me raiva e ciúme, traz-me aceitação e solidariedade. Fico feliz com a felicidade de minha companheira, caso ela se mostre feliz ao lado de outra pessoa por alguns momentos ou para sempre, que queira logo voltar para mim ou não. No entanto, não consegui que nenhuma de minhas companheiras atingisse até o momento atual esse estágio de compreensão. O amor romântico que elas desenvolvem dominam o psiquismo e deixa surgir sentimentos negativos de ciúme, raiva, ressentimento, revanche, vingança. Isso tende a destruir o relacionamento e a formação de uma família com essa nova perspectiva, e, portanto, longe de alcançar a formação do Reino de Deus.

A missão que Deus colocou em minha mente é a de construir essa nova sociedade com base na nova família. Devo estar sempre atento para que o desejo ainda fortemente ligado ao egoísmo não desvirtue o meu objetivo. Qualquer aspecto que for colocado na conversa do cotidiano, deve logo ser esclarecido o seu sentido quando esse for contrário ao amor inclusivo do Amor Incondicional. Caso eu não faça esse esclarecimento de imediato, pode ser entendido que eu aceitei as condições de voltar para o exercício do amor romântico, e, consequentemente seria destruído todo o trabalho e esforço que acumulei com quantas pessoas e por tantos anos.

Sei que agindo assim com essa firmeza em função desses princípios, irei causar  muito constrangimento e sofrimento de pessoas que me amam e que desejam viver a vida toda exclusivamente comigo, se eu também decidisse fazer o mesmo.

            Mas, aceitei construir essa nova sociedade e mesmo que fique por tempo indeterminado sozinho, que seja abandonado ou evitado, que assim seja. Afinal sofrimento maior passou Jesus quando veio somente avisar dessa possibilidade e ensinar os meios de como fazer isso. Atualmente tem muita gente que conhece bem o Evangelho e pode num gesto de honestidade e solidariedade, ajudar a carregar a minha cruz.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 11/10/2014 às 00h01